Tuesday, September 06, 2016

STIGLITZ E A GERINGONÇA EUROPEIA

Stiglitz apareceu mais uma vez avisando que, tendo em conta as perdas e os lucros, melhor seria que Portugal saísse amigavelmente do euro. E, como é habitual, mereceu aplausos e apupos.
Destes últimos, merece realce o argumento recorrente que invoca o desconhecimento de Stiglitz da realidade política e económica portuguesa, e, consequentemente, as contas que fez, se as fez, assentam em pressupostos inconsistentes, desfasados da nossa situação socio-económica.
Têm razão?

Do ponto de vista do balanço entre vantagens e e desvantagens, mantenho a minha posição inteiramente alinhada com aqueles que consideram que a saída seria asfixiante, mesmo que os outros membros da zona euro concordassem em fornecer-nos quantidades generosas de oxigénio. 
Então, será Stiglitz, e não apenas Stiglitz, tão casmurro para persistir numa tese sem fundamento por desconhecimento de causa?

De Stiglitz, acaba de ser editado um volume de 416 páginas - The euro : How a Common Currency Threatens the Future of Europe -, que, de modo circunstanciado mas acessível, expõe as razões pelas quais, do ponde vista dele, e de vários outros académicos, o euro acabará por desgastar a fragilidade da construção da União Europeia. Stiglitz não condena o euro, condena a persistência de o quererem sustentar num ambiente que, de todo em todo, não lhe é  adequado. 

E, assim sendo, recomenda Stiglitz, a Portugal mais convém sair enquanto as hipóteses de uma negociação amigável são mais favoráveis do que aquelas que poderão emergir, no futuro, de uma debandada generalizada. Tem razão, Stiglitz?

 Lamentavelmente, talvez tenha.
 Lamentavelmente, porque a União Europeia não é uma construção sólida e equilibrada. Os nacionalismos que forjaram a sua múltipla identidade em guerras sem fim, subsistem e obstaculizam os avanços para uma identidade europeia que possa acolher uma moeda comum. O euro, devem ter suposto os seus criadores, iria provocar a cimentação das partes culturalmente diversas. Não foi, ou, até agora, não foi, e, de factor potencialmente agregador tornou-se um factor potencialmente desagregador. 

E as razões são conhecidas.
Por analogia com uma designação que hoje já faz parte do jargão político corrente em Portugal, a União Europeia, e, muito sobretudo, a zona Euro, é uma geringonça.
Funciona?
Pois funciona. Mal, mas funciona. Só não sabemos até quando.

 

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