E. Catroga reafirma em artigo publicado ontem no Diário Económico - Cinco grandes desafios para a economia portuguesa - as políticas que em outras intervenções públicas considera fundamentais para a continuação da recuperação económica e financeira dos últimos (subentenda-se quatro) anos.
Dos cinco desafios destaco dois - o equilíbrio das contas externas (o único indiscutível objectivo alcançado pelo governo anterior) e a criação de condições para o reforço da tendência da melhoria da poupança nacional bruta (famílias, empresas e o Estado - por se estabelecer entre eles um trade-off que não foi contrariado pelo governo anterior e nada perspectiva que venha a ser considerado pelo actual governo.
O reequilíbrio das contas externas alcançado pelo governo anterior foi óbvia consequência 1) da redução do poder de compra dos portugueses, sobretudo através da redução de salários da função pública e das pensões de reforma, e do aumento de impostos 2) do ocasional aumento da poupança das famílias provocado pelo receios insuflados pelo ambiente pós-espoletar da crise.
A contribuição do aumento das exportações (muito influenciado pela entrada em funcionamento da nova refinaria da Galp) não é, razoavalmente, creditável a qualquer medida do anterior governo nesse sentido, decorrendo antes de uma reacção (notável, aliás) de produtores portugueses à contracção da procura interna.
À medida que o ambiente de crise se desanuviou retomaram-se gradualmente os hábitos de consumo e alguma recuperação dos salários e pensões começaram a aproximar os saldos das contas externas do seu comportamento normal atavicamente negativo. Porquê?
Era, e continua a ser, inevitável aquele trade-off?
O actual governo ao repor parte dos rendimentos cassados pelo governo anterior vai, inevitavelmente, provocar o aumento das importações líquidas (deduzidas as importações destinadas à incorporação nas exportações) e mergulhar o saldo das contas externas no seu meio habitual, negativo. A não ser que sejam criadas melhores condições de captação da poupança nacional, mas não conheço alguma medida que pretenda atingir este objectivo.
Ontem, os certificados de aforro fizeram anos: 55, mas já não atraem os pequenos aforradores*. A taxa está agora em torno de 0,9%. Quanto aos depósitos à ordem, há taxas sensívelmente acima oferecidas por bancos a denunciar dificuldades de captação de fundos a custos inferiores. Foi do aproveitamento destas taxas que acabaram por beneficiar os depositantes dos bancos falidos posteriormente resgatados com os impostos pagos pelos tansos fiscais, continuando impunes os culpados.
E há as aplicações em fundos de investimentos, dizem-nos os seus gestores garantindo-nos que desta vez é diferente. E há quem acredite. E há quem seja bem sucedido. Mas, para onde vai o dinheiro aplicado nos famigerados fundos? É aplicado em fundos estrangeiros, portanto exportado. Concorre para o aumento da poupança bruta sem quase qualquer reflexo positivo na poupança líquida.
Por outro lado um "novo impulso do mercado de capitais", depois dos sucessivos assaltos banqueiros de que foi alvo nos últimos tempos, se o português responder a uma eventual chamada tenho de concluir que há mesmo uma perda geral de memória em Portugal.
Reconheça-se que tem mostrado muitos sintomas disso, ultimamente.
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Correl . -* Peso dos certificados na dívida de Portugal caiu para metade em 17 anos
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Correl . -* Peso dos certificados na dívida de Portugal caiu para metade em 17 anos