"Toda a dívida em euros seria convertida por decreto em 'neoecudos'. A imediata desvalorização da nova moeda significaria uma importante e automática reestruturação da dívida externa. Se os bancos alemães estão no negócio, estão para ganhar ... e para perder. Tivessem avaliado melhor o risco do crédito." (aqui )
Que Portugal está metido numa camisa de onze varas e não vai conseguir desenvencilhar-se dela com tentativas mansas parece-me mais que evidente. Com o endividamento, e muito particularmente o endividamento externo do Estado, a continuar a crescer, com o défice comercial cronicamente deficitário, com o crescimento económico estaganado ou mesmo às arrecuas, o crescimento imparável dos juros acabará por asfixiar a capacidade do governo, deste ou doutro qualquer, para continuar a enrolar a manta.
Claramente, Portugal não vai conseguir pagar o que já deve sem reestruturar a dívida. Quanto mais tarde o fizer tanto pior, porque os monstros não param de crescer. Mas essa reestruturação não pode fazer-se à papo-seco. Há quem pense que sim, que se pode de um momento para o outro sair do euro e dizer aos credores que os euros se acabaram cá por estas bandas e que quem quiser que aceite o que temos para lhes entregar por troca. E que quem não quiser que se dane.
Ora as coisas não são tão fáceis como alguns espontâneamente julgam. Uma decisão unilateral inplicaria imediatamente uma reacção da comunidade internacional, e muito particularmente da União Europeia, que nos albanizaria sem apelo nem agravo. Quem deve e não pode pagar só tem uma solução: negociar. E deve fazê-lo quanto antes.
Por outro lado, à saída do euro como uma das formas de solução dos problemas de falta de competitividade da economia portuguesa é um sofisma com que se pretende ignorar as reais razões dessa falta de competitividade. A competitividade monetária é sempre uma muleta que alguém tem de arrastar.
É curioso que são sobretudo aqueles que clamam contra o modelo errado da sustentação da competitividade da economia com recurso à política de salários baixos que mais acirradamente defendem o inevitável retorno a uma moeda desvalorizada como forma de recuperação de uma economia anémica. Porque o que defendem é precisamente uma redução real dos salários camuflada pela inflação.
Acresce que a contradição de propósitos é ainda mais flagrante quando defendem que os aumentos salariais não têm impacto significativo no custo final dos produtos porque a parcela dos salários é muito minoritária no cômputo total, mas vêm na desvalorização da moeda um dos factores decisivos para o aumento da competitividade. Em que ficamos: Se a parcela é reduzida, e é frequentemente, porque nas indústrias de baixa tecnologia a fatia maior é a dos semi-produtos importados, que impacto poderá ter uma desvalorização monetária no custo final suportada por uma redução real dos salários? Muito pequeno.
Mas o impacto que tiver sairá sobretudo dos bolsos dos trabalhadores iludidos por uma moeda com mais zeros à direita, que na realidade valem tanto como um zero à esquerda.
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