Portugal conseguiu colocar a totalidade da dívida que leiloou hoje, tendo no caso das obrigações a dez anos os juros descido ligeiramente, para 6,716 por cento, mas subido 33,5 por cento para o prazo de quatro anos.
O Estado pretendia colocar 750 milhões a 1250 milhões de euros no leilão de duas linhas de Obrigações do Tesouro, tendo colocado 1249 milhões. A procura para o total das duas linhas foi de 3600 milhões de euros, o que representa 2,88 vezes a oferta. Esta procura foi superior à das últimas emissões.
São boas notícias?
O ministro das Finanças considerou que a operação de emissão de dívida de hoje foi “um sucesso” e que “perante isto, não há necessidade” de recorrer a ajuda externa.
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Foi um sucesso porque a procura representou 2,88* vezes a oferta? Não parece. A procura teórica tem largamente ultrapassado a oferta nos últimos leilões mesmo quando os juros subiram acima dos 7%. Trata-se de uma peneira com que os governantes têm tentado encobrir a realidade. A procura real não tem excedido a oferta em tal medida, nem tão pouco parecida. Se a procura real quase triplicasse a oferta ou os juros teriam descido drasticamente ou as leis da oferta e da procura teriam de ser mandadas para o cesto do lixo.
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Foi um sucesso porque os juros se situram aquem dos 7%? Se se tivessem situado acima, haveria necessidade de recorrer a ajuda externa? Não me parece. Ainda ontem o PM tinha reafirmado que não havia necessidade de recorrer a ajuda externa. 7% é apenas um patamar sem significado muito relevante para a capacidade de Portugal poder prescindir da ajuda externa. Os níveis da dívida e dos juros num contexto económico estagnado ou mesmo recessivo, lamentavelmente, não consentem o optimismo que o governo continua a querer mostrar.
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"In psychology, there is phenomenon called escalating commitment. Once one takes a position, one feels compeled to defend it.", afirma Stiglitz a páginas tantas de "Freefall".
Será o caso?
Realce-se, no entanto, o facto de a generalidade dos comentadores e políticos a nível internacional, incluindo Merkel, considerarem a operação um sucesso. Oxalá não opinem, pública ou por encomenda, em sentido contrário num futuro próximo.
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* Segundo o Correio da Manhã, a procura excedeu 3,2 vezes a oferta (aqui )
Realce-se, no entanto, o facto de a generalidade dos comentadores e políticos a nível internacional, incluindo Merkel, considerarem a operação um sucesso. Oxalá não opinem, pública ou por encomenda, em sentido contrário num futuro próximo.
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* Segundo o Correio da Manhã, a procura excedeu 3,2 vezes a oferta (aqui )
10 comments:
Não me parece que tenha sido um sucesso. Foi antes o culminar de um fenómeno de passividade. Passividade colectiva, do PM, do Ministro das Finanças, da Sociedade Internacional, dos portugueses. Aproveite-se para uma excurso ao conceito de depressive realism(vd. aqui, http://en.wikipedia.org/wiki/Depressive_realism), que, por oposição ao optimistic bias, seria extremamente útil para Portugal neste momento.
"Não me parece que tenha sido um sucesso."
Pois a mim também não, mas oxalá estejamos enganados.
Virtus in medio est...
"In psychology, there is phenomenon called escalating commitment. Once one takes a position, one feels compeled to defend it." O que diz esse psicólogo Stiglitz,que desconhecia,
é verdade: não são os estímulos que induzem respostas mas estas é que condicionamaqueles.
Oque,aplicado ao caso que comentas,
não tira nem põe,porque o mesmo se aplica a toda a oposição,que criticou a palavra 'sucesso'.Assim sendo todos têm razão (ou nenhum a tem),porque a inteligência é emocional.E mesmo racionalmente é igual:é sucesso se comparado com o esperado, é insucesso se comparado com a grandeza dos juros.A mim nunca me pareceu que a linguagem da polícica fosse a da lógica.
Sucesso é isto:
Um tipo está a morrer afogado na piscina.
Depois de beber três litros de água cheia de cloro e xixi, afunda 30 segundos, vem acima e respira. Sucesso!
Afunda novamente, bebe mais três litros divididos por bucho e pulmões, consegue vir acima e ainda tem espaço para 3 centimetros cubicos de ar com vapores de cloro. Respira aquilo.
SUCEEEESSSSSOOOOO!!!!!!
À terceira, é de vez. Morre.
Francisco,
Stiglitz foi Nobel da Economia em 2001.
A frase não é dele, é uma citação.
Admito que no texto transcrito possa fazer confusão.
"Sucesso é..."
Atingir os objectivos.
E eu não penso que qualquer objectivo tenha sido atingido por enquanto.
Estaremos a caminho? Estamos concerteza. Mas de qual?
Não há alternativa a esperar para ver.
Vai ser um sucesso todas as semanas.
O objectivo vai ser atingido. Não pode haver vacilações. Este governo, mais quem lhe deu posse, vai atingir o seu objectivo. Está a custar chegar lá, mas nada é impossível...É que quando estamos quase, quase a atingir o objectivo, vem sempre alguém deitar-nos a mão.
Que chatice!
"Vai ser um sucesso todas as semanas."
A ver vamos. Está já marcada a próxima ida ao mercado para o dia 19.
Oxalá os juros continuem a baixar.
Mas as opiniões de Krugman e do Economist, que transcrevo hoje não são optimistas, bem pelo contrário. Lamentavelmente.
Oxalá os juros continuem a baixar.
Para quê? Então você é dos que acredita que algum dia vamis conseguir pagar alguma coisa?
Nem que duplicássemos a população, fosse tudo trabalhar, houvesse produção e produtividade, mais a tal rentabilidade, nem daqui a 500 anos se pagaria o que se deve, mais o que se vai dever.
Fora a questão de se produzir alguns dinheiritos, os políticos auto-aumentavam-se logo.
A solução não é pedir, pedir, pedir, pedir. Ó sucesso de que fala, é o dos pedintes que todos os dias levam uns troquitos para casa. Dá para tabaco e copos? Os filhos e a mulher que se lixem.
Nem tanto ao mar, António, nem tanto à terra.
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