Em artigo publicado recentemente na revista "Perspectiva", encartada com o "Expresso" do último Sábado, Susana Fonseca, Ambientalista, Vice-Presidente da Quercus respiga dos números publicados pelo Eurostat (Eurostat - http://epp.eurostat.ec.europa.eu/ - Transport - Long term indicators - Passengers car) num artigo que titula "O automóvel e o (sub) desenvolvimento do país" conclusões que, para os mais desprevenidos, serão inesperadas: Em Portugal, em 2004, em cada 1000 habitantes, 572 tinham automóvel. Acima, só os luxemburgueses (659) e os italianos (581) tinham mais pópós que os portugueses. Abaixo, os alemães (que os fazem bons, e há muito tempo) contentam-se com 546, os austríacos com 501, a média europeia a 15 é de 495, a França está abaixo com 491, a Bélgica com 467, o Reino Unido não vai além de 463, valor igual á média europeia a 25. A Suécia (com honrosas tradições no sector) está abaixo com 456, a nossa vizinha Espanha tem 454, a Finlândia (do mais recente milagre económico europeu) tem 448, a Holanda, apenas 429, a próspera Irlanda só 385, a Dinamarca 354, a Grécia, que nos ultrapassou em riqueza per capita, ocupa, neste ranking o último lugar com 348 veículos, qualquer coisa como 60% do número atingido por Portugal. Nos Estados Unidos da América havia, no mesmo ano, 711 veículos, também por cada mil habitantes.
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A perspectiva da autora é, naturalmente, ambientalista: "... a posse de um automóvel (não é) um símbolo de bem-estar económico. De facto, países como a Suécia, o Reino Unido, a Dinamarca e a Holanda são bons exemplos de como um desenvolvimento económico elevado não tem que corresponder um consumo desenfreado deste "bem". E, esperadamente, a autora conclui que "muitas vezes uma mobilidade mais segura, ecológica e económica está à distância de uma procura de informação e da coragem de dar o passo em frente."
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Sendo muito pertinente a abordagem que SF faz destes números do Eurostat, eles permitem muitas outras leituras e suscitam múltiplas interrogações que se enleiam com outros dados: p.e., o preço dos automóveis em Portugal, fortemente acrescido pelos impostos, o preço dos combustíveis, sensívelmente superior à média europeia, além de outros factores que poderiam travar a compra de automóvel e justificar uma modesta posição no "ranking". Há um factor impulsionador, contudo, que parece ter ultrapassado, pelo menos momentâneamente, todas as restrições: o crédito bancário promovido de forma incontinente. Neste, e em outros casos, (de que a construção é outro flagrante exemplo) se têm, em grande parte, sustentado os espantosos resultados da banca. Mas as árvores não crescem até ao céu, e os fenómenos de levitação são práticas de prestidigitação. Que parte do sucesso da banca em Portugal resulta de "prestidigitação própria" ou como "partenaire" é assunto que não vem nas estatísticas do Eurostat.
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Lamentavelmente.
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