Friday, November 06, 2009

JUIZA EM CASA PRÓPRIA

Ninguém é bom juiz em casa própria, perdoe-se-me o ajustamento do aforismo.
Lê-se a reacção de Pilar del Río a grande parte das críticas feitas ao último do livro de Saramago com o maior interesse porque o que escreve é claro e convincente. Salvo quando procura através do seu texto explicar-nos uma subtileza que não existe no texto do seu marido.
Pilar del Río
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Li várias vezes, traduzi-o inclusivé para castelhano, o último romance de José Saramago “Caim”, uma fábula humana, tão humana que pensei que iria provocar perguntas humanas. Para minha surpresa, tal não ocorreu.De imediato, uma parte da sociedade começou a falar de Deus e da Bíblia, corrente de ar fresco que se agradece se tivermos em conta o teor de outras polémicas, mas ninguém assinalou o que do meu ponto de vista é essencial neste livro: que o género humano não é de fiar. Sim, os seres racionais, os que levantam edifícios, constroem pontes e compõe sinfonias, esses mesmos que declaram guerras por um território, por um capricho, por uma bandeira ou por um Deus nasceram loucos e loucos continuam a viver tantos milénios depois de Adão e Eva ou do Big Bang, chame-lhe cada um o que queira. Só a gente sem sentido se pode atribuir a autoria das fábulas religiosas que povoam a terra até aos dias de hoje, porque todas as civilizações se organizam em volta de uma divindade e todas elas se baseiam no sacrifício e no sangue. Se é verdade que em Creta o ritual levava donzelas virgens ao minotauro, e que as civilizações pré-colombinas realizavam sacrifícios humanos para aplacar a ira dos deuses, como tantos povos africanos, o ranking da exigência sacrificial é ganho pela religião que apresenta o seu próprio Deus executado numa cruz após ter padecido terríveis torturas que o levaram até a suar sangue.
continua

2 comments:

António said...

Juiz em CAUSA própria, penso que é assim.

Rui Fonseca said...

Tem razão.
Mas a intenção era essa mesma: a de ajustar o aforismo ao caso de se tratar de um casal.

Repare que escrevi:

"casa própria, perdoe-se-me o ajustamento do aforismo."