Circula na Internet desde Janeiro deste ano.
Chegou-me hoje por e-mail. Desconheço que em é a autora, salvo o nome com que subscreve.
Tenho repetidamente anotado neste caderno muito do que substancialmente esta carta contem
Por isso a transcrevo quase na íntegra.
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CARTA ABERTA A PEDRO PASSOS COELHO
...
não sou hipócrita ao dizer frontalmente o que sinto, na pele
daquilo que é hoje o meu estatuto: pensionista, reformada APÓS 49 ANOS DE
TRABALHO. Mais anos do que aqueles que tens de vida, Pedro.
Falemos sério, Pedro. Porquê essa obstinada perseguição àqueles
que construíram riqueza nacional ao longo de muitos anos de trabalho, enquanto
tu, Pedro, crescias junto de pais que, creio, trabalhavam para tudo te darem, e
que hoje não valorizas como esforço
enquanto cidadãos e enquanto pais?
Porquê essa perseguição obsessiva àqueles que construíram um país
de verticalidade, de luta e resistência, enquanto caminhavas nas hostes dos
boys de um partido disponível para compensar aqueles que gostam de “engrossar”
a voz, mesmo que desrespeitando os que tudo fizeram pela conquista do espaço
democrático, onde cresceste em liberdade? Uma liberdade conquistada, muito
suada, e por isso ainda mais digna de ser respeitada.
Respeito, Pedro, é o que se exige por aqueles que hoje persegues, lesto e presto sem sentido, como que procurando um
extermínio que não ousas confessar.
Falemos sério, Pedro. É tempo de falares sério, apesar do
descrédito em que caíste. E falemos sério sobre reformas, sobre pensionistas e
sobre Segurança Social.
Não fales sobre o que desconheces. Não te precipites no que
dizes. Não sejas superficial, querendo
parecer profundo apenas porque, autoritariamente, “engrossas” a voz. Não
entregues temas tão complexos ao estudo de “garotos”, virgens no saber-fazer.
Não entregues estudos a séniores que, vendendo a alma ao diabo, se prestam a
criar cenários encomendados, para servirem os resultados que previamente lhes
apresentaste, Pedro. E os resultados são, como podemos avaliar, desastrosos,
Pedro. Económica e socialmente.
...
Vamos por fases cronológicas que te aconselho a estudar:
a)
Pedro, por acaso sabes que o sistema que hoje se designa por
“Segurança Social” deriva da nacionalização – pós 25 de Abril – das “Caixas de
Previdência” sectoriais, que antes existiam?
b)
Por acaso sabes, Pedro, que o Estado português recebeu, sem
qualquer custo ou contrapartida, os fundos criados nestas Caixas de
Previdência, a partir das contribuições dos trabalhadores e dos seus
empregadores?
c)
Por acaso sabes que a Caixa Geral de Depósitos – Banco estatal de
Valores e de credibilidade inquestionável – é, acrescidamente, património dos
muitos reformados e pensionistas que hoje somos? É, Pedro, a CGD era o Banco
obrigatório por onde passavam as contribuições destinadas às Caixas de
Previdência, mas entregava a estas, as contribuições regulares, apenas 4, 5 e 6
meses depois. Financiando-se com estas contribuições e sem pagar juros às
Caixas, Pedro?
Por isso sou contra
qualquer alienação da CGeral. Também está lá muito de mim. Um muito que deveria
estar na Segurança Social nacionalizada…para ser bem gerida.
d)
Sabes por acaso, Pedro, que o Estado Português nunca reembolsou a
Segurança Social pela da capitalização que conseguiu com a “nacionalização” das
Caixas, como o fez aos Banqueiros?
e)
Saberás, Pedro, que a “nacionalização” das Caixas de Previdência”
se deve à necessária construção de um verdadeiro Estado Social, para o qual, maioritariamente, é a Segurança
Social que contribui, sem as devidas e indispensáveis contribuições do Estado?
Um Estado Social criado de base a partir dos “dinheiros” pertença daqueles que
hoje são reformados e pensionistas. E que por isso exigem respeito pelo seu
contributo mas, igualmente, exigem sejam bem geridos, porque ao Estado foram
confiados contratualmente. Para me serem reembolsados mais tarde.
E boa gestão, Pedro,
é coisa que não vejo na Segurança
Social, sujeita a políticas de bastidores duvidosas e para as quais nunca fui
consultada. Acredita, Pedro, os
reformados, pensionistas e aposentados, sabemos o que dizemos quando afirmamos
tudo isto, porque ainda temos muita capacidade – suportada por uma grande e
valiosa experiência – para sermos um verdadeiro governo de bastidores. Com
mestria, com sabedoria, com isenção e sem subserviências.
f)
Por acaso sabes, Pedro, que a dívida do Estado à Segurança Social
é superior à dívida externa, hoje nas mãos da chamada “troika”?
Pois é, Pedro, a
dívida sob o comando da troika é de 78 mil milhões de Euros, é? A dívida à
Segurança Social, aos milhões de contribuintes, muitos deles hoje reformados, é
de 80 mil milhões de dívida. Valor que cresce diariamente, porque o Estado é um
mau pagador. Uma dívida que põe em causa não só os créditos/reembolsos aos
reformados e pensionistas, na forma contratada, mas igualmente as
obrigações/compromissos intergeracionais.
Porque estás tão
preocupado em “honrar” os compromissos com o exterior e não te preocupas em
honrar os compromissos para com os credores internos que são, entre muitos, os
aposentados, os reformados e os pensionistas, antes preferindo torná-los no
“bombo de festins” de um governo descontrolado?
Falemos sério, Pedro. Reabilita-te com alguma honra, perante um
programa eleitoral que te levou, precocemente, ao lugar que ocupas. Um lugar de
representatividade democrática, que te obriga a respeitar os representados.
Também os reformados, aposentados e pensionistas votam.
... Pedro, vou dar-te
o meu exemplo, apenas como exemplo de muitas centenas de milhar de casos
idênticos.
a)
Trabalhei 49 anos. Fui trabalhadora-estudante. E sem Bolonhas e/ou
créditos, licenciei-me com 16 valores, a pulso. Nunca fui trabalhadora e/ou
estudante de segunda. E fui mãe, num pais em que, na época, só havia 1 mês de
licença de maternidade e creches a partir dos dois anos de idade das crianças.
Como foi duro, Pedro. E lutei, ontem como hoje, para a minha filha, a tua
Laura, as tuas filhas e muitas mais jovens portuguesas, terem mais do que eu
tive. A sociedade ganha com isso. O Estado Social também tem obrigações pela
continuidade da sociedade, pela contínua renovação geracional. Lutei, Pedro, muito
mesmo e sinto muita honra nisso como me sinto orgulhosa do que conquistou a
minha geração.
b)
Fiz uma carreira profissional, também ela dura, também ela de
luta, numa sociedade que convencionou dar supremacia aos homens. Um poder dado,
não conquistado por mérito reconhecido, Pedro. Por isso tão lenta a caminhada
pela “Igualdade”.
c)
Cheguei ao topo da carreira, mas comecei como praticante. Sem
“ajudas”, sem “cunhas”, sem “padrinhos” e/ou ajuda de partidos. Apenas por
mérito próprio, duplamente exigido por ser Mulher. Um caminho que muito me
orgulha e me enformou de
Valores, Honra e
Verticalidade. Anonimamente, mas activa e participadamente.
d)
No final da minha carreira profissional, eu e os meus
empregadores, a valores capitalizados na data em que me reformei, (há dois
anos) tínhamos depositado nas mãos da Segurança Social cerca de 1 milhão de
Euros.
Ah! É bom que se lembre
que os empregadores entregam as suas contribuições para a conta do/a seu/sua
funcionário/a. Não é para qualquer abutre esperto se apropriar dele. O modelo
que Churchil idealizou – e protagonizou – após a 2ª guerra mundial. Uma
compensação no desequilíbrio entre os rendimentos do Capital e os do Trabalho,
e que foi adoptado em Portugal ainda antes do 25 de Abril.
Quase um milhão de Euros, Pedro. Só nos
últimos 13 anos de trabalho foram
entregues 200 mil Euros à Segurança Social, entre mim e o empregador.
A minha pensão vem daí, Pedro. De tudo o
que, confiadamente, entreguei à gestão da Segurança Social, num contrato
assinado com o Estado Português. E já fui abrangida pelo sistema misto. E já
participei no factor da sustentabilidade, beneficiando o Estado Social.
e )Mas
há mais, Pedro. A esse cerca de 1 milhão
de Euros, à cabeça dos cálculos da minha pensão, retiraram às minhas contribuições, à minha “conta”, 20%, ou seja 200 mil Euros. Como
contributo para o Estado Social. Para a satisfação do compromisso que devo para
com as gerações seguintes. Para o Serviço Nacional de Saúde, para um melhor bem
estar da sociedade portuguesa.
E o dinheiro que se encontra – em
depósito – nas mãos do Estado português através da Segurança Social, é de cerca
de 800 mil Euros. Que eu exijo bem gerido e intocável.
f) Valor que, conforme os meus indicadores
familiares (melhores que a média das estatísticas) da esperança de vida
(85 anos em média), daria para uma pensão
anual de 40.000€ actualizada anualmente
pela capitalização dos meus fundos. É bom que saibas que, sobre este valor, eu
pagaria cerca de 16.000€ de IRS, fora os demais impostos. Mas, por artes de uma
qualquer “engenharia financeira” nunca recebi nada disto.
Mas se aquele valor, que foi criado pelas contribuições de tantos
anos de trabalho, estiver nas minhas mãos e sob a minha gestão, matéria em que
fui profissional qualificada e com provas dadas, eu serei uma Mulher que poderá
dormir descansada, porque serei
independente para mim e para ajudar filhos e netos, sem ter que acordar
de noite angustiada.
É, Pedro, falemos sério e honra os compromissos que o Estado tem
para comigo. Dá instruções ao Ministério da Solidariedade Social(?) para que me
entregue o “meu dinheiro”. O MEU, Pedro!
E vou refazer contas:
a)
De modo frio, direi que o Estado tem que pôr à minha disposição os
100% de contribuições que lhe foram confiadas, ou seja, os cerca de 1 milhão de
Euros.
b)
Arredondando, e muito por excesso, descontando os valores de que já fui reembolsada, o Estado português
deve-me 900.000€. É esta a verba que quero que o Estado português me pague,
porque é este o valor de que sou credora.
c)
Gerindo eu esta verba podes crer, Pedro, que só com os rendimentos
que obtenho da sua aplicação, e já depois de impostos pagos, terei mais do que
o valor que tenho hoje como pensão. É simples, Pedro, e deixo de ser uma “pedra
no sapato” dos governantes. Deixo de ser “um impecilho” na boca de “garotos”
que não sabem o que dizem. E, de uma Mulher anónima com honra e verticalidade,
que sou hoje, passo a ser uma Mulher rica, provavelmente colunável, protegida
por todos os governantes, mesmo que a ética perca a sua verticalidade e a moral
passe a ser podre.
Mas porque é tempo de falares sério, Pedro, fala aos portugueses a
verdade sobre assuntos que nos interessa:
-
quanto é que o cidadão e político Pedro Passos Coelho já descontou para a
Segurança Social e/ou ADSE? -
quanto receberias hoje de reforma se, conforme as excepções de privilégio na
lei, te reformasses? -
quanto descontam os deputados e demais políticos para a Segurança Social ou
ADSE? - qual
o montante de reforma a que têm acesso, privilegiadamente, e ao fim de quantos
anos de exercício da política, independentemente da sua idade? -
Quem, e quanto recebem de reforma vitalícia, ex-governantes e outras figuras
políticas, só pelo exercício de alguns anos em cargos públicos?- qual
o sistema de Segurança Social que suporta estas reformas e a quem pertence esse dinheiro? São os OE’S
que o suportam, ou são os “dinheiros” daqueles que contribuíram e/ou contribuem
para o Sistema? -
sendo o Estado uma entidade empregadora, qual o valor da sua contribuição (%)
para a ADSE ou Segurança Social, por trabalhador? E as contas, estão
regularizadas?
Falemos sério, Pedro! Os reformados exigem a verdade mas,
igualmente, exigem respeito, por nós e pelo nosso dinheiro que, abusivamente,
vai alimentando o despesismo de um Estado que vive de mordomias elitistas,
acima das capacidades do país. Isso sim, Pedro!!!!!!!!
A reformada,
M.Conceição Batista
Lx. 19/01/2013
PS – Aguardo que me seja entregue o meu dinheiro, conforme
mencionei atrás. Tenho vida a organizar.