Sunday, January 09, 2011

EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA

"... a mudança já só pode chegar de eleitores mais informados e mais exigentes, que obriguem os partidos de governo a mudar de atitude. A ( ) esperança radica na quase certeza de que a nova geração que está a sair das universidades já não se deixará enganar."

Será assim mesmo?
O nível educativo, induzindo mais informção e capacidade para a interpretar, inevitavelmente conduzirá a uma sociedade democraticamente mais robusta? 
Tenho dúvidas.

Não duvido que o crescimento do  nível educativo médio de uma sociedade é condição necessária à consolidação democrática. Mas não é condição suficiente. Mais formação e informação, quando postas ao serviço dos interesses de um grupo ou duma classe, podem mesmo mancomunar-se e abalar os alicerces da democracia. A trave mestra da democracia assenta em valores morais que não se adquirem na escola se não estiverem impregnados na sociedade.

A crise financeira global que despoletou nos EUA e se propagou, sobretudo, ao resto do mundo ocidental foi forjada por gente altamente preparada e muito ciente dos objectivos dos seus actos: o benefício do seus próprios interesses. O uso da força sindical por parte da função pública, e nomeadamente dos professores, compromete a democracia,  porque abusa do seus princípios, para favorecer os seus propósitos de maximização das suas vantagens à custa daqueles que não dispõem de força idêntica. O artigo publicado pelo Economist desta semana,  e de que coloquei  links (aqui), é muito expressivo acerca do abuso da liberdade democrática.

Um exemplo doméstico:  A Câmara de Oeiras.
Oeiras é o concelho com maior número de licenciados relativamente à população residente, com o mais elevado nível médio de salários e o segundo PIB/capita do país.
O actual presidente tem o curriculo que se conhece. É reeleito sucessivamente e, inclusivé, passa a contar com o apoio de eleitos pelo PS e PSD para conseguir a maioria na vereação e na AM.
Repito : não tenho qualquer dúvida que o nível de instrução é fundamental ao exercício consciente e consistente da democracia mas não é condição suficiente.
A conscência cívica não se adquire sobretudo nos bancos da escola, mesmo nos bancos das escolas superiores. Decorre de um processo evolutivo, amassado de tentativas e erros, que pode exigir muitas décadas.

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