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Leio o seu texto e olho para as fotografias de LC, no Expresso de hoje, e decidi agradecer-vos a sacudidela que o vosso artigo poderá dar nas consciências dos lisboetas, apesar do tema se ter banalizado e não conseguir, muito provavelmente, provocar mais do que um encolher de ombros colectivo.
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Apesar de tudo, é um desvio na corrente principal da discussão dos fulanos, que constituiu o prato forte com que se alimentaram os jornais nestes últimos dias. E é um passo importante para a discussão daquilo que devia ser prioritariamente discutido: as ideias para Lisboa.
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Tenho dedicado algumas das minhas reflexões, uma espécie de palavras cruzadas que vou preenchendo um blog (http://aliastu.blogspot.com), ao sistema de governo municipal, às causas de algumas das suas perversidades, e a Lisboa Abandonada, título que adoptei de um "site" que em tempos existiu na net (na realidade foi dos primeiros sites), que teve algum acolhimento por parte dos media, e nomedamente do "Expresso", mas que, por razões inconfessadas, foi vandalizado.
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Voltando ao tema central que é objecto do vosso artigo, parece-me da maior importância que se denunciem em textos e imagens as situações de ruina e abandono em que se encontram muitas partes da cidade de Lisboa, que se estendem muito para lá dos bairros históricos, e que deveria constituir motivo de uma imensa vergonha se não fosse esta nossa propensão fadista para a resignação. As eleições intercalares para a câmara lisboeta deveriam constituir uma oportunidade para, mais do discutir os fulanos, discutir as ideias que os fulanos têm para a cidade.
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A imprensa, que se queira responsável, e não meramente tablóide, pode e deve colocar à frente dos candidatos as fotografias da Lisboa Abandonada, e perguntar-lhes como pensam, se é que pensam, tornar Lisboa uma cidade limpa, curada dos furúnculos e das feridas expostas .
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Porque esta situação de abandono tem causas. A lei das rendas tem sido, quase unânimemente, considerada o bode expiatório. A lei foi alterada, mas os resultados não são visíveis. Nem era esperável que fossem: há centenas de milhares de prédios ao abandono em todo o país, com particular incidência em Lisboa, que não estão arrendados mas devolutos, há muitos anos. Uma parte, não dispicienda, pertence ao Estado Central ou às autarquias, ainda neste caso com particular destaque para Lisboa.
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De modo que, caros amigos, gostei muito do vosso artigo, mas considero-o um esforço que fica no começo do caminho. Para percorrer o restante perguntem aos candidatos como pensam eles resolver a questão e façam vocês mesmos uma investigação da consistência das suas respostas. Porque "Insanity is doing the same thing over and over again, expecting different results" - Albert Einstein. Muito provavelmente, eles dar-vos-ão as respostas (ineficazes) do costume.