Thursday, July 08, 2010

SUMIDADES SERÔDIAS

Sampaio, Freitas do Amaral (em entrevista ao Expresso) e Proença de Carvalho (vd aqui) disseram, recentemente, basicamente o mesmo o que tenho apontado neste caderno* desde há muito tempo já : a ultrapassagem das dificuldades que o País enfrenta só pode ser atingida por um governo da mais ampla representatividade política possível (e o PR, segundo Proença, deveria ter uma posição activa na promoção da constituição desse governo). Proença de Carvalho, que foi apoiante do actual PR em 2006, foi, aliás, muito contundente nas críticas que fez à passividade do PR no meio de uma situação que o próprio PR considera insustentável.

A severidade de Proença de Carvalho relativamente ao PR não deixa, contudo, de ser intrigante. 
Proença de Carvalho é advogado do PM em alguns processos em que o PM, de algum modo, esteve ou ainda está envolvido. Ora, sem descartar as responsabilidades do PR, o PM não pode ser considerado inocente do processo político que o fez nomear chefe de um governo minoritário numa conjuntura extremamente crítica. Antes, pelo contrário, a sua responsabilidade é máxima uma vez que o PR pode sempre argumentar que a Constituição não lhe consente ir mais longe.

Porque é que Proença de Carvalho critica o PR e se esquece das responsabilidades do PM neste processo? Porque é seu advogado?  

Por outro lado, Sampaio, sem envolver explicitamente o PR, embrulha a sua posição num papel muito ao seu estilo: diz o que deve ser feito mas não diz quem tem a responsabilidade de tomar a iniciativa. Sendo Sampaio uma glória do partido secretariado pelo PM, é intrigante que Sampaio não tenha, até agora, conseguido convencer o seu camarada a arrepiar caminho. A menos que advogue, ao lado de Proença de Carvalho, que o PR tem poderes que o actual PR desconhece.

Quanto a Freitas do Amaral, que apoia o PR, também fica pela sugestão sem dizer como é que ela se pode concretizar nem responsabilizar o PM, de quem foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, pela sua obcecada autosuficiência.

Mas, para além deste ramalhete de circunlóquios sobra uma dúvida primordial: Por que é que só agora começam a acordar as sumidades, quando a janela, para onde o PR poderia constitucionalmente intervir, está a fechar?

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