Thursday, May 02, 2013

À RAZÃO DE JUROS

Foi hoje anunciado que o senhor primeiro-ministro vai anunciar amanhã redução estrutural da despesa pública. A semana passada, o senhor ministro da Economia anunciou oito grandes eixos para o crescimento. Anteontem o senhor Ministro das Finanças apresentou o DEO - Documento de Estratégia Orçamental 2013 - 2017. Ontem, o senhor primeiro-ministro afirmou que 80% das despesas do Estado são salários, pensões, benefícios sociais e juros da dívida. Mais adiante, contudo, considerou que o problema não está nas taxas de juro mas na dívida, que é muito elevada.
 
Tudo considerado, amanhã o senhor Passos Coelho deverá anunciar ao país, pelas 20 horas, mais uma vaga de cortes nos salários, pensões e benefícios sociais, e, quanto aos juros, dirá o costume, i.e., nada. Até, porque, em seu entender, as taxas de juro que o Estado paga são relativamente baixas. Relativamente a quê ou a quem, não disse. Mas não serão, obviamente, relativamente às taxas de juro pagas pela Alemanha, que rondam o valor zero, e onde algumas emissões de dívida soberana têm sido subscritas a taxas negativas.  
 
Deverá o senhor primeiro-ministro, ou alguém por perto, saber que se a taxa de juro implícita da dívida pública é superior à taxa de crescimento nominal do PIB a dívida não parará de crescer enquanto o produto da diferença entre a taxa de juro e a taxa de crescimento pelo valor total da dívida exceder o saldo primário do Orçamento (saldo antes dos juros). Em fase de crescimento negativo, como aquela que atravessamos, o crescimento da dívida evidenciou-se imparável pela manifesta insuficiência dos saldos primários resultantes dos cortes de despesa feitos nos últimos dois anos. Portanto, senhor primeiro-ministro, as taxas de juro poderão não ser altas, segundo os seus critérios, mas os juros que o país paga são, inquestionavelmente, insuportáveis.
 
Deverá, compreensivelmente, andar o senhor primeiro-ministro com a cabeça à razão de juros  para ter desvalorizado no seu discurso e nos seus objectivos esta questão fulcral. Fulcral para a saída do beco em que nos meteram, fulcral ainda para as empresas e as famílias endividadas para as quais a redução da taxa de refinanciamento do BCE para 0,5% é uma miragem para elas destituída de qualquer sentido.

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