Thursday, May 31, 2007

PALRA A PEGA

Assim como os travões servem para travar e destravar (subtileza que trai muita gente a tirar carta de condução), as palavras servem para as pessoas se entenderem e desentenderem. Não rararente, o desentendimento é propositado com o objectivo de obter réditos. Um dos exemplos flagrantes destes propósitos de rendimento com os jogos de desentimentos é dado pelos painéis de comentadores televisivos.
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Ontem, na Quadratura do Círculo os participantes desentenderam-se, como é hábito e em cumprimento do título do programa, por razões de linguagem.
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No caso da greve (geral ou parcial) de ontem, a discussão centrou-se na discussão do conceito de greve-geral-à-nossa-moda: (1) a greve não foi geral porque, praticamente, no sector privado ninguém fez greve (2) a greve foi geral porque em Portugal as greves gerais são assim: greves do sector público. Trocado por miúdos, a greve foi (se foi, ou quis ser) uma greve geral do sector público. E aquilo que é óbvio, levou os comentadores a andarem às voltas com o tema durante metade do programa. Pacheco Pereira aproveitou ainda para levantar mais uma vez o espantalho das perseguições políticas, sem contudo avançar com propostas que possam erradicar-lhe os receios;
Lobo Xavier disse perceber a contestação pela quebra de poder de compra que afecta muitas famílias de funcionários públicos, sem contudo ter proposto o quer que fosse para aumentar as possibilidades do orçamento geral do Estado.
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Voltaram a discutir a Ota, andando às voltas acerca do qualificativo da decisão que falta tomar: se técnica, se política. Para Pacheco Pereira a decisão é política, e discorda da proposta do PR. Mas, mais tarde, veio a invocar a desactualização dos estudos para justificar a contradição das posições do PSD acerca do assunto, quando era governo e agora na oposição. Para Jorge Coelho a decisão é política, claro, como disse o Pacheco Pereira, não discordou explicitamente da proposta do PR, mas sempre foi dizendo que no tempo de CS, enquanto primeiro-ministro, estas coisas não foram discutidas no Parlamento. Lobo Xavier disse que sim mas que também.
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Ficou sem resposta esta questão elementar: Que decisões políticas podem ser tomadas que não estejam, pelo menos parcialmente, suportadas por estudos técnicos? As que decorrem de crenças ideológicas e as tomadas por palpites. Em qualquer dos casos a discussão, política, cai na rua e os estudos técnicos cada um faz os seus.

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