Sunday, May 27, 2007

A BOTA DE FREI TOMÁS

Caro J
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Outra vez, desta vez a propósito da Ota como local do novo aeroporto, e da recomendação do PR para o debate aprofundado da questão na AR, V. despacha:
“Pergunte-se a Cavaco Silva quantos em quantas das grandes obras que lançou foram alvo de debates profundos no parlamento.»

É a velha questão de Frei Tomás. V. pode passar a vida a discutir as incoerências do santo mas não sai do mesmo sítio. Mesmo dando de barato que o santo nada fez daquilo que ele diz que se faça, o que nos interessa a nós não é, obviamente, o que ele não fez ( a não ser para o julgar por essa falta, mas isso faz-se em tempo de eleições) mas a pertinência ou impertinência daquilo que ele recomenda que se faça.
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Ora no meio da confusão que se instalou na discussão em praça pública, a localização do aeroporto na Ota tem de ser debatida em sede própria porque o Governo não foi capaz de, até agora, dizer claramente aos portugueses as razões da sua opção. Mesmo quando este Governo invoca, em abono da Ota, as opções (necessariamente provisórias) de governos anteriores sobre o assunto, o argumento não colhe porque: (1) essa opção pode não ter sido a mais correcta, (2) novos dados podem recomendar solução diferente.

Para complicar todo este imbróglio, o ministro da Obras Públicas deu o flanco com uma intervenção que, ainda que contextualizada, vulnerabilizou ainda mais a defesa da posição do Governo. Os argumentos lançados posteriormente por individualidades que apoiam politicamente o Governo, não só não deram consistência às palavras do Ministro como juntaram mais confusão à confusão já existente (Almeida Santos invocou a vulnerabilidade da ponte a ataques terroristas, um “handicap” a que o próprio Ministro na entrevista que deu à “SIC notícias” não valorizou, Vital Moreira argumentou os interesses da Lusoponte, como se não existissem interesses em jogo em qualquer dos casos). Ainda ontem noticiava a Antena 1 da RDP que uma entidade responsável, cuja designação não retive, reprovava a Ota por limitações de tráfego (não consente mais do que 30 aterragens e 40 levantamentos por hora); à noite, na SIC notícias, Augusto Mateus, que foi ministro de Guterres, incumbido de estudar o assunto, mostrava desconforto por lhe ter sido restringido o âmbito de análise.
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Eu, que também de aeroportos nada sei, sei que a Ota se transformou num molho de brócolos e não vai ser possível desatá-lo no meio desta balbúrdia toda. Claro que o Governo pode querer poder querer e mandar, mas não lhe auguro nada de bom se for por esse caminho. O PR manda pouco mas o PM, se pensa que está de pedra e cal, mostra fissuras evidentes.
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Tão evidentes, que dispensam diploma em engenharia civil e inscrição na Ordem.

2 comments:

A Chata said...

Pelos risos incontroláveis que este govermo provocou ontem nos comentadores do Eixo do Mal, diria que governo está no bom caminho para destronar os Gato Fedorento ou quem sabe, até mesmo os Monty Python.
Será que há uma ordem dos comediantes?

comandante guélas said...

“Sempre que abandonamos a racionalidade e recorremos ao comunismo para influenciar os homens, o resultado é um homem inferior e mais vulgar.” – Quitéria Barbuda in “Os Eleitos”, Revista “Espírito”, nº 36, 2006.

www.riapa.pt.to