Friday, May 01, 2015

DISCRIMINAÇÃO FISCAL

À entrada o aviso é discreto, mas está lá, de forma gráfica.

O JB entrou com os convidados, clientes, seis pessoas ao todo, e não reparou nele. Tinham-lhe recomendado o restaurante, e, valha a verdade, tinham jantado bastante bem.  Veio a conta e JB juntou-lhe o cartão de crédito. Discretamente, o empregado sussurrou-lhe que não ali não aceitavam cartões de crédito, só dinheiro. JB olhou à volta, estava a casa cheia, a maior parte com cara de turista estrangeiro. Na carteira, JB tinha cerca de cem euros, nunca anda com muito mais no bolso, e a conta subira para 500 paus, depois de arredondada a conta com uma gratificação generosa. E, agora? 

Disse-lhe o empregado que havia multibanco ao virar da esquina, coisa que se fazia em cinco minutos, ida e volta. JB, pediu desculpa aos convidados, dando a entender que se ausentava para ir à casa de banho, e saiu porta fora em busca dos 500 euros em falta. Cartão entrado na respectiva ranhura, saltitou-lhe no visor o boneco do costume, marque o código, aguarde, e ... dirija-se ao multibanco mais próximo, não havia fundos na máquina. Olhou JB angustiado outra vez à volta, não vislumbrou multibanco nas proximidades visíveis, como é que uma coisa destas pode ocorrer numa cidade que em cada canto tem um multibanco?

E como pode um sujeito sair duma destas com cinco clientes convidados à espera dele, a conta por pagar na mesa? Voltou ao restaurante, falou com o empregado, pediu para falar com o patrão ou encarregado do negócio. Argumentou o que podia argumentar, nunca lhe tinha passado pela cabeça que num restaurante de tanta categoria a conta tinha de ser paga em notas do BCE. Finalmente, ao fim de um tempo de enervamento, resultou: muito a custo aceitaram-lhe um cheque. E a factura?

- O senhor precisa mesmo de factura?
- Preciso, pois preciso. Para as contas da empresa.

Visivelmente contrariado, o patrão manobrou o caixa-computador mas depressa se percebeu que não tinha experiência na matéria. Chamou o encarregado, mas nem o ar confiante deste fez saltar o papel que JB precisava, enquanto os convidados continuavam especados e intrigados com a demora.

- Temos o computador avariado, desculpou-se o encarregado. Deixe-nos a sua morada e podemos enviar-lhe a factura pelo correio. 
- Muito bem. Com o restaurante cheio, vai ter muitos problemas esta noite, não?
- Nem por isso. Para que querem os estrangeiros as nossas facturas? Aqui, a nossa clientela é mais turista estrangeiro.
- Já entendi. Cada cliente português é um problema para vocês...
- De modo nenhum. Temos é alguma dificuldade em lidar com o computador.

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