Saturday, November 26, 2011

QUESTÕES DE CONFIANÇA

O Presidente da República vem, desde há algum tempo, insistindo em três questões que considero essenciais à compreensão do nosso futuro imediato, já que a longo prazo terão de ser outros a contar a história.   

A primeira, repetida aqui numa mensagem inscrita ontem no facebooktrata-se de pedir ao BCE que actue como “lender of last resort”, tal como o fazem os bancos centrais dos EUA, do Reino Unido ou do Japão.

Quando, pela primeira vez, Cavaco Silva colocou a questão nestes termos, não foram poucos os que duvidaram da sua sanidade mental. Porque, evidentemente, colocado desta maneira, o pedido tem o endereço errado. O BCE rege-se por estatutos, que admitamos sejam obtusos, não consentem aos seus governadores a disponibilidade ilimitada que caracteriza o "lender of last resort". Toda a gente, minimamente informada, sabe que esse consentimento depende, antes de mais, dos alemães. E os alemães, pelo discurso de Angela Merkel, continuam a reafirmar a sua oposição total a ir por ali. Querem mudar os tratados, vão discutir isso com os outros países membros no próximo dia 9, mas o BCE não será, pelo menos nos tempos mais próximos, "lender of last resort".

Olli Rhen, comissário europeu dos assuntos económicos e monetários pediu reacção rápida da Itália e Merkel e Sarkozy admitiram em Estrasburgo que o colapso da Itália levaria ao fim da moeda única. (aqui)
Colocada a questão nestes termos, duas, e só duas, alternativas são admissíveis: Ou os investidores (especuladores, para quem preferir) baixam a parada, reagindo de forma inédita,  e os juros da dívida são suportáveis, e a crise amaina; ou a escalada mantém-se, apesar da reacção da Itália, e o euro colapsa. A menos que, com mais cosmética regulatória, o BCE, não sendo regimentalmente"lender of last resort" o passe a ser de facto por força insuperável das circunstâncias. Se não a caturrice alemã leva o barco ao fundo e nem os alemães se salvarão do naufrágio.

A segunda insistência de Cavaco Silva refere-se à exigência de equidade na distribuição dos sacrifícios impostos pela austeridade, da garantia de coesão social, ameaçada em tempos de crise, e da prevenção das consequências de uma espiral infernal  que a austeridade pode desencadear.

A terceira recomendação insiste no entendimento entre o Governo e o PS na fixação dos objectivos do OE para 2012 e na concertação com os parceiros sociais.

Por estranho que possa parecer, estas sugestões (não podem passar disso) têm sido recebidas com manifesto desconforto por parte do PSD e do Governo. O seu cumprimento, contudo, do meu ponto de vista, que há muito venho anotando neste bloco de notas, são condições essenciais à sobrevivência da União Europeia e, entre nós, à recuperação da confiança perdida.

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