Ainda a propósito de ideologias políticas, que geralmente demarcavam os terrenos da esquerda e da direita, com ou sem espaço intermédio, consoante as perspectivas, uma questão elementar se coloca: existem políticas de esquerda ou de direita na gestão local?
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Se olharmos para a unidade administrativa mais elementar do Estado, a junta de freguesia, é difícil caracterizar a prática gestionária dos interesses comuns a este nível num ou noutro lado do espectro político. Dificilmente se conseguirá descortinar uma opção de aplicação dos dinheiros públicos colocados ao dispor das autarquias elementares que permita catalogá-la de direita, de esquerda ou do centro. Gastando as dotações recebidas em pequenas obras de arranjo de passeios e ajardinamentos, de manutenção dos cemitérios ou de actividades culturais ou pseudo-culturais, com o que lhes sobra do pagamento aos elementos da junta e dos empregados nos serviços burocráticos, que em muitos casos comem a maior fatia, as juntas de freguesia terão, quanto muito, um papel de influência política, enquanto membros da assembleia municipal.
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A batalha político-partidária a nível das juntas de freguesia é, essencialmente, uma luta pelo domínio partidário a partir das bases, consumindo-se os recursos em acções que possam comprar votos (o excursionismo, o futebol, por exemplo) ou garantir apoios dos construtores civis que facturam as obras. Qualquer que seja a força política dominante, prossegue geralmente a mesma política agenciadora de votos, adoptando as mesmas receitas vencedoras.
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No plano da gestão autárquica municipal, a questão não é muito diferente daquela que se observa nas juntas de freguesia. Relendo as propostas das "10 personalidades de referência" ouvidas pelo Expresso (vd. "post" anterior: POUCO CLARA) dificilmente se identificará cada uma das personalidades ouvidas com um enquadramento ideológico nítido, e muito menos com a ideia que temos formado acerca das opções políticas de cada uma delas.
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É ainda a maior ou menor intervenção do Estado no contexto económico local que caracteriza, fundamentalmente, uma opção de esquerda (maior intervenção estatal) ou de direita (menor intervenção estatal). Assim sendo, quando um vereador socialista (ainda que dissidente) cessante da Câmara de Lisboa confrontava ontem na "Sic notícias" o seu opositor, vereador cessante do PSD, com o facto da câmara presidida por Carmona não ter reduzido o número de empresas municipais, estando mesmo na forja o aparecimento de mais uma, é óbvio que a acusação do "socialista" ultrapassa pela direita a posição do "social-democrata" que representava a administração Carmona.
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Se uma luta ideológica existe a nível do poder local ela prossegue, segura e únicamente, o domínio pela gestão dos dinheiros colocados à sua disposição das autarquias e dos empréstimos contraídos. Na Câmara Municipal de Lisboa o passivo ultrapassa os mil milhões de euros. Quem os engolui, não sabemos. As autarquias não prestam contas aos eleitores. Verdade seja que os eleitores também não as reclamam. Contentam-se com a discussão dos fulanos.
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E, deste modo, se têm mantido os responsáveis pelos descalabros, anos e anos a fio, nos poleiros.
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