Falámos da prosa com que o Vasco Pouco Valente garante semanalmente as sopas, ainda sem saber que tema enchia metade da última página do Público de hoje. Afinal sai-nos "O arcaísmo francês", uma crónica requentada, onde VPV volta a baralhar e dar de novo um assunto que já lhe deu para cronicar várias vezes. Notoriamente, VPV não gosta dos franceses depois de se ter tomado de amores pela baronesa Thatcher. Aliás, bem vistas as coisas, VPV não gosta de ninguém, execeptuando, talvez, a Constança.
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A táctica de VPV na redacção dos seus escritos baseia-se em dois pressupostos: Primeiro - Se é assim, estar contra; se é assado, também. Segundo - Eleger umas afirmações vendáveis e preencher o quadro segundo as regras: os argumentos na vertical ou na horizontal hão-de concluir que não há nada no mundo que se aproveite. Salvo, talvez a Constança.
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Vamos por partes: "A política francesa já não serve de modelo à Europa". Trata-se, notoriamente, de uma afirmação desactualizada. Escrita há 50 anos, faria exactamente o mesmo sentido. Ao enfatizar o "já", VPV, no entanto, não quer fazer-nos crer que a França serviu de modelo à Europa até há pouco tempo. Preste-mos-lhe o benefício de saber que ele sabe que não é assim. Como frase de abertura, serve bem os propósitos do cronista. A partir dela fica aberta a porta para desancar sem olhar para o lado.
"A França é hoje uma potência de terceira ordem" - Quem engoliu, sem pestanejar, o primeiro argumento deixa passar, sem dar por ele, este segundo. Porque, francamente, se a França é uma potência de terceira ordem, quais serão as de segunda, no entender do Vasco, assumindo que, de primeira, são os EUA, isolados no topo?
"absorvida em querelas que não interessam a ninguém" - Claro exagero de VPV, convenhamos.
VPV sabe que as querelas francesas não são muito diferentes das querelas que ocupam e preocupam hoje os povos de todo o mundo: o desemprego, a imigração, a globalização, o terrorismo, etc.
"A última eleição presidencial passou brevemente pela imprensa e as televisões, foi discutida quase por dever e arrumada com alívio" .Qualquer leitor, minimamente atento, não pode deixar de pensar que o Vasco, ao chegar aqui, já estava a passar pelas brasas, e a rotativa à espera. Porque foi público e notório que há muitos anos não se observava uma mobilização tão forte por parte do eleitorado francês: 85% de votantes na primeira volta, 87% na segunda. O frente-a-frente entre os dois candidatos teve uma duração recorde de 2 horas e 45 minutos, salvo erro. Depois da votação, a eleição de Sarkosy despoletou uma onda de violência que ainda não chegou à praia. Faz algum sentido esta afirmação de VPV? Faz para quem se deixou embalar desde o início, sobretudo se detesta os franceses.
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Deixando de parte as considerações de VPV à "intelectualidade portuguesa" sobre o assunto, passemos ao que ele afirma sobre Ségolène: "O mundo vivo nem Ségolène nem a esquerda conseguem perceber. A semana de 35 horas (que não existe em parte alguma do Ocidente), as leis do trabalho e a intervenção universal do Estado, da providência à economia, levaram a França a uma dívida pública monstruosa, a um crescimento baixíssimo e a um desemprego perene." Este credo é conhecido, concorde-se ou não com ele, é discutível mas não saiu da cabecinha do Vasco. Ele limita-se a introduzir umas quantas constantes para que o puzzle feche.
"Toda a gente sabe isto e toda a gente sabe qual é o remédio. Sabe Sarkosy e sabem os 300 000 franceses que fugiram para Inglaterra". Leia-se isto a frio, e ver-se-á que o Vasco não passou apenas pelas brasas como está agora a sonhar para o papel com o sec. XVII. A França, não sendo a primeira potência desde o tempo em que Napoleão foi apeado, foi e continua a ser um país de atracção e não de repulsão.
"No primeiro discurso de Presidente, Sarkosy falou em "trabalho, autoridade, moral e respeito" e, durante a campanha, não parou de prometer uma "ruptura". Só que não vai "romper". A força do Estado e a ausência da mais vaga tradição liberal em França não permite que ele mude seriamente coisa nenhuma. A sra. Thatcher dividiu, e dividiu com deliberação e dureza. Sarkosy começou por um apelo à unidade nacional. É a diferença; e um aviso. De resto, Sarkosy está longe do liberalismo."Chegado aqui, Vasco mostra o produto que tem à venda: o liberalismo. Não sendo minha intenção regatear com ele nem a qualidade nem o preço, importa reter que para o Vasco existe uma impossibilidade de reversão congénita que ele aplica tanto a França como a Portugal, ou a Alhos-Vedros se também lhe garantisse as sopas: as coisas são como são (aliás, como VPV diz que são) e não há saída possível. Sarkosy diz que, o Vasco diz que o que Sarkosy diz é léria. O problema do Vasco, neste caso, é que não ganha as sopas em França. Qual é o francês que vai abanar a cabeça pelo Vasco?
"A ideia peregrina de uma política proteccionista para a França ou para a "Europa" mostra bem o que ele pensa da globalização: não se trata de competir mas de resistir. Como se trata de resistir à desordem de costumes contemporânea, que ele atribui inexplicavelmente, e paroquialmente ao "Maio de 68" . Também, sem entrarmos na discussão deste conjunto de afirmações (que poderiam ser confrontada com as recentes decisões da administração norte-americana de levantar barreiras à entrada de produtos chineses, por exemplo, e da sua continuada política proteccionista das suas produções agrícolas), com as quais até podemos concordar em certa medida, (as tais afirmações vendáveis), percebemos que o Vasco não disse nada de novo no meio de outras sentenças redondas ou descabidas.
"Apesar da cosmética, ele e Ségolène vivem noutra era e, no fundo, não importa muito qual dos dois se aplicará agora a conservar o "arcaísmo francês".
Provado fica, portanto, que VPV diria exactamente o mesmo, quaisquer que fossem os candidatos e o vencedor das presidenciais em França. Contra a opinião generalizada de que a França virou, decididamente, uma página da sua história. Para o Vasco tal não é possível em consequência de uma tara genética irreversível.
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Vasco dixit. Pode assinar o recibo.
Amanhã há mais contra alguém ou qualquer coisa.
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