Porque é que consideram a China um problema e a Alemanha não?
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A pergunta não é pertinente.
A China é um problema? Para quem?A Alemanha é um problema? Para quem?
Para nós, portugueses, por exemplo?
A China é um problema, por quê? Porque se apresenta nos mercados mundiais oferecendo os seus produtos a preços imbatíveis pelas nossas indústrias de baixa tecnologia?
Se é esse o problema, resolve-se desvalorizando a nossa moeda?
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Admitamos que não tínhamos aderido ao euro e que continuaríamos com o escudo. Quanto teríamos que ter desvalorizado para que aquelas indústrias, importantes para a economia portuguesa, tivessem competitividade? 30%, 40%, 50% relativamente ao ponto de partida (1 euro= aprox. 200 escudos)?Chegava? E se chegasse teríamos o problema resolvido? Quanto teria custado essa desvalorização no outro lado da balança, do lado da importação de combustíveis, etc.?
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Não tínhamos o problema resolvido até porque o combate através de desvalorizações competitivas não tem desfecho garantido.
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"In the Great Depression, countries tried to protect themselves at the expense of their neighbors. These were called beggar-thy-neighbor policies, and included protectionism (imposing tariffs and other trade barriers) and competitive devaluations (...) these are no more likely to work today then they did then; they are likely to backfire." (Stiglitz - Freefall).
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A questão é outra: O nosso sector económico transaccionável (aquele que tem de competir nos mercados internacionais) tem sido saqueado pelos não transaccionáveis, funcionalismo incluído. É por demais evidente que se da riqueza nacional o sector não transaccionável se apropria de uma fatia superior ao crescimento da riqueza (ou se e apropria mais mesmo quando a riqueza decresce)o resultado conduz ao definhamento do sector burlado.
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E foi isso que aconteceu desde que entrámos no euro. No caso do funcionalismo público, a sua capacidade de mobilização (têm o emprego garantido) tem-lhes concedido força para se apropriarem de uma parte proporcionalmente superior ao crescimento da riqueza global, à custa dos outros.O mesmo raciocínio se aplica aos monopólios de facto com preços regulados ou subvencionados. É aí que está a raiz do problema.
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Que fazer: Pois não consentir, constitucionalmente, se for preciso, que não possa o sector não transaccionável apoderar-se de uma fatia em proporção superior ao (crescimento) da riqueza global.
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O que se passa agora é que, administrativamente, o Governo (este e os outros) atribui aos sectores com mais poder negocial político vantagens que retira aos sectores produtivos de bens e serviços transaccionáveis, matando-os a pouco e pouco. A saída está, pelo menos em grande parte, na correcção desta iniquidade.