Martin Wolf volta hoje ao tema da insustentabilidade do modelo alemão para a eurozona. A ideia é simples: A Alemanha exporta demais e consome de menos, precisamente o contrário do que fazem outros países, nomeadamente a Grécia e Portugal. Como os desequilíbrios comerciais entre os membros da eurozona provocam crescimentos insustentáveis da dívida dos deficitários o modelo alemão não é suportável pela eurozona. A perspectiva de Martin Wolf é também a de muitos outros analistas, que se situam geralmente fora da eurozona.
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Em última análise trata-se de uma tese que conclui pela inviabilidade da moeda única, ou pelo menos pela sua inviabilidade dentro de um espaço económico heterogéneo não integrado politicamente. A partir daqui o corolário é óbvio: ou o euro se extingue, ou a eurozona se reduz ou a União Europeia avança para a integração política.
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Na primeira e segunda hipóteses, o futuro da União Europeia estaria irremediavelmente comprometido. O euro, com todos os custos (mas também as vantagens, geralmente desvalorizadas em situações de crise) é reconhecidamente o cimento da construção europeia. Sem moeda única a UE desmoronar-se-ia, mais cedo ou mais tarde, com os embates de desvalorizações monetárias competitivas entre os seus membros. A terceira hipótese será ainda durante muitos anos uma miragem.
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A hipótese mais provável é aquela que se encaminhe para a integração contratualizada: uma integração não assumida mas que garanta a unidade europeia sustentada em ajudas aos países em dificuldades mediante compromissos controlados. Se esses compromissos forem rejeitados pelas populações dos países ajudados, nomeadamente por convulsões sociais imparáveis, a integração não progredirá e a União Europeia ou se desintegra ou se contrai.
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Quando ainda há bem pouco tempo o alargamento ou não à Turquia era tema dominante, é muito sintomático da era da incerteza em que vivemos a mudança brusca das preocupações centrais da Europa. Preocupações que, contudo, chegam ao cidadão comum de forma difusa porque não lhe explicam claramente as vantagens e os custos da cidadania europeia. E que alguns desses custos implicam alguma imitação dos hábitos alemães que estão na base da prosperidade que atingiram. A pontualidade, a exigência, a honestidade, por exemplo.
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A tese de Martin Wolf parece-me, portanto, redutora: Porque vê nas imposições alemãs uma obstinação inexequível sem admitir que a construção europeia só pode fazer-se através de negociações permanentes entre os seus membros mas que, incontornavelmente, há membros que são mais membros que outros enquanto não forem mais semelhantes.