Monday, October 01, 2007

A COR DO GATO



Não importa se o gato é branco ou preto, o que importa é que cace os ratos - Deng Xiaoping
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O aforismo proclamado por Deng Xiaoping como o caminho a seguir pela China a partir do momento em que tomou conta das rédeas do Partido Comunista Chinês, na ressaca da esquizofrenia colectiva que constituiu a revolução cultural e deixou a China em estado de coma, vai ficar na história como o marco inspirador da reviravolta operada que mudou tudo para sobrevivência do nome do partido.
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Do partido comunista sobra pouco mais que o nome e o retrato de Mao pendurado na porta da dinastia Ming da Cidade Proíbida. E a ditadura dos novos mandarins, obviamente. Quanto ao resto, a China é hoje dominada por um sistema económico que o chefe de qualquer central sindical dominada pelos comunistas classificará, com toda a razão, de capitalismo selvagem. Aquele que construiu as pirâmides do Egipto, por exemplo, num tempo em que também sobravam multidões para trabalhar e não reclamar.
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Seria, contudo, insconsciente não reconhecer o enorme salto em frente que a China observou nos últimos vinte anos, e que não tem paralelo na história da humanidade. E seria tolice não observar que esse crescimento vai catapultar dentro de pouco tempo o Império do Meio para a liderança da economia mundial.
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Há, no entanto, neste combóio de sucesso da China, para além das desigualdades crescentes que forja entre os passageiros de primeira e os que se empilham no vagão J, e que o podem fazer abanar, um grão de areia dura que o pode fazer descarrilar se o abanão for forte: na China não tive acesso ao meu blog. Um exército técnico de 30 mil censores policia a web.
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Poderia ser de outro modo? Até quando?
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BEIGING, SETEMBRO 14/15
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Chegamos a Beijing às 8,15 da manhã. A viatura que nos leva ao hotel vai por uma autoestrada que deve ter sido construída há poucos anos. Há quase catorze, a ligação entre o aeroporto e a cidade passava por uma estrada que atravessava os campos, ladeada por velhos plátanos ao lado dos quais caminhava uma multidão infinita de camponeses que transportavam para a cidade frutos e legumes à cabeça, às costas, ou em carroças que eles próprios puxavam.
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Era o tempo que uma pequena abertura concedia aos camponeses alguma liberdade de iniciativa individual e de gestão de pequenas parcelas de terreno por conta própria. Hoje, a auto-estrada afasta-nos da visão próxima dos campos à volta mas os camponeses continuam lá. Em menor número, mas ainda assim bem acima de metade dos 1,3 biliões de pessoas que habitam na China. Muitos dos que, entretanto, abandonaram os campos construíram, e continuam a construir, esta e outras auto-estradas que tornam este país menos imenso. Muitos outros arrasam as milenárias "hutongs" (vilas à volta de um páteo, lembrando-nos de algum modo as antigas vilas lisboetas) e erguem florestas de arranha céus, a mando e para orgulho dos novos manadrins, e espanto incontido para os nossos sentidos.
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O hotel que nos albergará durante os dois primeiros dias tem 25 anos, o lobby é amplo e a decoração um compromisso estético equilibrado entre o ocidente e a China. Acusa já algumas torturas do tempo mas vai ser restaurado a tempo de receber turistas durante os jogos olímpicos do próximo ano. O pequeno almoço não augurou nada de bom para os próximos dias: a qualidade nada convidativa, o serviço desleixado, um simples copo de água adicional tem de ser negociado.
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Já no autocarro, a caminho do centro da cidade para iniciar a visita programada, a guia alerta-nos para a inexistência de papel higiénico nos sanitários públicos e para a necessidade de nos munirmos de garrafas de água engarrafada por não ser potável a água que corre nas torneiras. Providencialmente, os motoristas carregam sempre a seu lado uma quantidade suficiente de garrafas para abastecer os clientes (aproximadamente 1 euro por 3 garrafas de 2,5 decilitros de água). As garrafas de água são uma presença constante à nossa volta mas, naturalmente, mais intensamente junto aos locais turísticos. Estranhei que a China, apesar do progresso evidente por todos os lados, continue a não dispor se sistemas de tratamento eficiente da água que consome nos seus domicílios. A guia disse-nos que os chineses mantêm o hábito ancestral de ferver toda a água que bebem, não apreciam a água fria, nem a cerveja muito fresca. E as primeiras cervejas que nos serviram ao almoço não vinham frescas nem vivas. Mas parece óbvio que as unidades hoteleiras mais sofisticadas têm sistemas de tratamento de águas privativo.

1 comment:

Anonymous said...

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