Friday, July 31, 2015

ISTO NÃO É UMA RECLAMAÇÃO

Senhor Director do Museu Nacional de Arte Antiga,

Visitámos recentemente o MNAA atraídos, desta vez, pela exposição dedicada a Josefa de Óbidos. Felicito-o, além do mais, pela apresentação pública de algumas obras desta artista que, de outro modo, não poderíamos ter visto.

Aproveitei para levar os meus mais novos a voltar a ver algumas das peças mais valiosas do Museu, incluindo, naturalmente, a " Custódia de Belém".
Subimos a escada de acesso ao terceiro piso, e à esquerda, existe aquele recanto onde a mensagem "Custódia de Belém" é, provavelmente, a mais impressiva do Museu, até por estar rodeada das fotos dos trabalhos que lhe restituíram a frescura original.

E, no centro do espaço delimitado pelas informações e fotografias dedicadas à "Custódia de Belém", está  uma peça que não é a "Custódia de Belém". A "Custódia de Belém" encontra-se recatada a um canto da sala em frente.
Porquê?
Respondeu-nos um funcionário que talvez não houvesse outro espaço para a colocar.
Disse-nos outro, menos jovem, que também ele achava estranho estar uma peça no espaço dedicado à "Custódia de Belém" que não é a "Custódia de Belém" induzindo em erro quem não esteja familiarizado com a beleza da peça mais preciosa da ourivesaria portuguesa. E sugeriu-nos que reclamássemos no livro respectivo.

Ora, sr. Director, eu não tenho reclamação nenhuma a apresentar.
Também leigo em ciências museológicas, não me chega gabarito para reclamar neste caso, mas intriga-me o facto de estar a "Custódia de Belém" bastante deslocada do espaço que, aparentemente, foi criado para a acolher. E, mais intrigante ainda, encontrar-se  o centro desse espaço dominado por uma outra peça de ourivesaria.

Tendo, como toda a gente, alguma curiosidade pelo conhecimento dos resultados de charadas que não sei resolver, solicito-lhe o favor de me mandar por esta via a solução desta.

Respeitosamente,

Rui Fonseca

UM TIRO NA CAIXA OUTRO NO CAIXEIRO

O sr. Passos Coelho considerou ontem, vd. aqui, que "a Caixa já devia estar a gerar capital para devolver a ajuda estatal recebida há três anos. O banco, que não comenta, tem vendido activos, mas não usou esse dinheiro para pagar ao Estado. Teve prejuízos para absorver. A "preocupação" do primeiro-ministro relativamente à Caixa Geral de Depósitos prende-se com os 900 milhões de euros recebidos em 2012 através de instrumentos híbridos, os chamados "CoCos". 

Recorde-se, vd. aqui, que a recapitalização da Caixa, em Junho de 2012, envolveu, para além do empréstimo do Estado de 900 milhões de euros, o aumento do capital através do accionista único, o Estado, em 750 milhões de euros. Até agora, pelos vistos, a Caixa não reembolsou um cêntimo deste empréstimo. 

Que pretende o sr. Passos Coelho com esta declaração de preocupações pública? 
Intimar o sr. José Agostinho Martins de Matos a cumprir o contrato, procedendo de modo simetricamente idêntico ao da Caixa enquanto credor? É improvável: O governo (este ou outro qualquer) enquanto feitor do accionista único da Caixa não a pode colocar sob penhora. 
Por outro lado, é também improvável, que o sr. Passos Coelho, ou a sua ministra das Finanças, não tenham feito chegar, em tempo oportuno, junto do sr. José de Matos o seu desagrado pelo incumprimento da instituição a que ele preside. Improvável é ainda que o sr. José de Matos não tenha informado o sr. Passos Coelho das razões da falta, que, aliás, são conhecidas,  e se tenha fechado em copas.  

Daqui, tem de inferir-se que o sr. Passos Coelho, com as suas declarações de ontem, pretende uma de duas coisas ou as duas ao mesmo tempo: preparar a opinião pública para a privatização, ainda que parcial da Caixa - que já deveria ter ocorrido há bastante tempo - ou demitir com pública justa causa o sr. José de Matos, ou demitir José de Matos e avançar para a privatização com outro homem ao leme do batelão. 

O PS veio imediatamente a público dizer quase isto mesmo mas com o intuito de mobilizar a opinião pública em sentido contrário. Acontece que, neste caso, o PS tem rabos de palha que o fazem tropeçar nos argumentos. A Caixa nunca foi a instituição de crédito exemplar que a sua condição de banco público lhe impunha. E, mais recentemente, é difícil fazer esquecer aos portugueses as embrulhadas perversas em que a administração presidida pelo sr. Carlos Ferreira, acolitado pelo sr. Armando Vara, envolveu a CGD. Dito de outro modo: Os argumentos do sr. Passos Coelho, a confimarem-se as suas intenções de privatizar a Caixa, sustentam-se em grande parte nas perdas provocadas pela gestão socialista. 

Wednesday, July 29, 2015

O JOGO DOS MAÇONS PINGAS

Variante do JOGO DA CABRA CEGA

Hoje soube-se, vd. aqui, que

"João Alberto Correia, ex-diretor geral de Infraestruturas e Equipamentos do Ministério da Administração Interna, vai ser julgado por 80 crimes: 32 de corrupção passiva, 31 de participação económica em negócio, 12 de falsificação de documentos, quatro de abuso de poder e um de branqueamento de capitais. A decisão foi tomada este mês pelo juiz João Bártolo do Tribunal Central de Instrução Criminal, que confirmou em toda a linha a acusação do Ministério Público."

Há dois meses atrás soube-se, vd. aqui, que

O Ministério Público acusara "ex-director do MAI de beneficiar amigos e maçons ..." e que "durante três anos (2011-2014), muitas obras adjudicas pelo Ministério da Administração Interna (MAI) terão obedecido apenas a dois critérios: os beneficiários ou pertenciam à maçonaria ou a um clube informal de amigos autointitulado "Os Pingas".

Em Maio do ano passado foi-nos recordado, vd. aqui, "a coincidência rara nos percursos de João Rosado Correia, pai, e João Alberto Correia, filho", e a presença na fita de gente que regularmente nos entra em casa se acaso o zapping entre meia dúzia de canais televisivos os intercepta debitando opiniões e não raramente subtis prelecções morais.

"A maçonaria (reclama-se como) uma sociedade fraterna, que admite todo o homem livre e de bons costumes, sem distinção de raça, religião, ideário político ou posição social, (tendo como)  principais exigências que o candidato acredite num princípio criador, tenha boa índole, respeite a família, possua um espírito filantrópico e o firme propósito de tratar sempre de ir em busca da perfeição, aniquilando os seus vícios e trabalhando para a constante evolução de suas virtudes". Wiki

Quod erat demonstratum

Tuesday, July 28, 2015

ESQUIZOFRENIA EUROPEIA

Há um mês atrás (27/06) comentei aqui:

"Tsípras talvez tenha anunciado a noite passada o Plano B com que partiu para as negociações com os parceiros europeus na UE logo que ganhou as eleições e assumiu o governo em Atenas. Por onde passa esse plano B, uma vez desencadeado o processo de anúncio da consulta popular, não sabemos, mas espera-se que Tsípras saiba. Ou, pelo menos, saiba por onde quer que ele passe. 
Tsípras, contrariamente ao que o termo que usou significa, e os media estão a replicar, não convocou um referendo, convocou pelo menos três. Que, implicitamente, implicam o plebiscito do regime que defende."
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E do meu ponto de  vista, ou vencia o Não, e Tsipras tinha suporte popular suficiente para rejeitar as exigências do trio UE-BCE-FMI, e avançar (com um Plano B) para a saída da Grécia da zona euro se o trio não cedesse; ou vencia o Sim, e Tsipras, logicamente, deveria demitir-se.
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Mas a lógica em política é uma batata, venceu o Não, e Tsipras acabou por aceitar, discordando, um conjunto de medidas mais gravoso que aquele que tinha rejeitado e motivado a convocação do plebiscito. Demitiu Varoufakis e, sabe-se agora, Varoufakis congeminara um plano B para voltar ao dracma, e Tsipras sabia disso.
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Ontem, o Financial Times transcrevia parte de uma entrevista a Varoufakis, reproduzida aqui em registo audio, que está a desencadear nos meios políticos polémica q.b. (considerando um escândalo ter Varoufakis ter tornado público a intenção e os meios para sair do euro) e para "a Procuradoria-geral grega ter recebido duas queixas contra o ex-ministro das Finanças por gestão danosa e traição, e o Supremo ter pedido o levantamento da imunidade parlamentar do deputado Varoufakis."
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Hoje, o Financial Times publica um esclarecimento de Varoufakis sobre o assunto que, no entanto, não contraria o essencial da entrevista.

Entretanto, as negociações complementares para o acordo, que Tsipras aceitou, discordando, prosseguem e a notícias de hoje dão conta que o conjunto de exigências do trio continua a ser carregado com mais medidas. A hipótese do Grexit não foi descartada e Schäuble continua a defender a saída da Grécia da zona euro, com todas as consequências daí decorrentes. 

Resumindo: Varoufakis tinha desenhado um Plano B. Louco, megalómano, radical e revolucionário, como aqui se sugere, talvez.
Por outro lado, sabe-se que as instituições europeias têm preparado um plano que suporte uma eventual saída Grécia da zona euro. Se um escandaliza e o outro não, é porque, provavelmente, não sabemos que plano é este outro.
O erro de Varoufakis foi ter mostrado o jogo depois de o ter perdido. Para um especialista da Teoria de Jogos é imperdoável que desconheça o que nenhum jogador principiante de pocker ignora.

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Correl . - "People are apparently shocked, shocked to learn that Greece did indeed have plans to introduce a parallel currency if necessary. I mean, really: it would have been shocking if there weren’t contingency plans. Preparing for something you know might happen doesn’t show that you want it to happen." - Paul Krugman / Contingency Plans

NÚMEROS DA DERIVA EUROPEIA

Mais: aqui

Monday, July 27, 2015

PERCEBES

Percebe-se bastante bem que tanto os líderes da coligação no governo e os da oposição candidata a liderar o próximo declarem ter como objectivo a obtenção de uma maioria absoluta nas eleições legislativas de 4 de outubro. Seria estranho que declarassem pretender atingir apenas uma maioria relativa. Deste pressuposto resulta que ambos, coligação e oposição candidata, recusem admitir, antes do conhecimento dos resultados de 4 de outubro, qualquer coligação de bloco central.  

É também muito normal que os partidos com menos representatividade eleitoral actual procurem aumentar o número de representantes seus no parlamento ou, se ainda lá não estão, colocar alguns, no mínimo um, para começar. Consequentemente, os objectivos dos partidos no governo e o candidato a governar colidem com os dos partidos com menos ou ainda sem nenhuma representatividade parlamentar.

Também se percebe que o PR venha repetindo desde há já bastante tempo que a fragilidade da situação económica e financeira do país exige estabilidade governativa e esta só pode ser assegurada por um governo suportado no parlamento por uma maioria absoluta. Pelas razões já atrás referidas, percebe-se que os partidos com menor representatividade parlamentar rejeitem o objectivo da estabilidade governativa porque ele implica a necessidade de uma maioria absoluta e este facto só é compatível, até certo ponto, com menor, nenhuma progressão ou até redução da sua expressão eleitoral. 

Só não se percebe que haja tanta gente a presumir independência de julgamento que, aparentemente, não percebe isto. 

Ouvi ontem um conhecido jornalista e comentador televisivo considerar "rídiculo o pedido  (dos principais partidos) de uma maioria absoluta aos eleitores" e percebe-se porquê: ele é um dos líderes de uma coligação de dois partidos, ainda sem representação parlamentar, formados essencialmente por dissidentes de um partido com reduzida representação parlamentar. 
Se esta esquerda é idiossincraticamente fragmentária percebe-se perfeitamente que abomine um consenso maioritário como solução dos graves problemas com que os portugueses se defrontam.

Sunday, July 26, 2015

QUANTAS VEZES JÁ PASSOU A CRISE?

Aproximam-se as eleições legislativas.

Novos empréstimos para habitação e consumo cresceram 52% e 25% entre janeiro e maio, voltando a níveis pré-troica. Caiu 32% o crédito às empresas no mesmo período. Cf. aqui
António Costa (jornalista) : Os bancos têm os cofres vazios. Cf. aqui

Foram vendidos 91.075 veículos ligeiros nos primeiros cinco meses de 2015, representando um crescimento homólogo de 30,3%, valor que ultrapassa o número de veículos registados durante o mesmo período de 2011. A manter-se este volume de vendas, o número total de veículos vendidos em 2015 poderá ultrapassar as 200 mil unidades. Renault, Peugeot, Volkswagen, Mercedes-Benz, Citroën e BMW mantêm, por esta ordem, os seis primeiros lugares da tabela de vendas de ligeiros. Cf. aqui
 
Entre março e maio, o défice da balança comercial ampliou-se 611,4 milhões de euros para -2.965,8 milhões de euros e a taxa de cobertura diminuiu 2,2 pontos percentuais para 81,3%. Cf. aqui

Após um crescimento de 0,9 por cento do PIB em 2014, prevê-se uma aceleração para 1,7 por cento em 2015. Cf. aqui

No fim de maio a taxa desemprego era, estatísticamente, de 13,2%, ainda a quinta mais elevada da União Europeia. Cf. aqui

Passos garante que a crise já acabou. "Pusemos a crise para trás" - Cf. aqui

Resumindo: Os bancos têm os cofres vazios mas aumentaram o crédito para habitação e consumo. As vendas de automóveis continuam de vento em popa. Consequentemente, voltou o défice comercial e o aumento da dívida externa privada. O ténue crescimento económico é alimentado pelo crescimento do consumo e este pelo crescimento do crédito externo. 
Passou a crise? 
Quantas vezes?

Saturday, July 25, 2015

CENTRAL TEJO

Uma tarde com os mais novos no Museu da Electricidade.
Visita (muito bem) guiada à Central Tejo, onde se produzia a electricidade que, a partir de princípios do séc. XX, iluminava Lisboa e arredores e, também, perceber o sofrimento daqueles que trabalhavam no inferno da central, sujeitos a temperaturas que hoje seriam consideradas insuportáveis, obrigados a inalar as poeiras causadas pela remoção das cinzas que os matavam em pouco tempo. 
*****
No mesmo espaço estão em exibição duas exposições:  
1915, o Ano do Orfeu, comemorativa do centenário do movimento vanguardista que viria a provocar a renovação da literatura portuguesa.  
Os documentos, os filmes, e outros materiais expostos, são bem ilustrativos de uma época mas é pouco provável que a grande maioria dos visitantes seja mais tocada nesta exposição pela dimensão da influência de Pessoa, Sá-Carneiro, Almada Negreiros ou Santa-Rita Pintor, do que aquela que lhe atribuiram os seus contemporâneos. 
1915 foi o ano em que aconteceu Orpheu mas, parafraseando Pessoa, houve pouca gente a dar por isso.  
Visitando esta exposição, presumo que acontece o mesmo. 
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Novos Artistas da Fundação EDP 2015.
Em 2115, 2015 não será o Ano dos Novos Artistas Fundação EDP 2015


Friday, July 24, 2015

O JOGO DA CABRA CEGA

 De manhã

"Público fala em denúncia sobre Montepio, PGR não recebeu nada, banco desconhece" - cf. aqui
  
"Banco de Portugal confirma denúncia sobre o Montepio. PGR diz que não a recebeu qualquer notificação. Montepio ameaça processar PÚBLICO". - cf. aqui

À tarde
 
PGR confirma que Ricardo Salgado está a ser ouvido no âmbito das investigações do denominado "Universo Espírito Santo". - cf.  aqui




Entradas livres, mas bem pagas.

Thursday, July 23, 2015

UMA IDEIA AFOGADA

Há uma sentença ditada pela filosofia popular que garante que as boas contas fazem os bons amigos.
A União Europeia corre o risco de desmantelamento, com todas as consequências que as contas por pagar implicam, porque os banqueiros, fiados que podem sempre contar com os contribuintes quando os seus devedores não aguentam com a carga e dão de lado, importaram volumes de crédito que eles sabiam muito bem serem excessivos, para gananciosamente arrecadarem comissões que os tornaram soberanos e inimputáveis.

É esta inimputabilidade que gera um equívoco que lança os do norte contra os do sul: contrariamente à mensagem que corre os contribuintes finlandeses (p.e.) não emprestaram aos gregos (p.e.). Quem emprestou foram os banqueiros alemães, holandeses, franceses, e, possívelmente, também algum ou  alguns finlandeses. Depois os gregos foram intimados a pagar o que deviam, a regurgitar o que tinham engolido, da noite para o dia. Não podiam. E para resgate daqueles que engendraram o risco sistémico o governo finlandês e os outros meteram no cepo a cabeça dos contribuintes.

Fossem outras as regras, fossem os banqueiros, os accionistas e os clientes dos bancos que foram para além de onde deveriam ir, obrigados, sem a intervenção dos políticos, a negociar os seus créditos bilateralmente com os seus devedores, as relações entre os estados membros da UE não teriam caído na armadilha externa, uma armadilha que os banqueiros colocam desde há muito tempo em muitos outros locais do mundo.

Nem a Grécia (p.e) seria sujeita a obdecer a um diktat que, inevitavelmente, só pode criar animosidades insaráveis durante muitos anos. 

Enquanto existir a rede (moral hazard) que apara os banqueiros em caso de queda dos trapézios em que exibem as suas habilidades, continuarão a acontecer crises e culpados que não serão culpabilizados. Neste caso, da crise profunda que abala a UE, as consequências são dramáticas porque lançam sementes de guerra entre  povos que se queriam unir para evitar a guerra. 

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*Comentário colocado aqui

Wednesday, July 22, 2015

UMA REALÍSSIMA COCHEIRA REAL

Há quase três anos atrás anotei aqui o meu desapontamento com a transferência do Museu dos Coches das suas instalações de sempre para uma enormidade de cimento armado que eu vira crescer ali perto sem saber para que viria a servir. Hoje fomos visitar com os mesmos convidados, as novas instalações dos Porsche, dos Maserati, dos Lamborghini, dos Ferrari, entre outras viaturas de espantosa cavalagem, dos séc. XVIII e XIX. A maior parte deles pertença do senhor D. João V e do seu séquito, nobre ou eclesiástico, incluindo os dos meninos de Palhavã, que sua magestade engendrou portas conventuais adentro.



Dois a três séculos depois, o primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates decidiu deixar para a posteridade, entre muita outra obra feita, uma garagem mais ampla para as realíssimas carruagens. 
A D. João V aconteceu deparar-se com toneladas de ouro, oferecido pelo Brasil, com que, além do mais, mandou construir a enormidade do Convento de Mafra. José Sócrates deparou-se com milhares de milhões de crédito oferecido pelos banqueiros. 
É assim que acontecem as irracionalidades económicas e, frequentemente, as enormidades arquitectónicas. 

Tuesday, July 21, 2015

"É IMPOSSÍVEL ESCREVER CORRUPTO SEM PT"

A descoberta é de Claudio Tognolli, jornalista brasileiro, que já citei aqui em meados de Janeiro deste ano. 

Hoje é notícia, a juntar a muitas outras variações sobre o tema que têm regalado jornalistas portugueses e brasileiros nas últimas semanas, que a PGR confirma investigações relacionadas com a PT

Confirmando o atraso que levam relativamente a Tognoli.

Monday, July 20, 2015

UTENTES DA A 26


Um dos monumentos à irresponsabilidade, e, muito provavelmente, ao concluio e à corrupção, são os pilares que se erguem na planície alentejana perante quem sai da A2 a caminho de Beja. Vd. reportagem da RTP aqui.

Foram as estimativas de tráfego subornadas apenas neste caso?
De modo algum.
A A26 ficou-se pelos pilares, que um ou outro casal de cegonhas aproveita para montar casa, porque arrancou quando já era nítido o refluxo da maré de crédito importado pela banca, sustentado em projectos de ilusionistas. 
Alguém foi responsabilizado pelos truques? Ninguém. Nunca.

Saturday, July 18, 2015

OS BONS, OS MAUS, E OS QUE PAGAM AS FAVAS

Obrigado E., pela mensagem.

Que subscrevo, sem objecções de monta, salvo dois pontos:

1º. O autor reprova o maniqueísmo mas cai no mesmo pecadilho, se não li mal.
2º. Considera (inevitável) a intervenção do Estado (alemão, ou outro qualquer) no resgate dos bancos porque se não ... lá se ia o nosso dinheirinho.

Ora estas coisas não são assim tão lineares, ainda que sejam comuns.
Os bancos dispõem de uma rede que os apara quando no trapézio fazem números mirabolantes ... e cobram comissões de arregalar o olho dos espectadores. No jargão anglo saxónico, como é sabido, esta rede é o "moral hazard", que significa que, façam os bancos o que fizerem, em última instância para não pagarem os depositantes as favas são chamados os contribuintes a pagá-las.

Meu Caro E.,

Durante dezenas de anos negociei contratos com gente de muita parte do mundo.
E não foi difícil perceber que negócios com gregos exigem muitas cautelas. Ninguém, que não ande neste mundo a dormir, ignora isso.
Os bancos também não. Mais: sobretudo os bancos.
Então porque emprestaram os bancos tanto dinheiro aos gregos? E aos portugueses, se virmos bem, sem qualquer faúlha maniqueísta nos olhos a perturbar-nos a visão?
Porque, lá está!, eles sabiam que se houvesse azar nos números arriscados, os que dão mais proveitos, alguém seria compelido a assumir o preço dos seus erros.

Não é isto escandalosamente imoral? Não acredito que digas que não.
Não há nada a fazer?
Ben Bernanke quando foi figura do ano da "Time", em entrevista concedida a esta revista, dizia que o problema (financeiro, entenda-se)  mais bicudo dos EUA era o "too big to fail". 
Continua (quase) tudo na mesma por este mundo do diabo. Lá e cá.

Até que o vulcão vomite novamente escândalos financeiros e queime os que estiverem ao seu alcance. Costuma acontecer periodicamente. As pessoas têm memória curta, os banqueiros perna longa.

Abç



DEMAGOGIA E CONTAS PÚBLICAS

"Quando a função pública entra em cena, os limites da equidade e da solidariedade ficam sem contornos..."- cf. aqui

"Sendo a ADSE totalmente financiada pelos seus beneficiários, uma vez que o Estado deixou de comparticipar, não encontro justificação para que o Estado continue a administrar a ADSE " - cf. aqui

"Agora, aquilo que realmente me parece desequilibrado, anti-social, injusto e a necessitar de reforma, é o facto de no país, os trabalhadores do Estado terem acesso a um serviço de saúde comparticipado nos prestadores privados e os outros desgraçados terem de gramar com listas de espera de meses ou anos até, para serem submetidos a tratamentos ou a intervenções cirurgicas e ainda para consultas de especialidade. Se queremos ser um Estado democrático, é mesmo necessário e urgente alterar esta situação e dar a todos os contribuintes-benefíciários dos diferentes sistemas de saúde, condições iguais." - cf. aqui
 ... ... ... ...

O mais bizarro no meio desta algazarra acerca dos superavits da ADES é que estes críticos ignoram (ou querem ignorar) que durante muitos anos os superavits da segurança social (contribuições dos privados) serviram sistematicamente para reduzir não só os saldos negativos das contas mas também a dívida pública. Os fundos excedentes não só massajaram as contas públicas como voaram dos depósitos da segurança social (privados).

Enfatizo - privados - porque ao mesmo tempo os sucessivos governos não depositaram em nome da entidade patronal - o Estado - as contribuições que deveriam ter feito para a Caixa Geral de Aposentações. Pelo mesmo crime foi condenado a prisão há muitos anos atrás, como se fosse o único transgressor - um tal sr. Cebola* -, na altura gerente da Oliva. 

Se a ADSE é agora autosuficiente por que razão se mantém na esfera da gestão do Estado, i.e., do governo?
A razão é simples: porque os governos (este, os anteriores e os que virão) não quererão nunca abrir mão de fundos que lhes permitirão safar parte dos défices do OE. Como neste caso de agora.

A mesma razão pela qual não fazem o que deveriam fazer: separar as contas da segurança social (privados) das contas da segurança social da função pública e dos não contributivos. 

Ouvi ontem o ministro da Saúde (para a tutela de quem vão ser transferidas as responsabilidades da gestão da ADSE) referir, e com razão, que sendo a ADSE um seguro de saúde dos seus associados a observância de excedentes agora pode justificar-se para prevenir défices futuros, que podem ocorrer com a alteração etária do universo abrangido. Devolver ou não esses fundos excedentários ou reduzir as contribuições actuais depende das conclusões de uma análise actuarial que, disse ele, já está (ou vai ser) encomendada.
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O Odisseia Fiscal de João Cebola

Friday, July 17, 2015

O "LÍO" DOS SOBERANISTAS EUROPEUS

O El País de hoje noticia aqui que o rei de Espanha recebe hoje o presidente da Generalitat da Catalunha, que lhe leva a intenção de prosseguir um "caminho jurídico" para a independência após a obtenção, vd. como aqui, de uma maioria clara dos catalães nesse sentido. Esta entrevista realiza-se apenas três dias depois de o mandatário catalão ter acordado com o líder da ERC, Esquerda Republicana da Catalunha, um plano para a soberania e um dia depois do presidente do governo de Espanha ter assegurado sem titubear que "não vai haver independência na Catalunha".

O que pode fazer Filipe VI enredado neste "lío" a enrolar-se há três séculos? Presume-se que, quanto muito, poderia tentar, à semelhança da Raínha de Inglaterra, manter-se como mestre-mor de cerimónias de um futuro Reino Unido das Espanhas. Não podendo as forças reais ir mais além é previsível que o catalão-mor lhe peça apenas o que o monarca lhe pode dar: equidistância na contenda entre Barcelona e Madrid. Mas aceitará Filipe VI a oferta do mandatário com o republicano de esquerda na antecâmara e as outras regiões autonómicas a observar-lhe as tendências? Não é provável, apesar das aparentemente boas relações entre Mas e Filipe. A independência da Catalunha precipitaria a desagregação de Espanha e abalaria ainda mais a estabilidade de uma União Europeia em desequilíbrio.


A crise grega tornou mais evidente a fragilidade de uma construção europeia sobre alicerces instabilizados pela ânsia de soberanismos, existentes e pretendentes. 
Os soberanismos europeus, radicados em percursos históricos antigos e confrontos seculares, reflectem hoje, em regimes democráticos, sobretudo sentimentos chauvinistas, de convicta superioridade intelectual, ou egoístas, de domínio de recursos que a natureza lhes concedeu, ou simplesmente basófias por imaginários de independência de que dificilmente lhe descortinam os horizontes e os suportes.

A solidariedade que a Grécia (ou Portugal, ou a Itália, ou a Espanha ) espera da Finlândia numa união de povos europeus é a mesma que a Andaluzia ou a Galiza esperam da Catalunha. As fracturas que poderão estilhaçar a Espanha têm as mesmas origens que podem desmontar a União Europeia.



Thursday, July 16, 2015

OS ARMADORES DE ATENAS

Não é apenas a obtusidade da arquitectura do euro que ameaça derrubar o edifício da União Europeia e propiciar a animosidade, o chauvinismo, depois a xenofobia, o racismo, a guerra entre os povos europeus. 
É também a falta de sustentáculos políticos que suportem a diversidade cultural, ao mesmo tempo a maior riqueza, mas também a maior ameaça se não for mutuamente respeitada, de povos que durante séculos se combateram entre si. 

Mas é também a ausência de institutos que previnam que alguns sejam beneficiados à custa de outros sem justa causa. A fuga de capitais gregos que permite, p.e., aos alemães financiarem-se tanto na esfera pública como na privada a taxas de juros próximas, ou mesmo abaixo de zero, é insustentável porque acabará por corroer até à sua destruição uma união monetária incompleta. 

A ausência de condições de harmonização financeira e fiscal desencadeia um ciclo perverso que impossibilita a convergência económica e social sem a qual não há unidade, económica, monetária ou outra, que subsista. Na sequência dos compromissos ontem aprovados em Atenas, além do mais que não entra directamente nas contas, a despesa pública será reduzida e os impostos aumentados. 

Quem pagará mais impostos?
Não a Igreja Ortodoxa Grega, que é a maior proprietária do país.
Não os armadores gregos, que ameaçam deslocalizar as suas operações para outros destinos se o governo decidir acabar com os benefícios fiscais que constitucionalmente lhe estão outorgados.  As suas actividades representam 7% do PIB e empregam cerca de 250 mil pessoas. 

Em Atenas, no século V a.C, se um cidadão ameaçasse a democracia, era votado ao ostracismo*: i.e., a expulsão por um período de dez anos.
Hábitos que, lamentavelmente, se perdem.



* O termo deriva do método de votar que consistia na escrita do eleito em um pedaço de cerâmica, o óstraco.

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Armadores gregos ameaçam mudar-se se perderem privilégios fiscais5 Março, 2015 at 14:59


Em causa pode estar o desejo de reformular o artigo 107.º da Constituição da Grécia, que concede aos armadores isenções de impostos sobre os lucros e lhes permite pagar apenas uma taxa pela arqueação dos navios.

Aquele artigo foi publicado em 1953, na altura para permitir a reconstrução da frota mercante grega, aniquilada durante a Segunda Guerra Mundial, mas manteve-se até hoje. A própria União Europeia já questionou, há dois anos, Atenas sobre o tema, com dúvidas se é compatível com a legislação comunitária.

A cada vez que surge no ar a ameaça de retirada dos privilégios fiscais, os armadores helénicos abanam a “bandeira” da deslocalização. Mónaco, Dubai, Singapura ou até a Alemanha são destinos possíveis.

“Todos temos um plano B que podemos colocar em prática no espaço de 24 horas. Mas queremos ficar na Grécia e contribuir para o esforço comum. Com a condição, claro está, que ninguém toque nos direitos que nos são concedidos pela Constituição”, afirmou, há pouco tempo, ao italiano “La Repubblica”, Theodore Ventiamidis, líder do movimento de empresários do mar na Grécia.

A posição de força dos armadores gregos explica-se pela importância que têm para a economia do país. Representam 7% do PIB, empregam cerca de 250 mil pessoas e investiram 13 mil milhões de dólares (11,67 mil milhões de euros) na construção de novos navios em 2014, apesar da crise que afecta a Grécia.

Não por acaso, a Grécia é uma potência mundial em termos de frota controlada pelos seus empresários nacionais.
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 18/07 -
Greek maritime industry fears being punished by its sucesses

Wednesday, July 15, 2015

ENROLANDO

 c/p de aqui

De onde virá o dinheiro para o 3º. resgate à Grécia?

- 16,4 mM de milhões de euros do FMI
- 65,5 mM do Mecanismo de Estabilidade Europeu
-   2,0 mM de privatizações
-  4,5  mM de saldos primários positivos


Totalizando  cerca de 88,5 mM de euros

Para onde irá até Dezembro de 2018?

-  7,7 mM  para almofada de liquidez dos bancos
-  7,0 mM para regularização de empréstimos vencidos
- 17,2 mM para juros
- 25,0 mM para recapitalização dos bancos gregos
- 14,3 mM para reembolsos ao Sistema Europeu
-  9,9  mM para reembolsos ao FMI
-  5,5 mM para reembolsos a credores privados

Totalizando cerca de 86,6 mM de euros

ENTRE O SONHO E A REALIDADE

Arrebatado pela gravata, vd. como aqui,  Tsipras passou a linha vermelha que ele próprio tinha traçado, caindo nos braços da volúvel Christine. Imagine quem quiser o que terá passado pela mente da directora-geral naquela noite de pesadelo. 

Nos dias seguintes, Tsipras torceu-se e distorceu-se em argumentos que esbarraram contra a intransigência dos outros 1+17 e a rispidez altiva da srª. Lagarde. Irado, chamou-lhes criminosos, foi plebiscitado pelo seu povo, e acabou por aceitar a pior de todas as propostas, perdendo, naturalmente, por 18 a 1. Que, também naturalmente, não vai ser cumprida.

Hoje, com os bancos gregos fechados talvez por mais um mês, soube-se que, vd. aqui, o FMI da previsível na imprevisibilidade Christine Lagarde critica e ameaça não participar no terceito resgate da Grécia nos termos em que foram impostos pela arrasante maioria dos membros da zona euro, e nomeadamente por tal acordo não incluir uma substancial redução da dívida grega.  Precisamente o ponto mais relevante porque se bateu Tsipras e que foi liminarente refutado pela srª. Merkel, ouvido o sr. Schäuble, e que mereceu a aprovação adormecida a altas horas da noite de todos os outros 17. 

Como Tsipras tentou que o FMI não fizesse parte deste terceiro resgate, Christine promete fazer-lhe a vontade e deixá-lo agora com água a crescer-lhe na boca.

Tuesday, July 14, 2015

INFINDÁVEL CRÉDITO IMORAL


- Pelos vistos, muitos querem repor novo desbragamento a custo do contribuinte e de mais endividamento, para voltar a uma crise ainda maior.  - cf. aqui.
- As políticas de esbanjamento, nunca terminarão enquanto aos políticos ávidos de votos aparecerem banqueiros, ávidos de comissões, oferecendo empréstimos sob garantia dos impostos pagos pelos contribuintes.

Monday, July 13, 2015

UNIÃO DAS CEGONHAS

clicar para ampliar












Ao quilómetro 5 da AE 17, acampam por uns dias e por esta altura do ano, e sempre no mesmo local, umas duas centenas de cegonhas. Na segunda fotografia, uma pequena parte do bando levantou voo curto, provavelmente incomodada com a presença do intruso com câmara no telemóvel.

Explicação do fenómeno, segundo especialista no assunto: 

Creio que se trata de uma concentração ( )antes da migração para África. De facto não é um fenómeno muito conhecido no caso das cegonhas, mas outras espécies têm este comportamento de congregação antes da migração (e.g. andorinhas).

As cegonhas brancas têm mudado a sua distribuição em Portugal nos últimos anos e tem colonizado áreas mais a Norte no nosso país. Actualmente são vistas bastantes na região de Aveiro quando eram raras há menos de 20 anos atrás. As cegonhas são coloniais e sociais, assim antes da migração juntam-se em bandos. Acho que é isto que se está a passar aqui. Porque escolhem esta área e não outra não sei explicar, pode estar relacionado com comida ou por ser um sítio seguro, com pouca perturbação.

Até agora com os dados dos nossos logger não conseguimos mostrar este tipo de comportamento, teriamos de ter muitas cegonhas marcadas para conseguir mostrar que indivíduos de grupos diferentes se juntam antes de migrarem. Sabemos que fazem isto no Sul de Espanha antes de atravessarem o estreito de Gibraltar, congregam-se milhares de cegonhas à espera das condições ideais para migrarem.

ESTA NOITE COMEÇOU O FIM DA UNIÃO EUROPEIA


Donald Tusk @eucopresident

EuroSummit has unanimously reached agreement. All ready to go for ESM programme for with serious reforms & financial support.

Após 17 horas de discussões os chefes de Estado e de Governo chegaram a acordo por unanimidade, segundo as notícias desta manhã. 
Tsipras aceitou subscrever um acordo que, muito provavelmente, não vai conseguir fazer cumprir, mesmo que tivesse todo o tempo para isso, e algumas das medidas impostas pelos seus parceiros europeus terão de ser adoptadas já esta semana. 

A União Europeia iniciou esta noite a viagem de retrocesso ao ponto de partida.
Tanto melhor, dirão muitos, que ignoram ou fazem por ignorar as razões pelas quais a União começou a sua lenta viagem há quase 60 anos atrás.
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Correl. - Depois do acordo o desacordo

Habermas ataca Angela Merkel
Jürgen Habermas, uma das referências intelectuais da construção europeia, acusou a chanceler Angela Merkel de “desbaratar” os esforços das gerações anteriores na reabilitação da imagem da Alemanha no pós-guerra, ao adoptar uma atitude dura para com a Grécia. Segundo o The Guardian, o filosofo alemão considerou que Merkel levou mesmo a cabo “um acto de punição” contra o Governo de Tsipras. “Temo que o Governo alemão, incluindo os sociais- democratas, tenha desbarata- do numa noite todo o capital político que uma Alemanha melhor acumulou em meio século”, disse ainda Jürgen Habermas. 
in Público de 17/07/2015

Sunday, July 12, 2015

O SR. SCHÄUBLE E O MEU AMIGO FRANCISCO

O meu Amigo Francisco é sócio de uma PME que monta portas e janelas. 
Deve dizer-se, desde já, a quem ler estes apontamentos que o Francisco existe, chama-se Francisco, a PME ainda existe, e continua a montar algumas portas e janelas.
A PME do Francisco tinha, entre outros clientes, uma Construtora com notável nome na praça, querendo com isto dizer-se que este cliente do Francisco era uma empresa muito grande e respeitável.
Veio a crise, e a Construtora na data do vencimento de uma factura da PME não mandou cheque para pagamento mas uma letra aceite. O Francisco, necessitando, além do mais, de pagar ao pessoal, descontou a letra no banco, igualmente respeitável.
Na data do vencimento da letra, a Construtora não pagou, a letra foi devolvida pelo banco, e a conta do sacador da letra, i.e., a PME, debitada.

Mais ou menos pela mesma altura, soube-se que a Grécia, e não só, estava ameaçada de bancarrota porque fornecedores alemães, franceses, holandeses e mais uns quantos, tinham vendido fragatas, um aeroporto novinho em folha, e mais um sem número de outras coisas, com contratos descontados pelos fornecedores junto de bancos locais, e não só. Além disso, os tais bancos (entre os quais alguns portugueses) tinham investido em compra de dívida soberana grega, cobrando juros, aliciantes, que o mercado ditava. 

No momento em que escrevo este apontamento ainda ninguém sabe o que vai o sr. Schäuble (ou a srª. Merkel, para o caso tanto faz) diktar hoje sobre o futuro da Grécia e, muito provavelmente, da Europa.
Por quê?
O sr. Schäuble, que se saiba, não foi ouvido nem achado nas vendas feitas por fornecedores alemães, franceses, holandeses, e etc., aos gregos. Nem que tenha sido chamado a pronunciar-se sobre as compras que banqueiros alemães, portugueses, e etc., fizeram de dívida soberana grega. A que propósito, então, está o sr. Schäuble, e os seus acólitos, metido nesta embrulhada que ameaça destruir a União Europeia e colocar os europeus à beira de mais uma guerra após um invulgar período de setenta anos de quase paz no Velho Continente?
Foi fornecedor dos gregos? Que se saiba, não foi.
Comissionista?Não consta.
Foi banqueiro? Não foi.
O que foi, então, o sr. Schäuble para nos meter a todos nesta encrenca?
Inscreveu, sem consulta prévia, os contribuintes alemães, franceses, e etc., como avalistas dos empréstimos concedidos pelos bancos do seu país, e etc. à Grécia, a Portugal, e etc.

Uma inscrição que omite, além de milhões de outras omissões, a dívida da falida Construtora portuguesa à PME do meu Amigo Francisco. Que não é grega, mas poderia ser.

Saturday, July 11, 2015

SE O PRÓXIMO GOVERNO FOR PS

Ouço nomes anunciados pelo secretário-geral do PS para ocuparem os primeiros lugares de candidatos às próximas legislativas em alguns distritos - Alexandre Quintanilha no Porto, Manuel Caldeira Cabral em Braga, Helena Freitas em Coimbra - e outros em lugares elegíveis -  Mário Centeno, Trigo Pereira, Tiago Rodrigues -, académicos não filiados, e parece-me improvável que algum destes tenha sido movido pela tentação de se sentar na Asssembleia da República e, a partir dali, contribuir para a nossa felicidade colectiva.

Também não me parece que o candidato ao lugar de primeiro-ministro tenha convidado gente altamente qualificada, não comprometida até agora com vínculos partidários, esperando deles intervenções parlamentares que possam impressionar favoravelmente os eleitores porque, naturalmente, não poderão convencer os adversários.

E destes pressupostos retiro que este conjunto de individualidades integrará o próximo executivo se for o actual secretário-geral do PS a presidi-lo. E ainda bem se assim for: independentemente da valia técnica dos membros do próximo (de qualquer) governo é de aplaudir que as suas funções estejam sustentadas numa base política que só o voto popular concede. A situação inversa - entrarem independentes como membros do governo, aderindo posteriormente ao partido que os convidou -,  observada com alguma frequência no passado, não honra os cargos nem os titulares que os ocupam sem respaldo democrático.

A AR é apenas um palco para discursos, geralmente inconsequentes, escritos ou preparados fora dos seus muros.

Friday, July 10, 2015

MERCENÁRIOS E RICALHAÇOS

O mercado de compra e venda de vedetas do futebol enche os noticiários destes dias de fim de época. A unidade de conta são os milhões, atingindo os contratos geralmente as dezenas de milhões. Valores astronómicos que não espantam minimamente aqueles que nem durante várias vidas de trabalho conseguiriam levar para casa aquilo que estes seus deuses embolsam com contratos de três ou quatro épocas ao seviço de quem melhor lhes paga. 

Por cá, o caso mais mediático é agora a transferência de um ex-glorioso guarda redes em fim de carreira de Madrid para o Porto, viajando a estrela decadente entre as duas capitais ibéricas em avião a jacto particular. Um pequeno percalço, soube-se esta manhã, parece estar a empecilhar a vinda da vedeta: os impostos.

Segundo o que aqui se relata o jogador em transacção não quer perder as vantagens fiscais concedidas aos futebolistas no seu país. Pelos honorários cobrados em Portugal terá de pagar cerca de 56,5%, em Espanha só paga 20%. A solução para a diferença está à vista: mantem o contrato com Madrid enquanto se exibe no Porto, pagando o Porto o valor contratado a Madrid, entregando Madrid 20% de IRS à Hacienda espanhola,  ficando as Finanças portuguesas a vê-lo voar de jacto. Sobram ainda as (aparentes) diferenças fiscais para os futebolistas entre um país e outro relativamente às contribuições para a segurança social e os impostos sobre os direitos de imagem. Tudo resumido, o contrato de cedência funcionaria se não fosse demasiado oneroso para o Porto ou para Madrid, consoante o valor fixado. Talvez fique solucionado a meio caminho, a contento das três partes e de milhares de fanáticos que de um lado lhe dirão adeus porque já lá não tem lugar e do outro o ovacionarão como se fosse filho da casa. 

Assim vai o reino da bola,  e nós, os que pagamos impostos sem subterfúgios, a vê-los passar em jactos particulares.

Thursday, July 09, 2015

LA DONNA È MOBILE

Dona Christine Lagarde tem dias. 
As notícias desta manhã dão conta que a directora-geral do FMI declarou ontem que a dívida da Grécia tem de ser reestrurada e que os gregos precisam de mais 50 biliões de euros para se desatascarem e levantarem a cabeça. 
Espantoso?

Um pouco, mas não tanto assim.
Sua Excelência tem vindo ao longo do seu mandato a dar provas de ter a cabeça mal arrumada: umas vezes bate-se por medidas de políticas austeridade, depois afirma que essas medidas foram longe de mais e não resultaram, depois volta a insistir que sem mais medidas de austeridade não há mais apoio do FMI, recentemente avisou a Grécia de que ou pagava no dia 30 de Junho os 1,5 milhões devidos nesse dia ou cortava-lhe a coleta. 
Nunca se tinha visto nada assim: um país, dito desenvolvido, não pagou mesmo. 

Dias depois, foi publicado um relatório do FMI, - vd. aqui -, que os países da Zona Euro quiseram bloquear- vd. aqui -, que reconhecia, além do mais, que a dívida grega requer uma reestruturação e o sistema financeiro grego uma injecção de 50 milhões de euros. Tal e qual o que a srª. Lagarde disse ontem, sendo certo que quando ainda dizia o contrário o relatório já lhe tinha sido distribuido. 

É a senhora Lagarde volátil por conta própria? Duvida-se. Desde logo porque as contradições entre relatórios do FMI e as declarações e imposições dos seus técnicos integrados na troica são frequentes. Depois porque Madame Lagarde deve ter recebido indicações para olhar para o mapa e perceber onde se situa a Grécia.

A rematar as suas declarações, Christine Lagarde fez questão de esclarecer que as medidas de excepção aplicáveis à Grécia não podem ser estendidas aos outros países intervencionados, i.e., Portugal e a Irlanda.

O que dirá o primeiro-ministro de Portugal a isto?
E o candidato ao lugar?



Monday, July 06, 2015

PERDIDOS POR DEZ, PERDIDOS POR MIL

"Em três ou quatro apressados dias, transferiu para o povo a responsabilidade da decisão. Mas não contou aos gregos como lhes vai pagar os ordenados, aprovisionar as farmácias e as mercearias." - cf.  aqui.

A previsão de que a Grécia vai atravessar dias de grande calamidade, a juntar aqueles que já experimentou, tem alta probabilidade de acontecer. 

Tsipras chegou ao poder prometendo muito que não poderia vir a cumprir. Nisso não se distingue da generalidade dos políticos, exemplos desses abundam também por cá, e por toda a parte . E, é sabido, as promessas são tanto mais atraentes quanto mais os crentes estão aflitos. Ora os gregos tinham sido apanhados na ratoeira de uma dívida externa que os esmagava e continua a esmagar, uma situação que o último relatório do FMI atesta.

A história já foi contada vezes incontáveis: os bancos, ou investidores através deles, emprestaram aos bancos fundos em volumes completamente desproporcionados com as capacidades de pagamento da economia grega. São os gregos vítimas inocentes desta armadilha sinistra? Não todos: há muitos coniventes, activos ou passivos, geralmente gente bem instalada na vida.

Apesar da ténue recuperação da economia observada em 2014, os gregos rejeitaram nas eleições de alguns meses atrás a continuidade da liderança política daqueles que os tinham metido num beco sem saída. E, em desespero de causa, atiraram-se para os braços do vendedor de promessas. Acontece fequentemente, é assim que as democracias sossobram e os demagogos são idolatrados.

Tendo Tsipras prometido o que não pôde conseguir nas negociações em Bruxelas e etc., não tinha mais alternativas senão voltar a Atenas e perguntar ao povo que o tinha elegido o que queria o povo, ou demitir-se. Escolheu a primeira e o povo disse que não, que não aceita as condições impostas pelas instituições europeias e pelo FMI.

Votaram os gregos na ignorância do que vai acontecer a partir de hoje? De modo algum. Se há conhecimento adquirido pelos gregos, por todos, ao longo destes últimos anos, o mais intenso será certamente o das consequências da ruptura social, económica e financeira. Eles votaram à vista de filas de gente em frente às máquinas ATM e os bancos encerrados há dias.

E, agora?
Agora não sei, quem sabe?, o que irá acontecer.
Mas suponho que a União Europeia irá mudar radicalmente a partir de hoje.
Repito-me: A União Europeia é insustentável sem uma moeda comum. E uma moeda comum é insustentável sem uma federação política dos seus membros. Soberania e democracia (numa zona económica e monetária) são destrutivamente conflituantes se não se reunirem no mesmo espaço político.

Se a Europa apreender e aproveitar de vez o resultado de ontem em Atenas, o contributo de Tsipras não deve ser vilipendiado.

Varoufakis demitiu-se, ou foi aconselhado a isso, para faclitar o diálogo em mais uma maratona de negociações. É esse o geral entendimento de analistas dos mais insuspeitos quadrantes de serem alinhados com a esquerda: Financial Times, Economist, entre outros.
Parece-me pouco pertinente ( ) considerá-lo cobarde e incompetente.

( ) Colocar Tsipras e Varoufakis como principais responsáveis da tragédia grega, quando é claríssimo que a tragédia já tinha atingido o clímax quando eles entraram em cena por repúdio da plateia dos actores que lá tinham estado antes,  é muito excessivo. Os grandes responsáveis pelas diversas tragédias que se desenrolam de tempos a tempos em vários pontos deste mundo são os banqueiros.

Sim, os banqueiros.
Foram eles que, movidos pela ganância, emprestaram muito para além das possibilidades de reembolso aos credores.
E os gregos?

Os gregos são inacreditáveis?
Os gregos são impostores?
Os gregos são intratáveis?
Os gregos são chantagistas?
Os gregos são tudo isso e muito pior?

Admitamos que sim.
Então por que lhe emprestaram os banqueiros tanto dinheiro conhecendo-lhes a falta de carácter?

Sabe-se bem porquê:
Se uma empresa vende mercadoria a um cliente sem analisar o risco que corre, isto é, a capacidade do devedor pagar o que deve, o que acontece se o cliente não paga? O fornecedor incauto tem de registar na sua contabilidade um "incobrável", uma perda, portanto.

O que é aconteceu aos bancos que emprestaram aos gregos (e aos portugueses ... e a tantos outros, agora e no passado), as dívidas a esses bancos foram assumidas pelo FMI e pelo BCE na sua quase totalidade, isto é, foram colocados às costas dos contribuintes.

Não é isto verdade?

( ) Acusar Tsipras de companhia de terem prometido o impossível para se alcandorarem ao poder, é pertinente.
E os nossos governantes, o que fizeram para alcançar o poder?
Falaram verdade?
As desonestidades de uns não justificam as de outros mas é sempre mais higiénico não acusarmos alguém de pouca limpeza com os nossos dedos sujos.

(colocado aqui)

Sunday, July 05, 2015

O JOGO DA CABRA CEGA

O diretor-geral da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) para o futebol do FC Porto e vice-presidente do clube,  ( ) constituído arguido no processo que tem no centro a empresa SPDE, que fazia segurança nos jogos de futebol do clube. ( ) 14 dos 16 arguidos neste processo foram presentes a juiz... ficaram em prisão preventiva, excepto um, ... O processo tem no centro ... seguranças ilegais que gravitam à sua volta em alegados esquemas de extorsão e domínio do território na noite. Em causa, ( ), estão "atividades ilícitas no âmbito de empresa de segurança em estabelecimentos de diversão noturna, suscetíveis de integrar a prática de crimes de associação criminosa, segurança privada ilegal, coação, extorsão e ofensas à integridade física". - cf. aqui

A progressão das actividades de empresas privadas de segurança não pode senão, por força das leis do mercado, incentivar a progressão do crescimento de criminosos, e é um exemplo das consequências perversas da demissão das responsabilidades do Estado.

Estes, que ontem foram ontem colocados em prisão preventiva, considerando os níveis habituais de eficácia do Ministério Público, serão soltos dentro de pouco tempo e os crimes, de que são agora acusados, não provados ou prescritos mais tarde.



 Correl .- Acerca da eficácia do MP veja-se aqui mais um exemplo. 


Saturday, July 04, 2015

POR QUE NÃO TE VESTES TU?

diz o roto ao nu.

Há muita gente entre nós que aponta o dedo acusador aos gregos como se vivesse num país de elevado grau de cumprimento cívico. O que, lamentavelmente, não é confirmado por relatórios de avaliação dos índices de corrupção. 

"Os investidores e observadores estrangeiros continuam a ver Portugal como um dos países com mais corrupção na Europa. É esse o resultado do último barómetro da Transparência Internacional com o Índice de Percepção da Corrupção."- aqui, p. e.

Por outro lado, só ignora quem quer, o cumprimento das obrigações fiscais ainda é geralmente considerado em Portugal uma inevitabilidade ou uma mania que atinge sobretudo os tansos fiscais.
Olhando a escada do sucesso político ou empresarial, só não vê quem não quer ver a sucessão de escândalos financeiros protagonizados por gente fina ou afinada. 
Do lado empresarial, entre muitos outros, Ricardo Salgado e companhia, Oliveira e Costa e a sua trupe, Jardim Gonçalves e a sua roda de inocentes, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, constituem só por si um conjunto com peso bastante para colocarem Portugal em lugar cimeiro de um ranking de imoralidade grandiosa.
Do lado político,o ex-primeiro ministro está em prisão preventiva (erradamente, talvez), o actual embrulhou-se em actividades empresariais dúbias e não cumpriu, por esquecimento ou falta de dinheiro, as suas obrigações fiscais em tempo devido.

Escrevo este apontamento a propósito da intervenção da srª. Fátima Bonifácio num programa televisivo ontem à noite. Garantia, afogueada, a historiadora que os gregos (por idiossincrasia) não cumprem as suas obrigações fiscais nem aceitam regras que lhes imponham esse cumprimento. E que, se a posição geográfica da Grécia é (ainda) muito relevante do ponto de vista militar deve a Europa rever as linhas por onde deve passar a sua defesa estratégica.

É a opinião da srª. Fátima Bonifácio assim tão importante que me imponha perder tempo com ela? Só é na medida em que ela resume a opinião de todos aqueles, e que são muitos, que  querem convencer-nos que os gregos andam por lá escandalosamente nus e por cá todos nós bem vestidinhos, graças ao bom Deus.

Thursday, July 02, 2015

POR 1,6 MILHÕES DE EUROS

The Cadet and his Sister (1988)
Paula Rego

Vendido ontem em Londres por 1,6 milhões de euros, um novo recorde da artista.

Wednesday, July 01, 2015

E JESUS, QUANTO PAGA DE IMPOSTOS?

O tema dos noticiários desta tarde já não foi dominado pelo sai-não-sai da Grécia mas pela apresentação de Jesus no Estádio do Sporting aos seus novos adoradores. O homem, ao que parece, faz milagres e os próximos quatro campeonatos, além das diversas taças, já estão no papo do Leão. Para tanta louça dezasseis (ou dezoito milhões?) de euros são peanuts. De onde vem a massa para o investimento é questão só parece preocupar a irrequieta Ana Gomes.

Há dias, num almoço semanal onde é costume discutirem-se e resolverem-se os problemas do sítio e arredores, veio para a mesa a fuga aos impostos através da utilização de empresas estabelecidas no estrangeiro. O tema é velho e conhecido: as operações de importação e exportação permitem a sobrefacturação num caso e a subfacturação no outro, gerando margens que serão arrecadadas para quem por ordem de quem manda no negócio. E esta habilidade antiga, que indignava quase todos os comensais, arriscava-se a ficar por ali, numa quase unanimidade frustante, quando alguém provocou o parceiro do lado, um benfiquista impenitente:

- E Jesus, o salvador do Benfica, agora pronto para salvar o Sporting por uma bagatela de dezasseis milhões, quanto pagará de impostos?
- Se calhar paga pouco ou não paga mesmo nada. Os dezasseis milhões devem ser líquidos de impostos.
- E isso é legalmente possível?
- Será se o treinador for uma empresa estabelecida no estrangeiro.
- O treinador é uma empresa?
- Pode ser. Até porque com ele trabalham outros.
- Todos da mesma empresa... não pagam IRS, ... pagam IRC que sai mais em conta, ... Não sei
- Talvez ...
- Já era assim no Benfica?
- No glorioso somos de boas contas.
- O Vale e Azevedo era do Sporting!
- Era do Benfica. Portou-se mal, está preso, para amostra.

Voltou a discussão à mesa e a questão acabou irresolvida por prescrição do prazo do almoço e após longo prolongamento sem que ninguém soubesse onde e quanto paga o Jesus de impostos pela pipa
de massa que factura. O mais certo é não pagar nada.
Ele e tantos outros, ídolos de mais uma religião quase isenta de impostos.