Tuesday, October 13, 2009

DESCONFIANÇA CORPORATIVA

O Prós e Contras de ontem à noite foi dos jornalistas. Depois das polémicas das escutas e das sondagens, a classe quis justificar-se. Mas não se ouviu nada de novo. Em matéria de sondagens, já se sabe, elas não são, nem podem ser, mais do que a avaliação aproximada das intenções de voto nos dias em que são realizadas. E o afastamento, mais ou menos sensível, que vier a observar-se relativamente aos resultados das eleições, tanto pode ter beneficiado como prejudicado ou ter sido neutro para os partidos em confronto. Ninguém sabe em que medida as sondagens influenciam os resultados, disse um. Sabe-se que muita gente gosta de votar em quem vence, disse outro. Ficámos na mesma.
.
Interveio depois o director de informação da RTP e apresentador do telejornal para arengar acerca da desconfiança, uma pecha portuguesa, que também caracteriza as relações entre jornalistas e políticos em Portugal. Com atribuição de culpas a ambas as partes, a conversa derivou depois para a falta de preparação dos jornalistas. E por quê? Porque, afirmou o director de informação da RTP, há quarenta e tal escolas de jornalismo e duas boas chegavam. Neste momento há mais gente inscrita em cursos de jornalismo e ciências afins do que jornalistas inscritos na corporação e carta para exercer. Disse, e ninguém contestou.
.
O bastonário da Ordem dos Advogados diz quase o mesmo relativamente à sua classe, os outros bastonários fazem coro: há gente a mais. Dizem os demógrafos que há gente a menos e demógrafos a mais. Há uma desconfiança generalizada dos instalados relativamente aos candidatos. O mal está, segundo eles, nesta proliferação de escolas que ensinam jornalismo, direito, relações públicas, relações internacionais, etc. em cada esquina. É a sintomática reacção corporativa que continua a contaminar as novas gerações logo que se vêm encartadas.
.
O que é espantoso nesta reacção, que é instintivamente absurda, é o facto de competir aos instalados a selecção dos mais capazes para as oportunidades de emprego em cada ramo. Se a formação de muitos candidatos é deficiente quem é que os obriga a admiti-los preterindo os mais capazes? Entre quarenta e tal escolas não há, pelo menos, duas boas? Entre tantos candidatos não há um número suficiente de gente bem habilitada? A escola que formou o actual director de informação da RTP fechou?
----
Texto enviado ao Provedor do telespectador da RTP juntamente com a reclamação sobre a colocação de programas de grande audiência em horário que arrasta para além da meia noite com óbvias consequências negativas sobre a produtividade dos portugueses.

2 comments:

aix said...

Também vi e concordo. O que eu li nos ânimos exaltados daqueles directores de jornais foi a preocupação de defender as linhas editoriais de cada um, donde a petulância de afirmar a superioridade moral de cada um.Achei ridículo o Henrique Monteiro[Expresso]renegar a sua integração na corporação a que pertence.É que a Imprensa também é uma questão de corporativismo.
Acaso ele não é pago pelos donos do seu jornal? E pergunto-me: porquê tamanha renitência em revelar as fontes? Será porque estas são o salvo-conduto das suas irresponsabilidades?
Aprovo a reclamação para o provedor dos telespectadores: para a maior parte das pessoas aquele horário é impróprio.

Rui Fonseca said...

Caro Francisco,

Obrigado pelo teu comentário.

Abç