Sunday, April 20, 2008

FOME

A fome sempre foi a causa maior de mortalidade em toda a história da humanidade. E continua ainda a deter esse abominável recorde mesmo depois da revolução verde e da criação de condições de produção de alimentos que poderiam, se estes chegassem onde a fome mata, evitar a dizimação pela subnutrição. Apesar do dramatismo dos números que quantificam ainda o flagelo da fome, a evolução tem sido positiva e a tragédia tem visto progressivamente limitados os seus horrores. De qualquer modo, sobre a consciência colectiva da humanidade continuará a pesar ainda por muito tempo o remorso e a vergonha pelo conhecimento, agora também transmitido em imagens que deveriam nausear quem as observa, se não se tivessem já banalizado, enquanto almoça ou janta, de gente que morre de fome neste mundo onde é cada vez maior o número daqueles que morrem por comer demais.
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Contrariando aqueles que sempre têem advogado que a questão da dependência do petróleo não é crítica para a humanidade, ou não é ao ponto de ser insolúvel a médio prazo, a recente, e brusca, transferência para produções de biocombustíveis de produções, ou de solos, até agora destinados a produção de alimentos, demonstra que as alternativas ao crude não aparecem sem apresentar factura. Para complicar a equação, acontece, em consequência da mesma razão fundamental ( o crescimento económico de dois gigantes populacionais) o crescimento exponencial da procura, eventualmente concorrencial entre si, de crude e de alimentos.
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A superação deste cenário de carência global de oferta energética (a fome é a mais dramática forma dessa carência) tem de sustentar-se i) na promoção de condições que aumentem a competência de populações até agora quase inibidas de concorrer nos mercados internacionais de alimentos, e a este propósito transcrevi atrás um editorial publicado hoje no Washington Post ii) na prosecução da procura de fontes alternativas de energia que não colidam com a produção de alimentos iii) na adopção de processos de aumento da produtividade energética iv) na adopção de medidas de racionalização dos consumos energéticos e de poupança de energia v) na recuperação de solos abandonados para o aumento da autosuficiência alimentar.
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Se os primeiros dois pontos se colocam aos portugueses primordialmente na sua condição de membros da União Europeia, a solução dos restantes passa por adopção de políticas que a Portugal compete, mas tarda, adoptar. A nossa dependência energética e insuficiência de produção alimentar só podem ser colmatadas com medidas inovadoras. Que estão a ser observadas na produção de energia eléctrica, mas não suficientemente na poupança de energia e no aumento da produtividade energética, e de forma ainda mais insuficiente no caso da produção de alimentos.

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