Há dias podia ler-se no caderno Expresso de economia que em Portugal a "dependência do imobiliário chega aos 57%". Por cada euro que um banco empresta, 57 cêntimos vão para a casa e para outras actividades ligadas por cimento, como construção, pontes ou estradas. Em Espanha são 60 cêntimos, Em Inglaterra 43 cêntimos. Considerando apenas a habitação, o peso do crédito concedido é de 44,7% na Finlândia, 41,9% na Alemanha, 35,8% em Espanha, 18,2% na Itália, 12,2% no Luxemburgo, segundo o BCE - Balanço agregado das instituições monetárias da zona euro.
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Em Portugal, a exposição ao imobiliário, dos bancos portugueses era a seguinte (dados em 2006) : Montepio 90,2%;CGD 66%; BCP 55,9% BES 48,9% BPI 45,9% Banca 57,2%.
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Daqui se pode concluir a excessiva importância que o sector representa nas economias europeias em geral e na portuguesa em particular. E avaliar os riscos que o rebentar da bolha pode deflagrar.
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Curiosa, no entanto, a este propósito é a posição do presidente da Associação Portuguesa de Bancos: "os montantes do crédito à habitação resultam do sucesso das campanhas dos bancos. É um sector muito atractivo, todos os bancos esmagaram margens para ganhar quota. São clientes muito estáveis...Se houver uma grande crise não temos forma de escapar dela. Se houver uma descida de preços não muito acentuada em Espanha, não vejo que haja muitos problemas, além de alguma estagnação nas compras e vendas. Cá a habitação é uma grande prioridade, porque não há mercado de arrendamento, e portanto as pessoas venderão primeiro o carro e reduzirão outras despesas, antes de deixar pagar a casa."
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O discurso de João Salgueiro, que repercute uma ideia generalizada de que não há um mercado de arrendamento, inverte por completo a realidade: - existe um mercado de arrendamento. Os senhorios são os bancos. O negócio é tão importante para eles que se degladiam a conquistar quotas de mercado uns aos outros. E por ser tão importante não podem deixar de o manter e reforçar, por falta de alternativas; - os senhorios (à moda antiga, chamemos-lhes assim) não têm quaisquer hipóteses de competir com a banca a não ser em situações de arrendamento temporário ou a inquilinos sem capacidade de apresentação de garantias consideradas suficientes pelos bancos, um nicho "sub-prime" à portuguesa.
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Mas o slogan mantem-se e as causas para a continuação do estado de degradação de muitas casas continuará a ser atribuída à lei das rendas.
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