A saga dos suopes continua a ocupar o palco quase todo e a deixar pouco espaço para as outras inconsistências problemáticas (designação lançada no mercado mediático pelo coordenador dos briefings) que até há bem pouco tempo eram o entretenimento e a aflição do nosso dia a dia, e, de entre e acima de todas, a problemática da austeridade e a inconsistência da sua coabitação com o crescimento económico. Para os bastidores estaria também remetida a inconsistência problemática da compra de acções da SLN pelo actual ministro dos Negócios Estrangeiros, a preço de saldo, e a revenda poucos tempos depois com margens largas, se o Expresso não decidisse fazer manchete do assunto no seu número de hoje.
Mas fez. E fez mais: enviou ao afortunado investidor um conjunto de perguntas às quais ele respondeu que "sobre as questões colocadas nada tenho a acrescentar ao que oportunamente referi nas minhas respostas à 1ª Comissão da Assembleia da República sobre a situação do BPN em 2 de Abril, e nos meus posteriores esclarecimentos a diversos órgãos de comunicação social, em 2013, nomeadamente o Expresso e o Público."
Escusou-se, portanto, Rui Machete a esclarecer alguns pontos menos transparentes, até que sejam esclarecidos, das suas aplicações financeiras numa empresas onde ocupava um cargo de nível elevado a que a condição de não executivo não desobrigava de responsabilidades.
Nem a SLN nem o BPN estavam cotadas em bolsa, não podendo, portanto, acusar-se os intervenientes nas operações que proporcionaram a alguns amigos e conhecidos lucros garantidos do crime de inside trading. Mas se o BPN não estava sujeito à supervisão da CMVM estava sujeito à supervisão do Banco de Portugal. O governador do banco central da altura admitiu já há algum tempo distracção nas funções que lhe competiam. Essa distracção, contudo, não fez prescrever as operações realizadas ou consentidas pela administração do banco que contribuíram para a ruina deste e determinaram a convocação dos contribuintes portugueses a pagar-lhe as consequências.
Há dias dizia, pitorescamente, a senhora ex-procuradora geral adjunta Cândida Almeida que “No caso BPN mexe-se na terra e sai minhoca por todo o sítio", dando a entender que há ainda muitas minhocas escondidas. É lamentável que Rui Machete se escuse a demonstrar definitivamente que, no seu caso, a suspeição de haver minhoca é apenas uma impertinência do jornalista facilmente desmontável. Não o tendo feito, e enquanto persistir a sua recusa, suspeito que continue com a saga do jornalista à perna.
Legalmente, nada obriga Rui Machete, e todos quantos se aproveitaram das circunstâncias com que se afundou o BPN, a responder aos jornalistas, mas estão, legalmente, obrigados a esclarecer os contribuintes coagidos a pagar aquilo que eles embolsaram se a justiça um dia funcionar neste país.
---
Correl . - Miopia
Rui Machete enganou-se no preço das acções do BPN . Foi enganado?
No comments:
Post a Comment