Sunday, October 14, 2007

AVES NEGRAS

É surpreendente, ou talvez não, a frequência com que alguns intelectuais tropeçam nos seus próprios argumentos, em consequência da teimosia com que se agarram a alguns tabus muito seus, que são mais credos que convicções.
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Há dias era, mais uma vez, Pacheco Pereira que augurava um descarrilamento para a União Europeia desprotegida de um referendo geral que faça pulsar (se fizer) a unanimidade dos corações europeus. Não lhe importa que o documento a referendar seja complexo e esteja fora do alcance do entendimento da grande maioria. O que importa, segundo Pacheco Pereira, é que ao cidadão seja dada a oportunidade de dizer sim ou sopas. Como aquela crente que no Santuário de Fátima confessava não ter entendido patavina da mensagem do Papa mas concordava em absoluto.
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No Público de hoje, António Barreto escreve ("Uma semana negra"), a propósito da próxima reunião em Lisboa, que "para os dirigentes europeus, a União é mais importante que a democracia". Segundo AB, "a Europa vai bem. A União também... Mesmo a ovelha ronhosa da União, Portugal, cuja economia cresce pouco e cujo desemprego sobe muito, tem um razoável estado de saúde. Tudo isto, sem Constituição...Tarde ou cedo, haverá acordo e Tratado. E quase todos estão disponíveis para evitar os referendos e proceder, assim, sem a voz dos povos, à liquidação dos parlamentos nacionais..."
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Para AB, por um lado, a democracia é a democracia directa. Sem referendo a democracia, neste caso, deixa de o ser. E, acrescenta, de forma patética que "a presidência portuguesa é a agência funerária da morte da democracia nacional, sem que haja uma democracia europeia que a substitua e a melhore... lamentando que o primeiro-ministro seja o mestre-cerimónias e que o cangalheiro, presidente da Comissão, seja também português...". Por outro lado, AB chora a perda de importância dos parlamentos nacionais mas não reconhece a estes capacidade democrática para aprovar o Tratado.
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Do mesmo lado da barricada, entre outros, Pacheco Pereira, António Barreto e Francisco Louçã.
Mas Francisco Louçã, percebe-se: tudo o que servir para excitar as massas, serve-lhe a ele.
Quanto a António Barreto, neste texto, passou-se.

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