O meu Amigo Francisco é sócio de uma PME que monta portas e janelas.
Deve dizer-se, desde já, a quem ler estes apontamentos que o Francisco existe, chama-se Francisco, a PME ainda existe, e continua a montar algumas portas e janelas.
A PME do Francisco tinha, entre outros clientes, uma Construtora com notável nome na praça, querendo com isto dizer-se que este cliente do Francisco era uma empresa muito grande e respeitável.
Veio a crise, e a Construtora na data do vencimento de uma factura da PME não mandou cheque para pagamento mas uma letra aceite. O Francisco, necessitando, além do mais, de pagar ao pessoal, descontou a letra no banco, igualmente respeitável.
Na data do vencimento da letra, a Construtora não pagou, a letra foi devolvida pelo banco, e a conta do sacador da letra, i.e., a PME, debitada.
Mais ou menos pela mesma altura, soube-se que a Grécia, e não só, estava ameaçada de bancarrota porque fornecedores alemães, franceses, holandeses e mais uns quantos, tinham vendido fragatas, um aeroporto novinho em folha, e mais um sem número de outras coisas, com contratos descontados pelos fornecedores junto de bancos locais, e não só. Além disso, os tais bancos (entre os quais alguns portugueses) tinham investido em compra de dívida soberana grega, cobrando juros, aliciantes, que o mercado ditava.
No momento em que escrevo este apontamento ainda ninguém sabe o que vai o sr. Schäuble (ou a srª. Merkel, para o caso tanto faz) diktar hoje sobre o futuro da Grécia e, muito provavelmente, da Europa.
Por quê?
O sr. Schäuble, que se saiba, não foi ouvido nem achado nas vendas feitas por fornecedores alemães, franceses, holandeses, e etc., aos gregos. Nem que tenha sido chamado a pronunciar-se sobre as compras que banqueiros alemães, portugueses, e etc., fizeram de dívida soberana grega. A que propósito, então, está o sr. Schäuble, e os seus acólitos, metido nesta embrulhada que ameaça destruir a União Europeia e colocar os europeus à beira de mais uma guerra após um invulgar período de setenta anos de quase paz no Velho Continente?
Foi fornecedor dos gregos? Que se saiba, não foi.
Comissionista?Não consta.
Foi banqueiro? Não foi.
O que foi, então, o sr. Schäuble para nos meter a todos nesta encrenca?
Inscreveu, sem consulta prévia, os contribuintes alemães, franceses, e etc., como avalistas dos empréstimos concedidos pelos bancos do seu país, e etc. à Grécia, a Portugal, e etc.
Uma inscrição que omite, além de milhões de outras omissões, a dívida da falida Construtora portuguesa à PME do meu Amigo Francisco. Que não é grega, mas poderia ser.
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