Monday, October 29, 2007

ABSOLUTAMENTE DÉFICE

Pinho Cardão acha que a medição do défice orçamental em relação ao PIB é uma mistificação porque o PIB é projectado com optimismo quanto baste e o défice uma carga que não se ajusta às variações de peso do PIB. Se o PIB encolhe, o défice geralmente não encolhe e, pelo contrário, incha. Sendo as perspectivas de crescimento económico, tanto nos EUA como na União Europeia, para 2008 pouco animadoras, o défice em termos relativos corre sérias ameaças pelo lado do numerador (crescimento défice por contração da actividade económica, nomeadamente das exportações) e pelo denominador (menor crescimento do PIB, pelas mesmas razões). De modo que, clama Pinho Cardão : Abaixo a despesa!
Já somos dois.
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Como nesta coisa de cruzadas os cruzados nunca são demais, vislumbrou Pinho Cardão outro companheiro de jornada na pessoa do professor Campos e Cunha, e destacou do seu artigo no Público de sexta-feira, a seguinte passagem:
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"foram apresentadas as contas públicas. Não deixo de assinalar que pensava ser quase impossível cumprir o objectivo défice sem a reforma da administração pública. Mas enganei-me. Apesar da reforma da administração pública ter ficado pelas leis, o objectivo foi cumprido. As receitas dos impostos superaram as expectativas, o PIB foi revisto em alta, o investimento foi cortado e o resultado foram os mágicos 3 por cento. Fica, no entanto, este resultado envolto em mistério, como tudo o que é mágico. O INE põe cá fora três versões do relatório de défices excessivos no espaço de poucas semanas. E o INE viu-se obrigado (e bem) na última versão, a reafirmar aquilo que só os entendidos sabem: as contas do ano corrente - ou seja 2007 - são da exclusiva responsabilidade do Ministério das Finanças. Primeiro corrigiram-se ( ou reclassificaram-se ) os valores do investimento público, deixe de cair em relação a 2006 em termos reais, embora continue a cair em percentagem do PIB. Depois corrige-se o valor do PIB e a 16 de Outubro o défice passa de 3,3 por cento para 3 por cento. Porquê tudo isto? Ninguém sabe! Para poucas semanas são trabalhos a mais nesta empreitada."
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Comentei.
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Terminas (...) dizendo
"Vou tendo, pois companhia!...", e, dizendo isto presumo que te referes a Campos e Cunha. Contudo, no mesmo artigo, ele continua a resmungar assim:
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"Curiosamente, estas interrogações (penso que legítimas) não levaram Manuela Ferreira Leite a pedir esclarecimentos. No congresso do PSD MFL resolveu discutir o orçamento (ou a estimativa do défice) de 2005!Se vamos a discutir o passado, falemos de 2004, que, apesar dos truques contabilísticos e subida do PIB, ficou em 3,4% e, sem aqueles, passa em muito os 5%. E a célebre operação de MFL de titularização dos créditos fiscais , em 2003, apesar de todos os esforços de quatro ministros das Finanças de Portugal, apenas recentemente foi aprovada pelo Eurostat. E logo que (finalmente) aprovado, o Eurostat fez questão em proibir, para todos os países e daqui para a frente, todas as operações daquela natureza! Entendido?"
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Portanto, (...), parece que Campos e Cunha se deu uma no cravo fartou-se de martelar depois na ferradura.
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Para bater rijo no cravo, meu caro, temos a discussão do orçamento para 2008 à porta. 2007, a bem dizer, já lá vai. É altura, portanto, de dar com força no sítio certo.Por mim, não discuto mais a questão da relatividade do défice. Ponho-me do teu lado e faço coro contigo: "abaixo a despesa, absolutamente!"
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Acreditas que o PSD (e o CDC, já agora) se vão bater pela redução défice de 4 100 milhões proposto pelo governo?
Apontando onde, quanto e como? Não creio. Mas gostaria de estar enganado.

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