Sunday, January 24, 2010

AQUÉM DA DÍVIDA

A Sedes tomou, mais uma vez, uma posição, com uma afirmação central: "o endividamento do Estado é o problema económico mais grave (do País)". Há quase dois anos, a Sedes já tinha tomado uma posição (aqui), com uma abrangência de causas muito mais alargada. Comentei, então, aqui, aqui, aqui e aqui. Relendo o que anotei há dois anos neste caderno de apontamentos, continuo a pensar que nos sobram comentadores e escasseiam fazedores: políticos e empresários. E o problema económico mais grave é esse mesmo: o das circunstâncias propiciarem que o conforto choque ninhadas de quem diga o que deve ser feito e sejam avessas ao aparecimento de quem seja capaz de fazer. Depois alertam os comentadores da incompetência dos políticos em geral e da geral impreparação dos empresários, e o País, entretido a comentar muito e a produzir pouco, endivida-se.
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O endividamento do Estado é um problema gravíssimo, não há dúvida. Mas, se por obra e graça do Espírito Santo, parte da dívida fosse perdoada (como, não interessa, por agora) ficava o problema resolvido? Não ficava.
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Como tem sido insistentemente referido, e muito particularmente por Vítor Bento no mesmo site da Sedes, a raíz do nosso descontentamento está nas circunstâncias que propiciam o desvio excessivo de recursos para actividades económicas protegidas da concorrência (não transaccionáveis).
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Como é que se altera esta situação perversa, como é que se mudam os factores de favorecimento das causas para se obterem resultados diferentes? Com discursos? Gritando "vem aí o lobo!"?
A história ensina que, geralmente, só acredita no lobo quem já tem o lobo em cima. Os desempregados, acreditam. Infelizmente, há, cada dia que passa, mais gente forçada a acreditar.
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Dizendo isto quero dizer o que sempre tenho dito: Não acredito que um governo minoritário monopartidário tome as medidas que alterem as circunstâncias que fomentam os principais problemas com que o País se debate. Tivemos prova disso durante a anterior legislatura: O governo dispunha de maioria absoluta, a crise global ainda não tinha despoletado, o PM era determinado (obstinado, teimoso, etc, cada qual escolha o que entender). Mas determinado só até ao ponto em que percebeu que a tomada de medidas impopulares, que atacavam muitos interesses instalados, lhe queimavam as hipóteses de renovação de mandato. E encolheu-se em muitos casos a meio caminho. Noutros, como no caso da educação, acabou por se encolher recentemente. A dívida encarregar-se-á do o conter nos seus projectos desmesurados para os recursos que dispomos.
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É assim, forçosamente, a democracia? O resultado de um confronto partidário interminável? Não creio. A democracia faz-se de confrontos e consensos. Quem deve promover o consenso à volta dos grandes objectivos nacionais? É esse o problema que tem de ser prioritariamente resolvido.

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