Wednesday, May 15, 2013

NÃO COMAM OS GRILOS!

Quando a primavera chegava, e com ela o calor que inebriava a natureza, eram os grilos que prolongavam durante a noite a sinfonia diurna. À beira da toca, de violino às costas, o concerto de  incontáveis artistas de uma nota só produzia nas noites tépidas e  estreladas uma magia inesquecível.
Há muito tempo que não os ouço. Dizimados pelos fertilizantes químicos e pelos insecticidas, já não se ouvem nas sinfonias nocturnas as incomparáveis tonalidades dos naipes dos grilos a sobreporem-se aos sons dos outros artistas menos dotados.

Vem isto a propósito de um relatório da FAO, apresentado esta semana, e que vi comentado no Economist e no El País: Insectos comestíveis. Perspectivas futuras para a alimentação da humanidade. No original: Edible insects Future prospects for food and feed security. Concluem os investigadores da FAO, autores do relatório, que as dietas ocidentais, consumidoras de carne de vaca, de porco, de aves, requerem bastante mais recursos naturais para serem produzidas do que as dietas orientais sustentadas na utilização de insectos. De entre os quais, os grilos.

Por outro lado, não só requerem mais recursos como é bem menor a parte comestível da massa produzida. Diz quem sabe, um kilo de bife custa cerca de 18 vezes mais alimentos que um kilo de grilo comestível. Isto porque a produção de um kilo de bovino requere cerca de 8,5 kilos de alimentos, e só 40% do animal é comestível enquanto um kilo de grilo se produz com cerca de um kilo de alimentos e são comestíveis 80% do total produzido. Mas há mais: os efeitos negativos da produção de bovinos sobre o ambiente, medido em termos de CO2 libertado, é cerca de 8 vezes superior ao dos grilos. Quanto a proteínas, o grilo (adulto) não supera o bovino mas, dependendo da espécie, pode andar por lá perto.

Como o homem tende a produzir em larga escala aquilo que necessita para sobreviver, é bem possível que venhamos a assistir à produção massiva de grilos e à tendência para a extinção da produção de bovinos. O que não significa que venhamos a ouvir de novo a sinfonia dos grilos. Os grilos só tocam a sua sinfonia à solta.


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