Monday, October 08, 2007

O DESEMPREGO DA DEMAGOGIA

A proposta do Orçamento Geral do Estado tem anúncio prometido para a próxima semana. Com o Congresso do PSD em Torres Vedras pelo meio, a aclamação do novo líder não vai, certamente, dar tempo e lugar à discussão de ideias programáticas que possam confrontar-se com os caminhos prosseguidos pelo actual governo. Ainda que fosse essa a idiossincrasia ( e não parece que seja) do "gang do multibanco" que, segundo Pacheco Pereira, tomou conta do PSD.

Pinho Cardão escreve no Quarta República, sob o título "A demagogia e o desemprego", a propósito da promessa de Sócrates, muito provavelmente falhada, de criação de 150 mil postos de trabalho e da realidade recentemente anunciada de aumento da taxa de desemprego para níveis que já excedem a média europeia.
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"...Ao contrário, o emprego em Espanha não se fez pela contratação de mais funcionários públicos, mas por políticas públicas equilibradas que não forçaram a componente fiscal e permitiram a racionalização empresarial. A economia espanhola, partindo de uma base similar, tornou-se competitiva, diminuiu o desemprego e, ironicamente, tem sido um dos motores, através das importações, do nosso débil crescimento.O aumento da despesa pública, em Portugal, não explica certamente tudo, mas seguramente explica muito. E, esgotada a possibilidade de novas admissões no Estado, a racionalização que se pede às empresas só poderá trazer mais desemprego por um bom par de anos. O resto é demagogia. Fariam melhor o Governo e, já agora, as Oposições responsáveis, ir prevenindo os portugueses".
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A questão da redução da despesa pública tem-me levado a trocar argumentos com Pinho Cardão, mais adepto do corte nos impostos (com Tavares Moreira e Miguel Frasquilho) e depois logo se verá. Ressalto desta parte do "post" de Pinho Cardão a sua inclusão das "oposições" ( também a dele, portanto) na obrigação de prevenir os portugueses. Ângelo Correia, que pertence ao gang (Pacheco Pereira dixit) respondia, ontem, muito convictamente a uma pergunta sobre o assunto, que Menezes iria ser muito claro sobre a questão da inevitabilidade da redução do número de funcionários públicos.
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Comentei, a propósito, no Quarta República:
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A comparação da evolução da taxa de desemprego entre Portugal e Espanha passa, forçosamente, pela comparação da evolução das políticas de emprego seguidas nos últimos 30 anos num caso e noutro.
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Filipe Gonzalez, que assumiu o Governo de Espanha após um período muito curto que se seguiu à queda do franquismo, optou por dar às empresas a possibilidade de se reestruturarem, em grande parte à custa do aumento de desemprego.Em Portugal, na ressaca de uma transição que envolveu nacionalizações e outros desvarios, a opção foi sempre a de manter o emprego sacrificando a reestruturação. Depois aconteceu que se viu: A economia espanhola ganhou consistência (ainda que o sector imobiliário possa vir a causar graves dissabores), a economia portuguesa sofreu vários rombos com as deslocalizações. O emprego, entretanto, foi assegurado em grande parte pelo aumento da despesa pública. Poderia ter sido diferente. Claro que podia. Mas não foi.O que importa agora é saber o que importa fazer, hoje.E, hoje, o que importa fazer é reduzir a despesa pública. Claro que, deste modo, o desemprego vai aumentar. Mas a alternativa é continuar (se fosse possível...) a política anterior, enrolando a manta até a respiração se tornar impossível.
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Ora é uma proposta política que defina claramente COMO deve reduzir-se a despesa, e POR QUE é que deve reduzir-se, que deve ser colocada aos portugueses.
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Quanto ao resto são lamentações junto a um muro que não se comove.

1 comment:

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
Com um abraço, aqui vai um convite para a cerimónia do lançamento do livro Quarta República, no dia 17 de Outubro, pelas 19 H 30 M na FNAC do Colombo.
Como terás visto no 4R, o livro resulta de uma selecção de textos dos diversos autores do Blog e aí publicados.
A Drª Manuela Ferreira Leite fará na ocasião uma breve apresentação.
O livro é prefaciado por Francisco José Viegas.
Os teus comentários são sempre de grande qualidade, pelo que, também por isso, muito gostaríamos de contar com a tua presença.
Um abraço

Lisboa, 7/10/07

António Pinho Cardão