Wednesday, February 23, 2011

OS ÁRABES - 5

Volto ainda ao tema porque o mundo está neste momento, e não se sabe por quanto tempo mais, de olhos postos nos homens das Arábias. 

Brandão de Brito atribui num comentário hoje colocado no Quarta República - Raiz macroeconómica das revoltas árabes - as causas próximas das revoltas às injecções de liquidez para suturar a crise, e que, inevitavelmente estão a provocar o crescimento dos preços das commodities em geral, sendo particularmente gravosos para os povos de muito baixos rendimentos os aumentos dos preços dos alimentos. 

É curioso notar que o vídeo publicado no Economist, e ao qual aqui ontem fiz referência, apontando os ingredientes das revoltas, não faz referência às raízes da inflação que para Brandão de Brito são as mais determinantes. 

Que o aumento dos preços dos bens alimentares é uma das causas imediatas das revoltas árabes, parece-me incontroverso. Aliás, se a tendência actual se mantiver, e porque as mesmas causas tendem a provocar os mesmos efeitos, outras revoltas poderão vir a observar-se noutras paragens do globo. Em África, Angola, por exemplo, reune todos os ingredientes da receita.
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O aumento dos preços dos alimentos será talvez a gota de água que entorna o copo. Não se sabe, no entanto, quem em última análise tirará proveito do tombo.

11 comments:

António said...

Na Argélia o vinho está caríssimo e o pipol vê-se aflito para apanhar o pifo diário. Qualquer dia dá sarilho.

rui fonseca said...

É muito provável.
O problema é que cá em casa o fogão é a gás e se o fornecimento é cortado na Argélia não há com que cozinhar a sopa.

António said...

Tem de comprar um que não seja a gás. Um a lenha, por exemplo.
A falta de melhor, vai queimando a mobília.
E pode fazer barulho com quem fez o contrato de fornecimento. Deviam lá ter posto uma cláusula que os impedisse de fechar a torneira.
Em caso de não ligarem ao assunto, ameaçamos os tipos que lhes mandamos pela tubagem os políticos que cá temos, mais o senhor Sabastião da concorrência.
Recuam logo!

rui fonseca said...

Boa ideia.
Vou pensar nisso.
Só tenho dúvidas quanto ao Sebastião. O que é que ele pode fazer, neste caso, para além de receber o ordenado?

Unknown said...

"O que é que ele pode fazer, neste caso, para além de receber o ordenado?"

Pode ser um tipo honesto e dizer que é manipulado.
Pode deixar o lugar e dizer porquê.

Mas como nem é honesto nem tem espinha dorsal, deixa-se andar. Enquanto isso, tenta enganar o pessoal. Tarefa vã. Mesmo bovinamente quietos, não acreditamos numa só palavra de tal lacaio.

rui fonseca said...

"Pode ser um tipo honesto e dizer que é manipulado."

Não sei se é o caso.
Mas sei que a única forma de baixar os preços é baixar os consumos. Administrativamente é uma tarefa quase impossível.
Repare: As petrolíferas não precisam de se encontrarem para aumentar preços. Se o aumento da procura (ou a redução da oferta) anima o aumento de preços eles seguem uns atrás dos outros sem necessidades de acordos para o fazerem.

António said...

"Mas sei que a única forma de baixar os preços é baixar os consumos."

Não concordo consigo.Mais uma vez você está desatento e vai na conversa deles.Sabe quantos milhares de carros deixaram de andar todos os dias? Só nas duas pontes de Lisboa, quantos deixaram de a atravessatr todos os dias? E nas AE's pergunte à Lusoponte e à brisa. Isso não representa nada em termos de redução de consumo?
Ou você acha que de 600 e tal mil desempregados nenhum andava de carro?
Reduzir o consumo? Quem? Os que ainda mexem e fazem mexer este país?
Tretas.

António said...

E quer mais?
Porque não pergunta à galpa porque não mexe nas suas margens de lucro para baixo em vez de o fazer para cima?
Ou não sabia disso?
Porque será que você pensa que toda a gente que anda de carro, anda a passear?

António said...

O respeito que tenho por si, embora não o conhecendo, impede-me de continuar a dizer-lhe coisas como as que disse aqui atrás.
Por isso e porque fiquei incomodado com o que lhe disse, mas não retiro, vou ausentar-me da sua companhia, pelo menos durante algum tempo.

rui fonseca said...

"vou ausentar-me da sua companhia, pelo menos durante algum tempo."

Lamento muito.

Mas não percebo o que é que o levou a essa reacção.

Também eu penso que o Sebastião anda a fazer papel de embrulho. O que eu não sei é como é que ele poderia proceder de outro modo.
As margens da Galp são calculáveis facilmente e eles devem ter procedimentos que lhes permitem caculá-las ao minuto.

Pode o governo impor efectivamente administrativamente restrições a essa margens? Duvido.

Poderia levantar um processo anti-cartel?

Nas subidas dos preços das commodities o cartel não precisa de intervir como tal. Sai um e os outros vão atrás.

O que é que faz os preços subirem ou descerem consistentemente? Os preços do crude, cujas variações dependem dos aumentos de procura ou de reduções de oferta, como é a situação actual.

Quando eu refiro reduções de consumos não me estou a referir a reduções de consumos pela utilização de carros mas de todos os consumos.

Mas, se analisarmos os carros apenas, repare que há muito consumo evitável. No IC19 Lisboa-Sintra-Lisboa, e na A5 Lisbao-Cascais a média de ocupação é de 1,2 passageiros por veículo.
A maioria é apenas um passageiro. Isto não é normal em sociedades mais ricas mas melhor organizadas.

Aos Sábados e Domingos o trânsito no IC 19 e A5, a ocupação é superior mas a densidade de tráfego é a mesma.

Mas onde se gasta mais energis é na indústria e os níveis de eficiência de utilização de energia (energia consumida/PIB) é dos mais elevados da UE.

Como vê, o consumo dos carros terá a sua quota parte, mas é pequeníssima comparada com outros factores muito mais relevantes.

A guerra na Líbia, por exemplo.

E o mundo só se livrará da Líbia, Arábia Saudita, etc., se avançar decididamente para a utilização de outras formas de energia de modo a reduzir a terrível dependência do petróleo.

rui fonseca said...

Correcção:

"é dos mais elevados da UE..."

O rácio é dos mais elevados, donde a eficiência é das mais baixas.
Para o mesmo nível de produto produzido consumimos mais energia.