Tuesday, May 14, 2013

A CULPA DO POVO

 
 
 
De passagem para outro canal encontrei o professor António do Pranto a atribuir ao povo as culpas da crise. Porque, dizia ele, se foram feitos (disparatados) investimentos públicos foi porque o povo assim o quis. Ele, que não é povo, alertou os seus conterrâneos que seria uma irracionalidade económica a construção de um estádio para futebol em Aveiro, mas foi olhado de esguelha e a obra fez-se. 
 
O estádio arquitectado por Tomás Taveira tornou-se, pouco tempo depois, uma quase inutilidade e um quebra-cabeças para o município local. Mas foram os aveirenses que decidiram construir um estádio na sua terra? Não custa acreditar que se regozijaram com essa possibilidade mas, obviamente, a decisão foi tomada noutra sede.

Há nestas frequentes acusações ao povo das opções tomadas pelos políticos uma óbvia intenção de sacudir a água do capote por parte daqueles que são objectivamente culpados das consequências desastrosas resumidas na crise em que nos afundaram. Mesmo quando a forma de imputação é outra as intenções são as mesmas. Somos todos culpados, é uma dessas afirmações que recorre a uma generalização gratuita para iludir a opinião pública e desculpabilizar os responsáveis.

É o caso do professor do Pranto: secretário de Estado do Tesouro e das Finanças do XIV Governo Constitucional (1999-2000), foi depois membro do Conselho Nacional do PSD, entre 2008 e 2011, tem acumulado cargos em várias empresas públicas e privadas. Enquanto membro do segundo governo de António Guterres esteve, certamente, muito próximo da gestação do esbanjamento de dinheiros públicos em obras que excederam largamente as exigências da organização do Euro-2004. Alguém o ouviu publicamente discordar?

Sendo, nestes casos, o desplante gratificante, o professor do Pranto aguarda, agora que sopra vento de mudança na Caixa, que  o senhor Passos Coelho emende a curto prazo, e enquanto é tempo, a desfeita que lhe fez há dois anos - a ele, que foi dos poucos que no início estiveram ao lado do então candidato a chefe do governo - convidando-o para presidir à Caixa sem o desconvidar na semana seguinte.   

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