Thursday, September 29, 2016

A CEREJA EM CIMA DE UMA CONTROVÉRSIA

"... arrancaram as obras para o novo campus da Universidade Nova de Lisboa (Nova SBE), junto à praia de Carcavelos e ao forte de S. Julião da Barra. O objectivo é que o projecto esteja concluído em Março de 2018 ... 
... a cerimónia foi marcada por alguma polémica, uma vez que os antigos proprietários do terreno discordam e reclamam sobre o valor pago pela Câmara Municipal de Cascais, que dizem ser demasiado baixo para o tamanho e localização do espaço. Carlos Carreiras, presidente da autarquia de Cascais, defendeu que “o terreno tinha um valor patrimonial fiscal muitíssimo baixo” e que a autarquia “não podia dar outro valor que não esse” -  aqui




- V. leu a notícia que vem hoje no Público ...
- Qual delas?
- A expropriação de um terreno em Carcavelos, com uma área equivalente a dez campos de futebol, junto ao mar, ... sabe por quanto?
- Não faço a mínima ideia.
- 132 mil euros! É a golpada do costume.
- O terreno é seu?
- Não, claro que não, mas acho que é escandaloso ... ali anda negócio ...
- Se foi expropriado por preço baixo ...
- Baixo, não, baixíssimo ... 
- Se foi expropriado por preço baixíssimo só é negócio suspeito se vier a ser vendido, mais tarde, a particular para urbanização ... É esse o caso?
- Não, não é. Vão instalar lá a escola de gestão da Nova.
- Então não vejo que possa haver, neste caso, a golpada  do costume.
- Por 132 mil euros? Menos que o valor de um pequeno apartamento naquela zona? 
- Admitamos que sejam mesmo 132 mil euros, embora eu presuma que deve haver aí falta de algum ou alguns algarismos, como é que foi feita a avaliação, sabe?
- Aplicaram o valor das finanças...
- Do meu ponto de vista, se consideraram esse valor, consideraram bem.
- É um valor baixíssimo. Toda a gente sabe que os valores das finanças estão desactualizados e os dos terrenos não têm nada a ver com os valores de mercado. 
- E qual é o valor do mercado? Houve transacções de terrenos naquela área há quanto tempo?
- Não sei. Mas muito mais que 132 mil euros valem com certeza. Que culpa têm os proprietários que as finanças não tenham os valores actualizados?
- Não sei imputar culpas mas quero acreditar que se a Câmara ... Qual foi a câmara que expropriou?
- A de Cascais.
- Hum! Não é do lado da esquerda ...não é medida anti capitalista, ... 
- É golpada!
- Como é que pode ser golpada se os terrenos são para utilização de uma instituição pública?
Se a Câmara de Cascais invocou o valor matricial para fixação do valor da indemnização aos proprietários certamente que se escorou na lei. Ou não?
- Não, porque os valores das finanças estão desactualizados ... 
- O critério parece-me justo. Os proprietários, que beneficiaram de uma tributação baixa ao longo de muito anos, devem conformar-se com o preço dos terrenos por expropriação por utilidade pública com base no valor base de incidência dos impostos. 
- Não sei se é o que está estabelecido na lei ...
- Nem eu, mas espero que a Câmara de Cascais saiba. 

Wednesday, September 28, 2016

A ARÁBIA SAUDITA NO BANCO DOS RÉUS

Provavelmente, nada feriu mais profundamente o orgulho norte-americano do que os ataques de 11 de Setembro de 2001. Pearl Harbour aconteceu em contexto de guerra e fora do território do continental dos EUA, o número de combatentes caídos no Havai foi inferior ao número de vítimas mortais civis de 11/9.
Quinze anos depois, familiares das vítimas conseguiram fazer passar no Congresso uma lei que permite colocar a Arábia Saudita no banco dos réus por alegado envolvimento nos ataques suicidas.
Que meio de prova será usado para demonstrar aquele envolvimento, não é do conhecimento público.

O Presidente Obama vetou a lei, alegando que ela será, certamente, invocada como precedente por outros povos contra, nomeadamente, as suas representações diplomáticas e os seus militares em missões fora do país. Mas este será o primeiro veto de Obama a ser contrariado pelo Congresso. 
O que leva os congressistas a muito maioritariamente - no Senado, a votação foi esmagadora de 97 a favor e apenas 1 contra - aprovarem uma lei susceptível de colocar os EUA em múltiplas situações de retaliação jurídica? 

Os EUA vão eleger o próximo presidente, e, democratas e republicanos, não querem assumir hoje a responsabilidade das consequências futuras do seu voto rejeitando esta lei, arriscando a perda de votos a 8 de Novembro. A demagogia, já se sabe, vence sempre a democracia de vistas curtas. 

Vd. aqui a história deste acontecimento que promete fazer disparar outras no futuro.

Tuesday, September 27, 2016

A PROPÓSITO DE IMPOSTOS SOBRE O IMOBILIÁRIO




Quanto pagarão de IMI estes prédios, situados na mais central avenida de Lisboa, emparedados há dezenas de anos? 
São apenas três exemplares entre milhares, privados e públicos, imagens da degradação urbana, da indolência humana, da falta de civismo colectivo, da ganância, de um  país que quer afirmar-se como um dos destinos turísticos de excelência Europa. 
Ou para turistas à procura do último reduto do terceiro-mundo ocidental europeu? 

                                                         (fotos copiadas aqui)
- E a culpa é de quem?
- Dos deputados e das câmaras.
- Hum! Porquê dos deputados, porquê das câmaras?
- Das câmaras porque lhes compete, além do mais, defender a imagem da cidade ...
- Os vereadores não percebem nada de urbanismo ... quem dita as regras são os directores ... aqueles que lá estão há muitos anos ...
- São incompetentes, portanto!
- Não diria tanto... são inexperientes, talvez. 
- Não os desculpabilizes. Se foram candidatos e eleitos, deverão ser julgados pelos resultados das dos órgãos de que fazem parte. Não vamos responsabilizar quem não elegemos, pois não?
- Depois, as câmaras não dispõem de meios legais para intervirem nesses assuntos. Fazem o que podem ...
- Se não há leis, reclamem-mas!
- Reclamar, reclamar, mas julgas tu que é assim tão fácil. Há muitos interesses envolvidos ...
- Não tenho dúvidas que há. Parece-me que entoaste um fado, ou ouvi mal?
- E a quem deveriam eles reclamar?
- Junto de quem tem poderes legislativos ...
- Hui! Em que país é que pensas que moras?

(aqui, remata a guitarra)

TAO E JULIETA


***
Dois filmes, dois mundos, duas histórias que são a mesma história de desespero num mundo que se contrai mas as distâncias aumentam. 

***

Friday, September 23, 2016

DE QUEM É ESTA CASA?


- Sabe de quem é aquela casa?
- Aquela casa era do Estado, esteve lá instalado, há muitos anos já, o tribunal de Cascais, mas já foi vendida ... E lá mais em baixo há outra ... também do Estado, ...
- A segunda não é do Estado, disseram-me.
  Mas aquela, como é que foi vendida? ... continua abandonada ... os vidros partidos, as heras a treparem-lhe pelas paredes acima, as pombas a entrarem e saírem, ...
- Serve de pombal, já serve para alguma coisa, não é?
- Mas foi vendida a quem?
- Ouvi dizer que foi vendida a uns chineses, agora os chineses compram tudo ...
- Quase tudo ...
- Pois, quase tudo. Deve ser porque também compramos quase tudo aos chineses, penso eu.
Mas eu pago impostos, eles não.
- Não?
- Pois não. O senhor não sabe que eles estão isentos do IMT, do IMI e do IVA.
- Do IMT, ouvi falar ... do IMI e do IVA, não.
- Do IMT é assim: eles compram, e porque são chineses, não pagam IMT durante não sei quanto tempo. Findo esse tempo, vendem a outro chinês, e continua a borla.
- E se forem franceses a comprar? Ou ingleses? Ou alemães?
- Não sei, desses não sei, mas quanto aos chineses garantiram-me que não pagam IMT, nem IMI nem IVA. Por que será?
- Para atrair investimento estrangeiro, dizem.
- Hum! Num pombal?
(conversa matinal num café em frente)
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Correl . -

"Agradeço a sua missiva e, de imediato, irei promover a intervenção no local pois, embora sejam imóveis fora da nossa alçada, não deixa de ser nossa obrigação assegurar a higiene e limpeza públicas.
De qualquer modo, aproveito para esclarecer que, se bem identifico os dois edifícios que nos assinala, um deles pertence ao Ministério da Justiça e está em vias de ser alienado em hasta pública para fins hoteleiros, enquanto o outro está sob a jurisdição do Ministério do Ambiente e foi recentemente concessionado para bar e restauração."


Informação recebida em 18 de Julho de 2008 - vd. aqui
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Act. (23/09/2016)
O outro (que) está sob a jurisdição do Ministério do Ambiente foi, entretanto, concessionado, e recuperado, para os fins referidos na informação do então presidente da Câmara Municipal de Cascais,

Wednesday, September 21, 2016

ACORDO ENTRE A OUTRA MAIORIA

O sr. primeiro-ministro tem, como o outro, dois amores. Quando à esquerda lhe negam o contacto, dá meia volta e encontra braços abertos a aceitá-lo à direita. 
Até agora, a manobra tinha funcionado para tramar quem não pode escapar à tramóia, invocadamente receitada pela troica (sim , a troica ainda existe e promete continuar enquanto o paciente viver).
Agora,

"PS e PSD estão de acordo para pôr fim aos cortes das subvenções para os partidos. É o que aqui se diz, acrescentando que BE, CDS e PCP irão apresentar propostas para manter o regime actual".

Normalmente, nos casos em que na Assembleia da República são votados, aumentados ou mantidos, subsídios ou outros benefícios aos partidos políticos, aos grupos parlamentares ou aos deputados, a votação tem sido unânime. Desta vez, a outra maioria (PS+PSD) garante para todos os benefícios materiais em causa, e os partidos rebeldes (BE+PCP+CDS) ficam bem vistos na fotografia aos olhos dos seus admiradores, além de serem também beneficiários da votação da outra maioria.

Na reposição das subvenções vitalícias dos ex-titulares de cargos públicos, emergiu uma contestação a uma proposta nesse sentido que, na altura, prevaleceu contra a outra maioria na época (PDS+PS), mas o Tribunal Constitucional veio, mais tarde, a dar razão às reivindicações de alguns vitalícios, aproveitando todos os outros com a sentença do TC. - cf. aqui
Recorde-se que o TC tinha concordado com cortes em salários e pensões, financiadas pelos contributivos, alguns dos quais ainda se mantêm, em prol da austeridade para a sanidade das contas públicas.

Resumindo, parafraseando outro:  Há direitos adquiridos que são mais adquiridos que outros. 

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Correl . - (23/9) - País pobre, partidos ricos

Sunday, September 18, 2016

SULLY SULLENBERGER


Clint Eastwood é um safado trumpista mas Sully é mais um dos seus filmes que o colocam na galeria dos grandes realizadores de cinema norte-americanos.
O herói do Rio Hudson tem em Tom Hanks tem uma interpretação igualmente notável.

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Saturday, September 17, 2016

CATURRICES

Prezada Suzana T.,

Leio o seu comentário, e permita-me que duvide que o abandono e a degradação de prédios urbanos, e o abandono de prédios rústicos com potencial de aproveitamento económico, se deva, em grande medida, à falta de recursos financeiros dos proprietários, que lhes permitam retirar rendimento compensador.

E que, reconhecendo que, por outro lado, em muitos casos, esse abandono resulte de partilhas por realizar, atribui essa situação ao facto de ser complicada a discussão familiar ou societária das partilhas, e altamente burocratizada a formalização notarial e o registo da propriedade partilhada.

Não conheço estatísticas sobre o tema, e suponho não existem, que me permitam quantificar o número de casos em que as restrições financeiras são ou não impedimento do aproveitamento eficiente da propriedade, mas admito que alguns existam e que se meçam em muitos milhares.

Abordemos os outros casos, aqueles em que o abandono e a degradação não são, claramente não são, de natureza financeira. 

1 - Heranças não partilhadas

Admito que haja muitas situações de conflito familiar ou societário, mas não tenho a mesma opinião quanto às dificuldades de notário e registo.
Aceito que o agravamento da tributação fiscal não resolverá em muitos casos os bloqueamentos nas partilhas. Até porque, sendo a propriedade antiga, o mais certo é que o IMI actual seja tão baixo que mesmo um agravamento percentualmente muito alto não suscitará nos herdeiros a mínima perturbação.

A solução destes casos não passa, concordo, pelo agravamento da tributação fiscal.
Passaria, eficazmente, pela obrigatoriedade legal, se no Parlamento quisessem resolver o problema, de os herdeiros realizarem partilhas num período máximo de dois anos após o facto determinante da herança.
Para lá desse prazo, a propriedade seria vendida em hasta pública e o produto, deduzidas as custas, divido por quem provasse os seus direitos.

2 - Outros casos

Prédios urbanos

Referi no meu comentário inicial que precisamos de uma lei que liberalize as rendas de modo a que o mercado funcione. Há muitas situações de rendas antigas que deveriam, no caso da liberalização das rendas, serem os arrendatários, por provada incapacidade financeira, subsidiados directamente, e não os senhorios, pelo Estado, como parece ser ideia deste governo. 
O aumento, por razões demográficas, das rendas nos casos, que claramente são um benefício do senhorio transferido para o arrendatário sem restrições financeiras a esse nível, financiaria o subsídio, naturalmente decrescente, aos mais carentes. 

Há outros prédios urbanos degradados, não utilizados, que não se enquadram nas hipóteses anteriores. As razões da imobilidade são diversas. Por exemplo, os exemplos, lamentavelmente, abundam, os dois prédios, enormes, emparedados e grafitados, da Fontes Pereira de Melo, estão expectantes há quantos anos? Há muitos. Porquê?
A casos como estes deveria ser aplicado um IMI penalizante da expectância e incentivador da sua eficiência económica, porque são uma chaga que alastra por todo o lado.

Prédios rústicos

O potencial económico de muitos prédios rústicos, abandonados ou aproveitados, desvanece-se com a sua reduzida dimensão económica. A agricultura e a silvicultura, como qualquer actividade económica, requer, para ser eficiente e rentável, dimensão adequada.
Impõe-se o emparcelamento, uma questão antiga por resolver. 
Por livre iniciativa dos proprietários, é impossível.
A entrega dos terrenos abandonados à gestão das autarquias é uma ideia que surgiu há dias nos meios governamentais mas seria um disparate perfeito. 

Há uma solução: incentivar fiscalmente o emparcelamento, agravar fiscalmente a propriedade rústica abandonada. 

Para que tudo isto funcionasse, seria necessário que houvesse um levantamento da titularidade da propriedade, urbana e rústica, uma questão também antiga. 
Há uma solução : Exigir que todos os proprietários entreguem nas finanças, dentro de um prazo razoável, um formulário dos prédios de que se considerem proprietários que não constem das listas enviadas pelas finanças para pagamento do IMI.
Prédios não constantes nem declarados seriam considerados propriedade do Estado e vendidos a quem fizesse melhor oferta.

Nada do que sugiro é original. 
Nem é a primeira vez que abordo o assunto no meu caderno virtual de apontamentos. Antes, pelo contrário, é dos assuntos que mais tenho comentado. 

Há 30 anos (já sou velhote) mudei de atribuições na empresa onde trabalhei, e deixei de ser membro da Associação Fiscal Portuguesa. 
Já nessa altura, a questão da tributação da propriedade era das mais discutidas entre nós. 
Porque a tributação da propriedade é, como os impostos indirectos, a menos perturbadora do crescimento económico e pode ser motivadora da eficiência da propriedade.

A propriedade não é um roubo mas também não deve ser uma vaca sagrada.

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Correl . -
" ...E depois tenho metade das casas da minha sogra, que estão divididas por boca mas ainda não foi feita a escritura. Gosto [de ter casas]”. - Juiz Carlos Alexandre, entrevista Expresso de 17/9.

Thursday, September 15, 2016

CASMURRICES


Prezada Susana T.,


Que há, em Portugal, um incontado número de propriedades, rústicas e urbanas, abandonadas, em ruína ou assaltadas por silvados, suponho que nem contesta;
Que muitas dessas propriedades, sobretudo urbanas, são propriedade do Estado, também é evidente, julgando pelas notícias recorrentemente publicadas;
Que este cenário de visível abandono não é visível em outras partes da Europa ocidental, também me parece incontroverso;
Que a propriedade rústica abandonada afecta o valor das propriedades vizinhas e, em muitos casos, a sua segurança, também me parece incontestável;
Que, além da perda de valor da vizinhança dá uma imagem de um país retrógrado, que pode maravilhar alguns turistas à procura do terceiro mundo na Europa, mas não será apreciado pelo turismo de mais qualidade, parece-me evidente;

Que a propriedade rústica retalhadas em centenas de milhar de parcelas - há cerca de 360 mil propriedades florestais, um número aproximadamente da ordem das que existem nos EUA! - não favorece a produtividade dos terrenos com vocação agrícola ou silvícola, ninguém, que conheça minimamente estes sectores, pode contraditar;
Que além da improdutividade dos terrenos aproveitáveis, a pulverização da propriedade florestal inibe a adopção de práticas mais eficazes de prevenção contra os fogos florestais, é consensual entre quem, com responsabilidades na matéria tem deposto sobre o assunto;

Que a lei das rendas, é um patchwork toscamente cosido durante muitas décadas ao sabor das circunstâncias de cada momento político, alguém duvida?
A lei das rendas deveria ser radicalmente alterada no sentido da liberalização total dos contratos, permitindo-se a actualização dos actuais em conformidade com os rendimentos do arrendatário, e a sua evolução. É uma forma de o mercado funcionar e a propriedade ter a função económica que deve ter.

Se assim for, e eu não recebo nem pago rendas, como é que pode mobilizar-se, no sentido de fazer mexer, a propriedade expectante, frequentemente em resultado de partilhas que nunca foram feitas e muito menos notariadas?

À  propriedade, a sociedade deve exigir a realização de uma função económica, porque só desse modo se justifica o direito à sua titularidade.

O agravamento tributário da propriedade abandonada não será uma boa medida para alterar um cenário que, quero crer que concorda, não é o melhor dos mundos.
Mas há outras? Estou certo que sim.
Mas parece que ninguém se lembra delas.

CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DE TANTO RALHAR


O professor insistia que, na história da humanidade, o mais importante não era o conhecimento dos acontecimentos que alteraram o seu curso mas as causas que lhe estiveram na origem e as consequências que deles resultaram. E que não confundissem os mais desprevenidos uma coisa com a outra porque se não há causas sem consequências não há consequências inconsequentes.

Ao recordar-me o aviso do professor de História, continuo a ver consequências onde, aqui, o Prof. Nuno Garoupa detecta causas.

Se o seu último parágrafo resume a sua tese nesta parte - "quanto mais o eleitorado virou à esquerda, mais a direita se empenhou na diabolização do adversário e no uso de linguagem radical em detrimento de um programa consistente e estudado."- foi o discurso que fracturou diabolicamente as hostes em confronto ou essa diabolização decorre do ambiente cerrado criado pela crise, que a receita da troica não ajudou a digerir?

O crescimento do BE é resultado da agressividade do seu discurso ou da crise espoletada há oito anos com toda a ganga de casos espúrios expelidos pelo vulcão, nomeadamente no sistema financeiro?
Se não tivesse ocorrido a crise (que já estava latente muito antes de 2008) teria o BE crescido como cresceu?
Se o anterior governo PS não tivesse as culpas que lhe são assacadas teria cedido tanto perante o BE?
Não teria.

O que justifica o crescimento do discurso do BE foi a perda de confiança no PS e a culpabilidade assumida pelo PSD na administração da receita da troica, com dispensa do negociador e subscritor do protocolo, o PS.

Depois o crescimento exponencial dos media amplificou, e continua amplificar, como nunca no passado os mimos atirados de cada um dos lados.
O sucesso do marketing político não passa, lamentavelmente não passa, pela discussão racional de propostas alternativas.
Basta olhar para os cartazes com que os partidos conspurcam sistematicamente o ambiente público.

Em casa onde não há pão ...

Wednesday, September 14, 2016

UE VERSUS EUA

Uma das questões mais recorrentes colocadas por aqueles que defendem, e é o meu caso, o euro como instrumento de integração europeia quando colocados perante os argumentos daqueles - Stiglitz, Krugman, entre muitos outros - que consideram que o euro está condenado como moeda do uma zona monetária que não é suficientemente políticamente integrada, é :

se os norte-americanos têm o dólar porque não pode o euro sustentar-se como moeda única numa zona única monetária europeia?

Para uma pergunta cândida, uma resposta óbvia: a União Europeia, e, particularmente a Zona Euro, não é uma federação de estados como os Estados Unidos da América. 

A diferença, que é enorme, explica não só as fortes turbulências observadas na Europa - que, por exemplo, ameaçam a permanência da Grécia, e não só, como membro da Zona Euro e, muito provavelmente, da União Europeia, e instigaram os resultados do referendo sobre o Brêxit - mas também as dificuldades da recuperação económica da União Europeia após 2008. Mesmo a Alemanha, fortemente superavitária na balança comercial, tem experimentado um crescimento económico débil de 0,9%/ano, desde então.
No mesmo lapso de tempo, que coincide com os dois mandatos da administração Obama, os EUA, onde a crise financeira tinha espoletado, conseguiram uma inversão rápida da recessão e um crescimento económico, débil, mas consistente, de 1,2%/ano.  
Por outro lado, enquanto a taxa de desemprego na Europa se mantém em níveis médios de dois dígitos, nos EUA o desemprego caiu de 11% no início da crise para cerca de 5%, actualmente. 

Hoje, lê-se aqui no Washington Post, que segundo relatório do "Census Bureau" publicado ontem, as  classes médias e pobres nos EUA obtiveram em 2015 o maior crescimento (+5,2%) de rendimentos familiares nas últimas décadas, sem, contudo terem recuperado para os níveis que dispunham antes da crise. A aparente disparidade esclarece-se pelo facto ter aumentado a desigualdade de rendimentos - o mesmo aconteceu na Europa - em consequência de mais apropriação das classes afluentes durante a crise. 

Se os membros da União Europeia não acelararem o processo de integração política, aproximando suficiente e adequadamente, as suas instituições daquelas que são imprescindíveis à sobrevivência da  moeda única, a UE não subsistirá com a configuração actual,obrigando à saída de alguns membros da Zona Euro, muito provavelmente os do Sul, ou de todos.
Isto é, resumidamente, o que diz Stiglitz. 
Até prova em contrário.

Tuesday, September 13, 2016

SIM, METADE DOS APOIANTES DE TRUMP É RACISTA*


Hillary Clinton considerou "racistas, sexistas,homofóbicos, xenofóbicos, islamofóbicos" os apoiantes de Trump durante uma reunião, no dia 9 com apoiantes seus. E que, metade dos que votarão em Trump,  coloquem-nos no que ela considera o cesto dos deploráveis - "You can put half of Trump supporters into what I call the basket of deplorables".
Perante a reacção dos trumpistas, H Clinton, para  desmotivar a questão pediu desculpa, mas apenas por ter referido um número, 50%. De qualquer modo, o acontecimento passou a fazer parte do já enorme  arsenal de armas de arremesso nesta guerra pela entrada na Casa Branca. 

Exagerou Clinton? 
Ou, dito de outro modo, quase metade dos eleitores norte-americanos é racista, sexista, homofóbica, xenofóbica, islamofóbica? e, metade destes, ou seja 1/4 dos apoiantes de Trump são deploráveis? O termo usado por Clinton não é corrente, sobretudo quando usado no plural, é ambíguo (vd. aqui) mas percebe-se o alcance.

Considerando os resultados de uma sondagem da YouGov, que incluía quatro questões acerca de "ressentimento racial"  comentados aqui, à primeira vista a estimativa de 50% de Mrs. Clinton parece impressivamente correcta: 58% dos inquiridos que afirmaram apoiar Trump situam-se no quartil dos mais elevados níveis de ressentimento racial. Por outro lado, 91% dos votantes em Trump situam-se acima da média nacional daqueles que, sem atingirem os níveis (deploráveis) de ressentimento, sentem desagrado.
Contudo, como qualquer sondagem no campo sociológico, os resultados compostos impõe algumas leituras mais analíticas.

* Sobre o mesmo tema:
Yes, half of Trump supporters are racist

Sunday, September 11, 2016

ONZE DE SETEMBRO AZIAGO

Clinton contraiu uma peneumonia, o resultado foi conhecido há dois dias, e hoje foi obrigada a abandonar as cerimónias comemorativas do onze de setembro de 2001.

E, agora?

Quando escrevo este apontamento não faço a mínima ideia que implicações terá este acontecimento no resultado das eleições de 8 de Novembro.
Mas receio que seja a janela que se abriu por onde saltará o assaltante.
Que, após, tanta demonstração  de soberba, se julgará eleito pela providência divina.

STIGLITZ E A GERINGONÇA EUROPEIA - 2

Ilustríssimos*,

O desafio (discutir as afirmações de Stiglitz sobre o euro) é interessante, e, mais que interessante, é necessário.

A bem da verdade, começo por declarar que ainda não li o livro todo.
Cheguei há pouco à página 151 da edição original.
Pelo que li até agora, e estou certo que a entrevista referida (no e-mail que suscitou este comentário) não contraria o conteúdo de "the euro - How a Common Currency Threatens the Future of Europe", Stiglitz recomenda a saída do Euro, não ignorando os custos da saída, se não forem instaladas as instituições  e adoptados os institutos que possam viabilizar a continuidade do euro. 
Porque, assegura ele, e eu concordo, se não forem implementadas as condições que, em tempo que já é escasso mas que ainda pode ser oportuno, podem sustentar o euro, a zona euro está condenada à implosão.

Há algumas afirmações de Stiglitz de que discordo, outras de que ainda não entendi o alcance, mas penso que é difícil a um leitor não ideologicamente comprometido, contestar a grande maioria das suas afirmações, deduções e conclusões. 

A ler este livro de Stiglitz, ocorreu-me para a União Europeia a imagem hoje corrente no jargão político actual em Portugal:
É uma geringonça que funciona. Funciona mal, mas funciona. 
Até quando? 

Anotei há pouco tempo isso mesmo aqui.

Discordem, sff.
---
* Membros de um grupo que costuma discutir sem fazer nascer luz.

Saturday, September 10, 2016

UM BANCO SUPER PROTEGIDO


José Gomes Ferreira apanhado no truque by leituras

O JOGO DA CABRA-CEGA



"O Sr. Juiz Carlos Alexandre, juiz de instrução no denominado processo Marquês, deu ontem [quinta-feira] uma entrevista à cadeia de televisão SIC onde referiu que "não tem contas bancárias em nome de amigos". Tal alusão, que nada vinha a propósito, não pode deixar de ser entendida - como o foi por todos os que a viram - como uma cobarde e injusta insinuação baseada na imputação que o Ministério Publico me fez no referido processo. Essa imputação, como já disse inúmeras vezes, é falsa, é injusta e é absurda. Nunca tive contas bancárias em nome de amigos. Todas as provas existentes no processo - testemunhais e documentais - confirmam que essa imputação não tem qualquer fundamento ...
... Na entrevista de ontem e, mais escandalosamente, sem que tivesse sido deduzida qualquer acusação por parte do Ministério Público, o Sr. juiz decidiu expressar publicamente que, afinal, sempre teve partido..."
" - José Sócrates / in Diário de Notícias

Seja qual for a suposição que se imagine sobre o carácter do ex-primeiro-ministro, ninguém, de boa fé, pode discordar que as palavras do Juíz Carlos Alexandre,  transcritas neste texto, exorbitam da isenção e independência de julgamento que constituem as mais elementares obrigações deontológicas da justiça. 

650 dias depois de ter sido preso, ainda não foi deduzida pelo Ministério Público acusação contra José Sócrates  por factos insistentemente anunciados nos media para julgamento na praça pública. 
Não faço a mínima ideia de qual será a sentença final neste processo, se, ao longo do longo caminho processual, ele não cair prescrito. 
Por agora, mantém-se a possibilidade de a Justiça portuguesa arrecadar o mais rotundo fracasso de sempre, e o sr. José Sócrates uma razoável indemnização dos contribuintes portugueses por acto, estrondosamente falhado, de agentes da justiça.