- O quê? Acabou-se o papel?!!! Como é que deixaram acabar o papel? Como?!!! O papel, a corda que lança a bóia à economia deste país sitiado? Quem?!!! Expropriem-se imediatamente a favor do Estado e por razões de sobreviência nacional todos os stocks de papel nos armazéns do país!!!
- Manel, ...
- Há papel!, há papel!, tem de haver papel a pontapés por aí!
- Manel, ...
- Há papel! Como é que não há papel?!!!
- Manel, posso falar?
- Fala! Mas não me digas que não há papel!
- Há papel ...
- Claro que há! Procurem-no!
- O papel para a rotativa é especial, já uma vez te disse isso ...
- E, depois?
- Depois, temos o crédito cortado e os fornecedores recusam-se a expedir novas remessas ...
- Quem são eles?
- Todos.
- Estamos, portanto, perante um bloqueio idêntico ao que colocou Fidel de Castro à prova. Terão a resposta que merecem!...
- ...
- Tenho uma ideia! Tenho uma ideia! Tenho uma ideia! ...
- ...
- Acaba-se com o papel moeda neste país!
- ...
- Mandámos o euro às malvas, agora vamos mandar a rotativa para o museu! E também as caixas multibanco, esse confessionário do capitalismo em cada esquina! Sabes como?
- Não estou a atingir, confesso ...
- Pois é fácil. Aliás, a ideia não é nova. Por onde é que tens andado? Não lês os jornais?
Plástico, menino! Plástico! O futuro está no dinheiro de plástico. E, melhor ainda, no virtual. É uma roda já inventada, menino. Mas nós vamos pôr a roda a rodar, fazer o que ninguém ousou fazer até agora. E ninguém ousou porque o papel moeda, para além dos trocos, é o meio de tráfico de negócios escuros que não deixam rastros. Acabaremos com eles! Com uma cajadada matamos todas as ratazanas que infestam a economia deste país. Não mais haverá corrupção sem vestígios, economia paralela, tráfico de droga, de armamento, de tudo o que engorda os ratos à custa do povo. E, sabes como?
- Continuo a não atingir...
- Te - le - mó - vel ! Telemóvel, menino. Através de um telemóvel podemos pagar, e portanto receber, tudo o que se quiser. É um cartão de débito sem cartão. Nunca ouviste falar?
- Tenho alguma ideia que sim...
- Pois é. Vamos ao trabalho e livremo-nos desses miseráveis papeleiros!
- Mas, Manel, ...
- Não há papel, já sei. Mas já não é preciso!
- Precisamos de telemóveis ...
- Toda a gente tem telemóvel ...
- Não sei se dão ...
- E porque não? Arrangem-nos!
- Há um pequeno detalhe, Manel ...
- Se é pequeno ...
- Mas é decisivo.
- E qual é, pode saber-se?
- Os fornecedores de papel são amigos dos fornecedores de telemóveis.
- Mas, afinal, o que é que se produz neste país?
- Papel, Manel. E do bom, segundo parece. Não dá é para notas.