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A economia portuguesa está certamente a atravessar uma das suas fases mais difíceis dos últimos sessenta anos.
Não se trata aqui de dramatizar mas de apelar ao realismo.
A componente mais nítida desta dificuldade é a não sustentabilidade do caminho que seguimos nos últimos doze anos, cujo desenlace pode bem ocorrer num prazo não muito longo. Efectivamente, uma das poucas coisas de que poderemos ter a certeza é que os próximos doze anos (e provavelmente os próximos seis) não poderão ser iguais aos passados. Isto por uma razão óbvia: é que simplesmente não haverá financiamento externo para sustentar sequer o magro crescimento da última década, porque ninguém emprestará a bancos ou empresas de um país com 150% ou 200% do PIB de dívida externa. Se e quando este financiamento se evaporar a economia e sociedade portuguesas entrarão numa situação de que mais vale não falar, mas que fará da crise de 1983-84 uma brincadeira de crianças.
A situação é pois de emergência. Conseguiu-se - e bem - através da política orçamental conter o colapso, a curto prazo, da economia através da sustentação da procura interna. Agora a prioridade absoluta terá de ser dada às exportações e à redução das importações. A prioridade tem de ser absoluta porque o contexto internacional continua a ser muito desfavorável. A Espanha - o nosso maior cliente - permanece numa profunda crise, de que não se vê saída rápida, o valor do euro continua muito alto em relação ao dólar devido às inqualificáveis instituições monetárias da zona euro (que o Tratado Reformador teve todo o cuidado em manter intocáveis para destruir ainda mais a competitividade europeia) e o próprio comércio mundial, embora de novo em crescimento, continua anémico.
Num contexto destes as medidas têm de ser de excepção: apoio claro ao sector exportador, através de discriminação positiva em termos fiscais e de crédito, reforço do seguro de crédito à exportação, melhoria de funcionamento dos portos com redução dos custos para os utilizadores (o que pode implicar uma nova intervenção dos Estado no sector), prosseguimento sem quebra de ritmo do desenvolvimento das energias renováveis, medidas de excepção de conservação energética no que respeita ao consumo de combustíveis fósseis (se necessário condicionando o uso privado do automóvel) e muitas outras que são possíveis de imaginar.
Não sei se medidas deste tipo serão suficientes. Mas na ausência do instrumento cambial - único verdadeiramente eficaz nestas situações - é o que se pode fazer. Talvez ajudasse se o Governo à semelhança do Plano Tecnológico (que a meu ver foi um sucesso) lançasse também um Plano de Exportações.
Mesmo se acontecer o pior o país saberá encontrar novos rumos. Mas se conseguirmos evitar esse cenário, pouparemos certamente muito sofrimento aos portugueses.
A economia portuguesa está certamente a atravessar uma das suas fases mais difíceis dos últimos sessenta anos.
Não se trata aqui de dramatizar mas de apelar ao realismo.
A componente mais nítida desta dificuldade é a não sustentabilidade do caminho que seguimos nos últimos doze anos, cujo desenlace pode bem ocorrer num prazo não muito longo. Efectivamente, uma das poucas coisas de que poderemos ter a certeza é que os próximos doze anos (e provavelmente os próximos seis) não poderão ser iguais aos passados. Isto por uma razão óbvia: é que simplesmente não haverá financiamento externo para sustentar sequer o magro crescimento da última década, porque ninguém emprestará a bancos ou empresas de um país com 150% ou 200% do PIB de dívida externa. Se e quando este financiamento se evaporar a economia e sociedade portuguesas entrarão numa situação de que mais vale não falar, mas que fará da crise de 1983-84 uma brincadeira de crianças.
A situação é pois de emergência. Conseguiu-se - e bem - através da política orçamental conter o colapso, a curto prazo, da economia através da sustentação da procura interna. Agora a prioridade absoluta terá de ser dada às exportações e à redução das importações. A prioridade tem de ser absoluta porque o contexto internacional continua a ser muito desfavorável. A Espanha - o nosso maior cliente - permanece numa profunda crise, de que não se vê saída rápida, o valor do euro continua muito alto em relação ao dólar devido às inqualificáveis instituições monetárias da zona euro (que o Tratado Reformador teve todo o cuidado em manter intocáveis para destruir ainda mais a competitividade europeia) e o próprio comércio mundial, embora de novo em crescimento, continua anémico.
Num contexto destes as medidas têm de ser de excepção: apoio claro ao sector exportador, através de discriminação positiva em termos fiscais e de crédito, reforço do seguro de crédito à exportação, melhoria de funcionamento dos portos com redução dos custos para os utilizadores (o que pode implicar uma nova intervenção dos Estado no sector), prosseguimento sem quebra de ritmo do desenvolvimento das energias renováveis, medidas de excepção de conservação energética no que respeita ao consumo de combustíveis fósseis (se necessário condicionando o uso privado do automóvel) e muitas outras que são possíveis de imaginar.
Não sei se medidas deste tipo serão suficientes. Mas na ausência do instrumento cambial - único verdadeiramente eficaz nestas situações - é o que se pode fazer. Talvez ajudasse se o Governo à semelhança do Plano Tecnológico (que a meu ver foi um sucesso) lançasse também um Plano de Exportações.
Mesmo se acontecer o pior o país saberá encontrar novos rumos. Mas se conseguirmos evitar esse cenário, pouparemos certamente muito sofrimento aos portugueses.
2 comments:
Um diagnóstico destes, onde se tecem loas à política orçamental e ao plano tecnológico, e se culpa, contraditoriamente, "o caminho que seguimos nos últimos doze anos", bem como as "inqualificáveis instituições monetárias da zona euro" e o malandro do comércio mundial, será muito curto de vistas para explicar a situação de emergência que reconhece existir.
Não admira pois as dúvidas : "não sei se ..." e "talvez ...".
Seria de esperar um pouco mais de rigôr de análise da parte de um professor universitário.
Victor Trincão - economista
Concordo com o que diz mas, de qualquer modo, há um aspecto positivo que não pode deixar de se reconhecer: o de propor alguma coisa, o que é raro entre nós.
Críticas há muitas, propostas há poucas.
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