A democracia não é uma garantia inabalável porque não é um facto irreversívelmente adquirido por mais que as circunstâncias passam dar uma ilusão da sua perenidade.
Nas últimas semanas, o desenvolvimento acelerado de acontecimentos tem evidenciado a complexidade do labirinto em que nos encontramos e as dificuldades que se colocam à descoberta de saídas que evitem que o pânico se instale e a guerra (sim, a guerra) entre os sitiados pela crise volte à Europa, paradoxalmente, provocada pelo desenvolvimento das instituições iniciadas há sessenta anos para a prevenir.
A ameaça agudizou-se com a entrada da Itália no banco das urgências. A partir de agora, ou se mobilizam meios eficazes de modo extraordinário ou o perigo de contágio vai, incontroladamente, alastrar-se urbi et orbi.
Soube-se, praticamente poucos dias depois da sua aprovação, que o reforço do Fundo de Estabilidade da Zona Euro, imediatamente tabelado pela Standard & Poor´s com rating AAA, não comoveu, antes pelo contrário os investidores, ou especuladores, consoante se queira. As taxas de juro da dívida italiana ultrapassaram os 6% e prometem uma escalada que nenhum fundo limitado, por mais fundo que seja, conseguirá dissuadir. E aquilo que para alguns parecia impensável começa a impor-se como condição sine qua non para a ultrapassagem da vertente financeira da crise: dispor o BCE de capacidade ilimitada, idêntica à dos outros bancos centrais, de emitir moeda que as circunstâncias impuserem. E isto porque essa capacidade, e só essa capacidade, pelo simples facto existir, será capaz de enfrentar a desconfiança dos mercados (ou outra coisa, consoante se queira), fazendo-os recuar para limites que poderão reduzir a zero a mobilização daquela capacidade.
A construção da Zona Euro, desprovida daquela capacidade ilimitada, está irremediavelmente condenada à
derrocada a partir do momento que os mercados abalaram as dívidas soberanas e concluiram que estão totalmente desprotegidas. Como poderá evitar-se a destruição da Zona Euro, eventualmente a destruição da União Europeia, a morte precoce de algumas democracias, a guerra, se os tratados europeus não consentem porque, desde logo, a constituição alemã impede a utilização daquela capacidade?
Não sei.
Mário Drághi, o italiano que é desde há dias o presidente do BCE, será pressionado pelas circunstâncias a prosseguir o quê?
A defesa do euro e a estabilidade do sistema monetário europeu (e, por tabela, o sistema monetário internacional) ultrapassando os limites do enquadramento do seu mandato, correndo o risco de ser acusado de violação dos seus compromissos,
ou o estrito cumprimento dos estatutos do BCE correndo o risco de continuar a percorrer o caminho que pode levar a um abalo de dimensões incalculáveis?
Esperemos que os países membros da Zona Euro, com particular destaque para a Alemanha e a França, se ponham de acordo sobre o assunto em tempo útil, na certeza de que, se a Itália entrasse em default, seriam poucos os que, sobretudo na Europa, escapariam aos efeitos em dominó de uma derrocada inicial com a dimensão de um bilião de euros.
Mário Drághi, o italiano que é desde há dias o presidente do BCE, será pressionado pelas circunstâncias a prosseguir o quê?
A defesa do euro e a estabilidade do sistema monetário europeu (e, por tabela, o sistema monetário internacional) ultrapassando os limites do enquadramento do seu mandato, correndo o risco de ser acusado de violação dos seus compromissos,
ou o estrito cumprimento dos estatutos do BCE correndo o risco de continuar a percorrer o caminho que pode levar a um abalo de dimensões incalculáveis?
Esperemos que os países membros da Zona Euro, com particular destaque para a Alemanha e a França, se ponham de acordo sobre o assunto em tempo útil, na certeza de que, se a Itália entrasse em default, seriam poucos os que, sobretudo na Europa, escapariam aos efeitos em dominó de uma derrocada inicial com a dimensão de um bilião de euros.
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