O sr. Passos Coelho considerou ontem, vd. aqui, que "a Caixa já devia estar
a gerar capital para devolver a ajuda estatal recebida há três anos. O
banco, que não comenta, tem vendido activos, mas não usou esse dinheiro
para pagar ao Estado. Teve prejuízos para absorver. A "preocupação" do primeiro-ministro
relativamente à Caixa Geral de Depósitos prende-se com os 900 milhões de
euros recebidos em 2012 através de instrumentos híbridos, os chamados
"CoCos".
Recorde-se, vd. aqui, que a recapitalização da Caixa, em Junho de 2012, envolveu, para além do empréstimo do Estado de 900 milhões de euros, o aumento do capital através do accionista único, o Estado, em 750 milhões de euros. Até agora, pelos vistos, a Caixa não reembolsou um cêntimo deste empréstimo.
Que pretende o sr. Passos Coelho com esta declaração de preocupações pública?
Intimar o sr. José Agostinho Martins de Matos a cumprir o contrato, procedendo de modo simetricamente idêntico ao da Caixa enquanto credor? É improvável: O governo (este ou outro qualquer) enquanto feitor do accionista único da Caixa não a pode colocar sob penhora.
Por outro lado, é também improvável, que o sr. Passos Coelho, ou a sua ministra das Finanças, não tenham feito chegar, em tempo oportuno, junto do sr. José de Matos o seu desagrado pelo incumprimento da instituição a que ele preside. Improvável é ainda que o sr. José de Matos não tenha informado o sr. Passos Coelho das razões da falta, que, aliás, são conhecidas, e se tenha fechado em copas.
Daqui, tem de inferir-se que o sr. Passos Coelho, com as suas declarações de ontem, pretende uma de duas coisas ou as duas ao mesmo tempo: preparar a opinião pública para a privatização, ainda que parcial da Caixa - que já deveria ter ocorrido há bastante tempo - ou demitir com pública justa causa o sr. José de Matos, ou demitir José de Matos e avançar para a privatização com outro homem ao leme do batelão.
O PS veio imediatamente a público dizer quase isto mesmo mas com o intuito de mobilizar a opinião pública em sentido contrário. Acontece que, neste caso, o PS tem rabos de palha que o fazem tropeçar nos argumentos. A Caixa nunca foi a instituição de crédito exemplar que a sua condição de banco público lhe impunha. E, mais recentemente, é difícil fazer esquecer aos portugueses as embrulhadas perversas em que a administração presidida pelo sr. Carlos Ferreira, acolitado pelo sr. Armando Vara, envolveu a CGD. Dito de outro modo: Os argumentos do sr. Passos Coelho, a confimarem-se as suas intenções de privatizar a Caixa, sustentam-se em grande parte nas perdas provocadas pela gestão socialista.
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