Friday, October 19, 2007

FOI VOCÊ QUE PEDIU UM TRATADO?

No Arte da Fuga, Adolfo Mesquita Nunes comenta o acordo obtido esta madrugada em Lisboa sobre o Tratado Reformador nos seguintes termos:
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Tanto foi o destilar de superioridade intelectual dos jornalistas especialistas em questões europeias face às questões levantadas por polacos, italianos e búlgaros, que hoje estamos em condições de saber se as suas pretensões foram, ou não satisfeitas. Quanto às nossas pretensões, ninguém sabe de nada. Provavelmente, a única era mesmo a de dar um nome ao Tratado, pretensão cuja relevância Maastricht poderá atestar.
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Comentei:
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"Quanto às nossas pretensões, ninguém sabe de nada."
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Discordo. Discordo mas sou suspeito porque sou um europeísta convicto.
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Convicto de que Portugal tem muito a ganhar e pouca coisa a perder com uma União Europeia estruturada de modo a responder às exigências que o alargamento impõs e os desafios que a Europa enfrenta num mundo global mas também polarizado.Perdemos pouco pela simples razão de que só perde quem tem. E nós, caro Adolfo, temos pouco.Ganhamos muito, porque ganhamos o que perdemos ao longo de séculos de afastamento do centro onde o futuro se decidiu. Acantonados neste extremo do mundo (não exagero, veja o planisfério com com o Pacífico e não o Atlântico ao meio) mesmo quando o mundo era do mundo europeu, não fomos convocados para os grandes desafios e amoleceram-se-nos os músculos e as meninges.
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Quanto ao Tratado como é que queria que fosse discutido? Precedido de um referendo? A haver referendo, convenhamos, deveria (deverá?) referendar a continuidade ou saída da UE. Sim ou sopas, sem grandes interpretações de arrevesados articulados.
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Não sou jurista mas dei-me ao trabalho de fazer o download das 152 páginas que foram esta noite discutidas. E li-as por alto mas de forma a concluir que não está ao alcance da esmagadora maioria dos europeus. Foi por esta e por outras razões que nasceu a democracia representativa, como bem sabe. O referendo a este tratado, que alguns reclamam, seria antidemocrático porque daria rédea solta à demagogia.Não é por acaso que se batem pelo referendo o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda. E o Manuel Monteiro.
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E também o Pacheco Pereira e o António Barreto, mas estes talvez por ataques de sarampo na juventude.Mas você, Adolfo, um jovem mas já prestigiado advogado, por que é que não nos explica os pontos em que vê neste Tratado perdas fundamentais para Portugal?Afinal a Europa decorrente deste Tratado será sobretudo para a sua geração. E para as vindouras.
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Mas estou pessimista. Porque receio que, por razões que nada têm a ver com o Tratado, algum ou alguns dos 27 venham a deitar por terra tudo de novo. Nesse caso a Europa só poderia continuar se os que votassem não se sentissem convidados a sair. Que lhe parece?

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