Friday, March 12, 2010

À ESPERA DA ALEMANHA - 3

Ontem, comentei aqui um artigo de Martin Wolf publicado anteontem no Financial Times que cometia à Alemanha a obrigação, e o interesse próprio, de aumentar a sua despesa interna e, deste modo, reduzir os desequilíbrios comerciais com os países periféricos da zona euro. No meu comentário referi que, só por si, ao aumento de maior consumo alemão não corresponde automaticamente maior dinamização das economias com maior défice comercial. Constato hoje que, num artigo publicado ontem no JNegócios, que transcrevi aqui, V. Bento refere, entre outras dificuldades na gestão da situação complicada em que a zona euro se encontra, a necessidade incontornável de as economias perifaricas ganharem competitividade sob pena de os efeitos de uma maior procura alemã irem cair noutras bandas.
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Acrescenta V. Bento aquilo que há muito tempo vem dizendo: a recuperação da competitividade das economias que viram os seus custos subirem acima dos ganhos de produtividade na última década só pode ser alcançada, no curto prazo, através de medidas deflacionistas, isto, é da redução dos salários, ao mesmo tempo que a barreira inflacionista de 2% do BCE deve ser levantada para os outros países da zona euro e, nomeadamente, a Alemanha. Quaisquer apoios financeiros sem a conjugação daquelas condições não produzirão efeitos sensíveis. Comentei em sentido idêntico aqui.
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Do que não me referi, porque continuo a duvidar que se realize, foi da mobilização dos alemães para pouparem menos e aceitarem um crescimento dos preços internos acima dos níveis a que há muitos anos se habituaram. Seis décadas depois, o fantasma da inflação continua a atormentar a memória colectiva alemã, e tenho as maiores dúviadas que possa ser espantado tão cedo.
Por outro lado, o BCE pode ter tido grandes culpas no cartório por muita indisciplina a que fez, propositadamente ou não, vista grossa. Mas são culpas de que os alemães se sentem, e com razão, totalmente alheios.

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