Friday, September 09, 2016

O COMBÓIO DOS LOUCOS

 Nuno G.,

Não discordo das premissas nem dos seus cálculos mas reafirmo a minha discordância quanto às conclusões.

Subscrevo inteiramente a primeira parte do primeiro período do seu primeiro artigo, que reconhece que:

não se trata de um fenómeno português;
- não sendo uma coisa recente, ..., o discurso político no espaço público é fundamentalmente um conjunto de variações sobre a diabolização do adversário, para deleite das classes dos partidos;
- esse fenómeno aumenta exponencialmente nas redes sociais, onde predomina o ódio e insulto em detrimento de qualquer debate racional;

Do que discordo é que a progressiva redução da quota do eleitorado flutuante, os ciclos políticos ou o número de deputados em disputa em cada eleição sejam causas da crescente diabolização política.

Não são. Porque se:

- não se trata de um fenómeno português (o que é muito evidente para quem se encontra minimamente informado sobre o que, a este respeito, se passa fora do nosso país)
- não é uma coisa recente (o que também é muito evidente para quem tenha uma noção razoável do caminho da história),

o aumento da diabolização para deleite das classes políticas resulta do aumento exponencial das redes sociais onde predomina o ódio e o insulto em detrimento de qualquer debate racional.

Se há redução do eleitorado flutuante é porque os media em geral, e não apenas as redes sociais, ampliam os ódios e insultos partidários, empurrando, deste modo, os "infiéis" para a escolha de um dos credos em confronto. Na transmissão televisiva dos debates cada intervenção parlamentar é uma disputa de afirmação pessoal do orador.
E a redução do número de lugares de deputado em jogo é consequência natural da redução do número de eleitores sem credo.

Por outro lado, os ciclos políticos resultam dos ciclos económicos, quaisquer que sejam os factores provocadores das suas fases.
Atravessamos tempos de grande incerteza, sem fim à vista.
A política, ausência ou excesso de políticas, e, muito criticamente, a política financeira da União Europeia, só por si, é factor fracturante mais que suficiente para exacerbar os confrontos ideológicos e extremar posições.  Não por acaso, as abordagens serenas desta questão tão crítica para o futuro de todos os membros da UE em geral e da Zona Euro, em particular,  vêm de fora da Europa.

Há saída "limpa" para este impasse?
É talvez o pressentimento, até o pânico, de que não há saída ao fundo deste túnel sem fim à vista, em que hesita entre andar e recuar o combóio da UE, que mais exalta os ânimos dos passageiros.



No comments: