Monday, January 11, 2010

BANCOS VERDES

A 12 de Janeiro do ano passado coloquei aqui um apontamento acerca do até agora insolúvel problema da aparente inevitabilidade de serem os cidadãos colocados entre a espada e a parede quando uma crise financeira ameaça derrubar todo o sistema e desencadear uma catástrofe de consequências incalculáveis: o efeito "moral hazard" que beneficia os infractores à custa dos contribuintes. Sendo demasiado grandes, ou influentes, para poderem ser deixados cair, tornam-se inimputáveis, com todas as consequências que daí decorrem.
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Na altura, ocorreu-me, por similitude com as preocupações que a degradação da natureza levanta, a ideia de Bancos Ecológicos, aqueles que se autoexcluiriam da realização de operações financeiras especulativas e de transacções em offshores. Deste modo, os depositantes estariam conscientes das autolimitações de alguns bancos e poderiam, preferi-los. Aos clientes destes bancos, e só a estes, o Estado garantiria o reembolso dos depósitos. Todos os outros optariam por sua conta e risco.
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Não faço a mínima ideia se a proposta é original. Hoje, a propósito de um e-mail que recebi do meu Amigo Deus Vê, voltei a recolocá-la com outro nome: Bancos Verdes. Como a turma em que estes e-mails circulam é formada por gente com muito tino e grande tarimba, espero que alguém apareça a destroçar-me o boneco.
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Caro Deus Vê,
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Das tuas várias propostas, para não alongar demasiadamente a minha apreciação, destaco uma: A nacionalização da banca, à excepção da banca de retalho.
Não creio que se resolveriam, desse modo, nem os problemas nem os vícios que referes.O grande problema com que as sociedades se defrontam e que esteve (está) muito presente na origem, e agora na digestão, da actual crise, é o factor "moral hazard" aquele que beneficia o infractor demasiado grande para que se possa deixar cair. Por vezes não será assim tão grande (casos do BPN e do BPP) mas a situação de alarme (o efeito sistémico) que poderia desencadear levou o governo a intervir, imitando o que foi feito um pouco por todo o mundo mais contaminado pelos produtos tóxicos importados ou por actos de gestão criminosos. Ben Bernanke dizia isto mesmo à Time há pouco tempo: "Too big to fail is one of the biggest problems we face in this country".
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Não vejo que a solução seja a nacionalização da banca de investimento. A captura do Estado é tanto mais facilitada e frequente quanto maior for o Estado. Só há captura do que existe e, sobretudo, só há capturado que, na perspectiva dos captores, vale a pena capturar. Mais Estado, mais captura.
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Proponho a identificação obrigatória dos bancos "vermelhos" (se quiseres chama-lhe negros, cinzentos ou amarelos, a cor pouco importa, desde que não seja verde ou parecido) que seriam aqueles que teriam nos seus estatutos concedida a faculdade de realizarem todas as operações financeiras, incluindo a ligação a off shores. Por oposição, existiriam os "verdes" que se auto excluiriam de operações financeiras especulativas e, nomeadamente, a ligação a offshores. Os depositantes deste últimos teriam a cobertura do Estado em caso de crise financeira iminente, os dos outros não. Se esta lei já existisseos depositantes do BPN e do BPP não teriam nada a reclamar. Dir-me-ás: Os outros bancos faziam quase o mesmo. Pois bem: é fundamental que aqueles que recorrem à banca, e é difícil não recorrer a um deles, saibam o que eles podem fazer ou não não podem fazer com as nossas economias.
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Nunca fui bancário. Muito provavelmente algum senão crítico estará a passar despercebido por detrás da minha ingenuidade.
Tu, que fizeste carreira na banca, o que é que dizes a esta minha proposta?

2 comments:

João Vaz said...

Há vários bancos verdes na Europa e nos EUA.
Na Alemanha conheço o Umweltbank (do qual fui cliente) e o SozialBank.
Desconheço o impacto das crises económicas e financeiras...

João Vaz said...

http://www.sozialbank.de/investor-relations/

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