Sunday, September 11, 2016

STIGLITZ E A GERINGONÇA EUROPEIA - 2

Ilustríssimos*,

O desafio (discutir as afirmações de Stiglitz sobre o euro) é interessante, e, mais que interessante, é necessário.

A bem da verdade, começo por declarar que ainda não li o livro todo.
Cheguei há pouco à página 151 da edição original.
Pelo que li até agora, e estou certo que a entrevista referida (no e-mail que suscitou este comentário) não contraria o conteúdo de "the euro - How a Common Currency Threatens the Future of Europe", Stiglitz recomenda a saída do Euro, não ignorando os custos da saída, se não forem instaladas as instituições  e adoptados os institutos que possam viabilizar a continuidade do euro. 
Porque, assegura ele, e eu concordo, se não forem implementadas as condições que, em tempo que já é escasso mas que ainda pode ser oportuno, podem sustentar o euro, a zona euro está condenada à implosão.

Há algumas afirmações de Stiglitz de que discordo, outras de que ainda não entendi o alcance, mas penso que é difícil a um leitor não ideologicamente comprometido, contestar a grande maioria das suas afirmações, deduções e conclusões. 

A ler este livro de Stiglitz, ocorreu-me para a União Europeia a imagem hoje corrente no jargão político actual em Portugal:
É uma geringonça que funciona. Funciona mal, mas funciona. 
Até quando? 

Anotei há pouco tempo isso mesmo aqui.

Discordem, sff.
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* Membros de um grupo que costuma discutir sem fazer nascer luz.

2 comments:

Pinho Cardão said...

Caro Rui:
Estas saídas estruturadas ou negociadas do euro só podem ser congeminadas por economistas de power-point, por mais nobelizados que sejam.
Posto isto, quanto à saída do euro, eu já nem quero falar num eventual estímulo passageiro nas exportações, logo contrariado por um aumento do custo dos produtos incorporados vindos do exterior e, em geral, dos produtos importados, nem quero notar o enorme impacto negativo sobre a competitividade, quer no curto, como no médio prazo, com óbvias repercussões na actividade económica e na balança comercial, nem foco sequer as consequências sobre a dívida. Limito-me a salientar a enorme contradição dos rejeitam uma economia de baixos salários e, simultaneamente, advogam a saída do euro. É que a saída do euro terá como consequência precisamente um modelo de baixos salários, o contrário do que defendem os que recomendam a saída. A saída do euro visa desvalorizar a moeda, cada vez que for preciso para manter a competitividade, o que não é compatível com salários reais elevados. Por isso jogam na ilusão monetária: o pessoal ganha mais, mas o que ganha vale menos. E as classes de mais baixos rendimentos são as primeiras a sofrer.
Um círculo infernal, desvalorização-inflação e um empobrecimento progressivo.
Aliás, o melhor remédio que recomendo a quem advoga a saída é ler A Solução Novo Escudo, o livro do Louçã/Ferreira do Amaral. As soluções preconizadas ignoram por completo o tipo de decisão dos agentes micro e são perfeitamente irrealistas. O livro constitui uma verdadeira vacina para quem alguma vez vagamente admitisse a saída do euro.
Quanto a Stiglitz, pois que seja muito feliz no seu nicho de mercado.

Rui Fonseca said...


Ilustre António,

Antes de mais muito obrigado pelo teu comentário.
Com o qual estou quase totalmente de acordo.

E o quase quer dizer que, do meu ponto de vista, estás a atirar para um alvo diferente daquele para o qual atira Stiglitz.
Se leres o que escreve Stiglitz no seu livro, provavelmente constatarás que muitos dos pontos que referes não são contraditados por ele.

Stiglitz não diz:

- o euro não serve, livrem-se dele o mais depressa possível,
mas este outro
- a criação do euro foi mal concebida porque não existem as instituições que possam permitir a sua sobrevivência sem colocar em causa a própria unidade da Europa,

e recomenda

- instalem os institutos que permitam ao euro subsistir numa zona económica que seja minimamente federada,

porque, se assim não for,

- o euro, que não cimenta a unidade, é factor de progressiva desunião.

Quanto a Portugal, o aviso decorre do que, resumidamente, e portanto, deficientemente, referi atrás.
Se não há intenção por parte de quem, efectivamente, comanda a União Europeia, de avançar para uma integração política que seja suficiente para suportar o euro, só resta o caminho do recuo daqueles que o euro ameaça asfixiar.

Em que é que o meu estimado amigo discorda disto?