Sunday, November 13, 2011

UM VIAGRA CHAMADO DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL

Pensei em alinhavar hoje (mais) uma nota sobre o poder do elixir que o prof. Ferreira do Amaral vem persistentemente recomendando para a recuperação da competitividade da economia portuguesa e que ultimamente tem ganho muitos adeptos: a saída do euro, a volta ao escudo, a desvalorização cambial como viagra de uma economia actualmente parcialmente impotente.  Mas desisti.

Desisti, porque quase desde quando iniciei este bloco de notas tenho insistido que a desvalorização cambial nunca é solução para o crescimento económico sustentado, nem sequer para a sobrevivência a médio prazo para empresas que alicerçam a sua competitividade no aproveitamento de políticas que favorecem a subsistência de salários baixos. Relendo uma dessas primeiras notas sobre o tema (vd aqui), concluo que, voltando a ele, forçosamente me repetiria. 

 Em outras notas admiti, como continuo a admitir, que o euro será um dia destes o bode expiatório a abater quando a nossa incapacidade colectiva desistir de identificar e atacar as causas da crise estrutural que tolhe o crescimento económico e social do país. Nesse dia o prof. Ferreira do Amaral será consagrado o demiurgo oficial do retorno a uma ordem económica que nunca deu bons frutos neste país nem em qualquer outro.

Dizendo isto, não quero ignorar que o ajustamento dos desequilíbrios gerados pelas transacções internacionais sempre se fez pelos ajustamentos cambiais entre os países. Mas esses ajustamentos se actuam sobre o reequilíbrio dos saldos comerciais suportados pela concorrência entre os custos unitários do trabalho não determinam, só por si, efeitos de crescimento económico. Os ganhos de competitividade cambial são sempre transitórios e correspondem sempre à redução efectiva dos custos do factor trabalho das empresas sujeitas à concorrência nos mercados. De outro modo não haveria aumentos de competitividade decorrentes da desvalorização das moedas. 

A integração europeia, para ser bem sucedida, pressupunha a adopção de políticas que prevenissem os efeitos perversos de uma moeda forte sobre uma economia desprovida do mecanismo de ajustamento automático cambial. O aviso desse perigo foi feito à partida, quando se constituiu o sistema monetário europeu, mas foi geralmente esquecido.

Agora que os resultados desses efeitos estão à vista a tentação mais à mão é o recuo. A demagogia acaba quando acaba o dinheiro que a sustenta. Antes, contudo, abate o bode expiatório.

No comments: