Monday, October 01, 2007


(vista de Yingxian do terceiro andar do Pagode)

Voltamos à auto-estrada a caminho de Taywan. Deixámos as montanhas, estamos na planície de milheirais a perder de vista. Ao longo da auto-estrada há renques largos de árvores plantadas recentemente. Nas encostas que a auto-estrada rasgou os muros de sustentação têm o acabamento requintado que a disponibilidade de muita obra barata permite mas que são também um chocante contraste com o estado de degradação de habitações em povoados que se vêm da auto-estrada de vez em quando.
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Tanta extensão de milheirais causou-nos alguma perplexidade por não se conformarem, segundo as nossas perspectivas, com a exploração individual que caracteriza a actual actividade agrícola na China. Na realidade ela é muito mais compatível com a exploração em latifúndio do que com a economia de subsistência, geralmente de produções diversificadas. Garantiram-nos que não: Trata-se mesmo de pequenas propriedades, que naquela zona não excedem um hectare de terreno por família. Em zonas onde os solos são mais pobres ou a densidade populacional é menor, a dimensão dos terrenos atribuídos pode ser maior.
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O camponês não é dono da terra, explora-a em regime de arrendamento, podendo subalugar quando vai procurar na cidade outra ocupação. O campesinato é, deste modo, a única classe na China a quem não é concedido o direito de propriedade dos meios de produção (neste caso a terra). É também a classe a quem não é garantida qualquer assistência médica, educativa, ou de reforma por velhice.
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Tendo sido expropriados, e fusilados em muitos casos, os anteriores proprietários na sequência da proclamação de República Popular da China, a atribuição de terras aos camponeses em regime comunitário foi um dos emblemas dos revolucionários. O sistema, contudo, nunca produziu bons frutos. Com a reviravolta promovida por Deng Xiaoping, aos camponeses foi atribuída capacidade de gestão individualizada das parcelas de terreno e as produções aumentaram. Mas, ao mesmo tempo que lhes outorgaram o direito de trabalharem por conta própria, foram-lhes retiradas todas as funções de assistência do Estado. Recentemente foram isentados do pagamento de impostos.
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A exploração extensiva de produção de milho (e trigo, uma vez que na planície que atravessámos, as terras são suficientemente férteis para sustentarem duas culturas anuais) parece justificar-se na vantagem que os camponeses sentem em manter a produção de milho naquela zona, reservando pequenas áreas para outras produções. O baixo nível de rendimentos do campesinato decorrerá não só da pequena dimensão das parcelas agrícolas mas, certamente, também dos preços esmagados por uma concorrência extremamente pulverizada e onde qualquer concertação de defesa não não é consentida.
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É nos campos ou dos campos, portanto, que reside ou provem a enorme população que sustenta, ainda docilmente, o espantoso crescimento económico da China actual.
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E também os baixos preços de muita coisa que consumimos no Ocidente, diga-se em abono da verdade.

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