Sunday, November 29, 2009

O INSUSTENTÁVEL PESO DO CONSUMO - 2

Boa pergunta:

Como podemos sustentar uma uma economia que não esteja para aí virada? Andamos para trás? Então que economia é que ( ) quer?

Está dito e redito que vivemos (os que vivem) numa sociedade consumista onde a felicidade se mede pela distância entre o que vemos e queremos e as nossas capacidades aquisitivas para o atingir. Quanto maior é a distância, maior a infelicidade. O Natal aumenta essa distância, o mesmo é dizer que aumenta a infelicidade de muitas pessoas. Este ano, por ter aumentado o número de desempregados, e sobretudo o número dos que não têm trabalho nem subsídios, a desigualdade alargou-se e infelicidade globalmente cresceu.

Dum ponto de vista moral, o Natal é amoral.

Economicamente é um semi-desastre. E digo semi porque não tenho meios de avaliação da dimensão das consequências deste consumismo infrene sobre a economia nacional e a muito desequilibrada balança comercial e o endividamento externo. Muito do consumismo natalício decorre de importações pagas com crescimento de dívidas. Muita gente clama que o país caminha para um beco com saída pelo buraco do fundo mas a ninguém ocorre recomendar juízo.

De modo que á pergunta, que economia quero, respondo que quero uma economia com juízo. Uma economia que privilegie um crescimento sustentável, onde as pessoas não comprem hoje o que não podem pagar amanhã.

Como é que isso se faz? Avisando a malta. Mas, pelos vistos, quem deveria avisar não está para aí virado. Até ao dia em que a festa acaba, por imposição do FMI ou coisa parecida.

Natal não deverá compensar perdas dos comerciantes ( Público)

É "convicção" do sector (comercial) que muitas empresas não conseguirão manter as portas abertas até final do ano... O estudo Xmas Survey 2009 da consultora Deloitte estima que os portugueses deverão gastar, em média, 390 euros em presentes - 30 euros por cada prenda, para uma média de 15 ofertas. Face a 2008, a quebra é de 3,7 por cento (405 euros). A recessão económica trouxe novos hábitos de consumo e fórmulas de venda mais agressivas. Mais do que o preço, a tendência de 83 por cento dos portugueses será dar prendas úteis. No contexto europeu, só os países da Europa de Leste (com excepção da República Checa) planeiam gastar mais dinheiro em prendas neste Natal.

3 comments:

António said...

Pois é, mas sem se gastar o que se produz, a economia pára.A economia não é só transacções na bolsa e bancos a emprestar e usurar. A economia é consumo. Precisa-se (não é não se precisa), compra-se para usar, não é para usar e logo,logo, deixar de lado.
Daí que consumindo só o necessário e duradouro, a economia entra em hipotermia, desfalece, morre.
Todos quantos se instalaram com base no consumo supérfluo, estão a tremer de medo.
Efectivamente, os tempos são outros.
Sobrevive mais o comércio das coisas raras e caríssimas que o dos berloques que ainda por cima passam de moda.
Na Russia,sobretudo venderão mais as lojas cartier e que tais, que as nossas lojas todas de médio para baixo. Comerão mais beluga que nós, bacalhau. Ou pelo menos, gastarão mais nisso.
Um estrago de dinheiro em chinesices.
Dois dias depois de gasto todo o dinheiro do mês de Janeiro, em roupas e bujigangas, os preços vão para quase metade, em saldos.
A maior parte das roupas não vai resistir ao clima e desgast e daqui a dois meses já ninguém as usa.
Os relógios que se venderem em Moscovo, a mais de 10.000 euros, não.
Podem ficar na gaveta, mas são para toda a vida.
Eles é que sabem.

Rui Fonseca said...

"Na Russia"

Reportei-me à economia portuguesa.
E não condenei o consumo pelo consumo mas o consumo que decorre de importações e é pago com endividamento.

Sem consumo não há economia. Mas consumo acima dos ganhos mais tarde ou mais cedo é insustentável.

Penso eu.

António said...

E pensa bem (como é costume) já que quem vai acima do que pode, algum dia se lixa.
Dia 25/12/09, irão parar à gaveta mais uns milhares de telemóveis.Todos a funcionar e ainda actuais. Mas não tão bons como o do vizinho. Grande asneira, já que os podiam ceder a outros, que com cartões de 5 euros, e trocando-os entre si, trocariam também as voltas aos escutadores da polícia.
Porque não um outlet de telemóveis para serem usados por quem gosta de telefonar, marcar almoçaradas, entregas de robalo, comprar fio de cobtre e outros negócios e eventos?
Ainda vai ser um bom negócio, vai ver.
Em Janeiro, a par dos anuncios de massagens, da compra de ouro usado sem justificação de proveniência, nos jornais do costume, vai aparecer alguém que compre telemóveis em segunda mão.
Quantos comprar, quantos vende.
Sempre aos mesmos clientes!