Monday, November 02, 2009

CONVERSA MOLE

"...Vieira da Silva, habituado a acudir às pessoas, vai agora tentar acudir às empresas, muitas delas famílias-empresa, num país onde o tecido empresarial mais numeroso é constituído por pequenas e micro-empresas, a quem apetece dar uma ajuda humanitária.
Porém, um país não se governa assim. O futuro de Portugl não está na abertura de pastelarias, lojas de roupa de senhora ou biscateiros de subempreitadas em obra pública.
Esse modelo está esgotado..."

João Duque, Expresso, 31/10/2008
.
"Esse modelo está esgotado", ouve-se a cada passo. Diz o fornecedor de torneiras de um modelo de sucesso, diz Carvalho da Silva, líder da CGTP, a propósito do modelo social de insucesso "baseado em ordenados baixos", diz João Duque, presidente do ISEG, a propósito do modelo empresarial "baseado em pequenas e micro-empresas". Há mais quem diga o mesmo mas estes exemplos chegam.
.
O curioso destes discursos não está no facto de serem homónimos mas nas conclusões: no caso do fornecedor de torneiras, uma vez esgotado o modelo ou produz mais ou lança outro; nos dois outros casos, uma vez esgotado o modelo, quem o diz, diz o que toda a gente diz, mas não diz o que toda a gente gostaria de ouvir dizer: que fazer?
.
Carvalho da Silva pugna pelo aumento dos salários e, desde logo, pelo salário mínimo. Mas colocado perante a inevitabilidade do encerramento das unidades produtivas que têm de competir nos mercados com concorrentes que pagam salários muito mais baixos fica sem saber onde fica a saída.
João Duque alerta que com actividades de vão de esquina não sairemos da cepa torta mas não sabe ou não diz por onde se poderá sair.
.
Um refrão tão cantado como o do "modelo esgotado" é o de que "empresa que não é capaz de pagar um salário mínimo melhor deve fechar". Aliás, ambos fazem parte da mesma cantiga sem fim.
.
Praticamente todos os dias ouvimos notícias de empresas que encerram ou se deslocalizam, o que dá no mesmo para a economia nacional. São boas notícias? Para quem?
Se fosse tão óbvia a saída para as fragilidades da economia portuguesa como é para o fabricante de torneiras a reposição dos stocks ou a produção de outros modelos, como parece estes senhores nos querem fazer crer, há muito que já se teria dado por ela. Eles sabem que há saída, ou saídas, mas têm custos que não ousam reconhecer. Sem reconhecimento desses custos de saída nunca se avançará decididamente no caminho adequado.

No comments: