Abstenção. Solteiro, jovem, não vai à missa, cidade pequena
Publicado em 15 de Setembro de 2009.
A entrada de 700 mil novos eleitores jovens vai levar à subida da abstenção.
Cai por terra o mito de que as mulheres votam menos do que os homens. Também fragilizada fica a ideia de que a esquerda é mais mobilizável para o voto do que a direita. E surge o retrato-robô do abstencionista-modelo português: tem menos de 30 anos ou mais de 65, é provável que seja solteiro e não religioso, de uma cidade pequena e com pouca escolaridade. Reage pouco às campanhas nacionais contra a abstenção e, dos partidos políticos, não está a receber a atenção necessária, que o leve a votar.
"Há muito a fazer, os partidos agem como se os abstencionistas fossem um bloco homogéneo de pessoas e usam uma mensagem comum, de marketing de massas", explica ao i Jorge de Sá, autor do livro "Quem se abstém?" apresentado hoje em Lisboa. "Não é por anúncios [campanhas nacionais contra a abstenção] que estas pessoas votam mais, mas pelo contacto mais directo dos partidos, que têm de segmentar os abstencionistas e adaptar a mensagem", acrescenta o director técnico de sondagens da empresa Aximage e especialista em marketing político.
O livro - resultado de dez estudos feitos no dia seguinte a todas as eleições e referendos entre 1998 e 2007 - defende que a abstenção voluntária nas eleições legislativas está directamente relacionada com o grau de integração na sociedade. Assim se explica que a entrada massiva das mulheres no mercado de trabalho tenha acabado com o fosso antigo face aos homens na participação eleitoral (ainda visível nos mais velhos). Ou que as pessoas casadas (ou em união de facto) tenham maior propensão para votar, uma vez que é mais provável que tenham casa própria (a responsabilidade financeira é "factor de integração social pelo consumo"). Ou, ainda, que os jovens - solteiros e mais afastados do mundo do trabalho - sejam os que menos votam (um dado que, tendo em conta a entrada de 700 mil novos eleitores jovens vai levar à subida da abstenção, reconhece Jorge de Sá). As pessoas entre os 40 e os 59 anos são as que mais votam.
Também relacionado com o factor integração social está a prática da religião dominante em Portugal - "a propensão à abstenção [é] significativamente menor entre os auto-definidos católicos praticantes", aponta Jorge de Sá. ("Portugal a Votos", feito em 2002 pelo Instituto de Ciências Sociais, fixava em 13,7% a abstenção de quem ia à missa uma vez ou mais por semana, face a 33,5% dos que nunca iam). Da mesma forma, as pessoas de meios muito pequenos (com laços mais fortes) ou de Lisboa e do Porto (com um grupo alargado de relações) tendem a votar mais.
Quem está fora destes critérios tem maior probabilidade de fazer parte dos abstencionistas selectivos, cerca de 37,5% dos que não votam. Peso idêntico têm os abstencionistas flutuantes (devido a saúde ou motivos profissionais). No fim vêm os crónicos, que nunca votam - 25% dos abstencionistas, 10% do eleitorado total.
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4 comments:
Está é tudo farto de aldrabões, de ladrões, de corruptos e de incapazes, que é o que são os políticos deste miserável país.
Há pior, António, há muito pior.
Logo, logo pior que os que temos, são os do Mugabe.
Aliás estes estão mesmo a ponto de tornar isto no Zimbabué da Europa.
É obra!
E se há piores, como você diz, o que ganhamos com o mal dos outros?
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