Tuesday, October 27, 2009

XEQUE AO REI - 2

A economia não será uma ciência exacta, nem parece que exista exactidão absoluta em ciência alguma, mas há, seguramente, algumas contas que seriam exequíveis, alguns consensos possíveis ao redor da avaliação da situação económica e financeira em que o país se move, se houvesse um mínimo de abdicação dos interesses partidários em nome do interesse nacional. Mas não. Cada um dos actores debita o papel que mais lhes rende e o drama tornou-se uma paródia pífia.
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De um lado, exibem-se ao público os números incontrolados da dívida externa, do défice, da fuga do investimento estrangeiro, do desemprego, do favoritismo concedido ao investimento de bens e serviços não transaccionáveis, da estagnação do crescimento económico, do aumento do número de pobres, do crescimento das desigualdades sociais; do outro, a confirmação da decisão de continuar a política de investimentos públicos de grande dimensão, nomeadamente mais autoestradas, o TGV , o novo aeroporto de lisboa.
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Se a construção do novo aeroporto merece um consenso relativamente alargado (alguma contestação subsiste sobretudo acerca da localização, Alcochete ou Portela) já o TGV e mais autoestradas estão longe de ser consensuais. À inabalável decisão do Governo opõe-se todos quantos clamam a inadequação destes grandes investimentos à necessidade de uma política económica que promova a actividade exportadora ou redutora das importações e as insuficiências evidentes de arcaboiço financeiro.
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Para além deste confronto frontal de opções de política económica pública, há insinuações de conivências perversas que só não abanam o regime porque a ética é um valor desprezado.
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O PR poderia, e deveria, impor um consenso político entre as principais forças políticas à volta das principais linhas de rumo para sair da crise estrutural em que o país está envolvido sem que a maioria dê, ainda, por isso. Lamentavelmente, deixou-se colocar em xeque. E não é vislumbrável que dela possa sair tão cedo. A menos que se observe um erro primário do adversário.
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