Saturday, April 05, 2008

MACROEXPRESSÕES

Paul Ekman, professor de Psicologia do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, foi entrevistado pelo Público, que o apresentou na sua edição da passada quinta-feira, 3, como um dos cem psicólogos mais influentes do século XX, e, para além de outras declarações interessantes, disse que
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"nós sabemos hoje que Tennant (chefe da CIA, na altura em que se discutia a existência de armas de destruição maciça no Iraque) estava a mentir a Bush, porque a CIA não tinha visto as armas. Mas Bush não sabia. Por isso, não mentiu. E quem eu responsabilizo é Tennant, embora possamos dizer que Bush não queria ouvir a verdade (...) O que acho é que ele quis acreditar que isso era verdade".
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A abordagem do prof. Ekman, especialista na análise das microexpressões faciais, e, ainda segundo o Público, a maior referência mundial na detecção de mentiras, acaba por inocentar todos aqueles que, de um modo ou de outro, apoiaram Bush na sua aventura do Iraque. Nomeadamente, Tony Blair, Aznar e Durão Barroso, com quem se juntou nos Açores, foram, a acreditarmos na tese de Ekman, iludidos por uma mentira que lhes foi vendida ao mesmo preço pelo preço que Bush a comprou. O culpado (bode expiatório de toda a tramóia), e só ele foi Tennant; para além dele não há culpados.
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Não ocorreu ao prof. Ekman indagar das razões porque mentiu Tennant, numa altura em que os inspectores internacionais poderiam demonstrar dentro de muito pouco tempo que, inequivocamente, não existiam armas de destruição maciça no Iraque, nem da forma como o mesmo Tennant se apercebeu daquilo que Bush queria ouvir e daquilo que não queria ouvir. A jornalista (Natália Faria) que o entrevistou não o confrontou com esta dúvida primária.
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De qualquer modo é notável que a discussão acerca da intervenção no Iraque fuja, normalmente, da abordagem que me parece a que melhor explica o que se terá passado e continua a explicar a razão pela qual os norte-americanos não vão sair de lá tão cedo: a necessidade das administrações norte-americanas, sejam elas quais forem, de garantirem por todos os meios o domínio daquela área do globo onde residem dois terços das jazidas de crude conhecidas.
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Aliás, é o mesmo Ekman que afirma que
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"os políticos, hoje em dia, estão sempre a ser pressionados para ssumir compromissos e isso deixa-os numa posição difícil. Hillary e Obama, salvaguardadas as diferenças, dizem que retiram as tropas do Iraque se ganharem as eleições. Mas nenhum deles pode na verdade antecipar o que vai encontrar se chegar ao poder. E isso não vai acontecer antesde Janeiro (...) NINGUÉM VOTARIA NUM POLÍTICO QUE NÃO FOSSE CAPAZ DE MENTIR"
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Segundo Ekman, esse não foi o caso de Bush na explicação das razões para a invasão do Iraque.
Alguém acredita nisso, para além de Ekman e dos que querem, por razões inconfessáveis, acreditar?

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